Segundo polícia da capital, mais de 820 mil pessoas se reuniram em Santiago; marchas foram registradas em várias cidades do país
Milhões de manifestantes foram às ruas em diversas cidades do Chile nesta sexta-feira (25/10) para protestar contra o governo neoliberal do presidente Sebastián Piñera no 8º dia consecutivo de protestos desde o aumento nas tarifas do metrô de Santiago no último domingo. Movimentos populares, sindicatos, partidos políticos e alguns veículos da imprensa chilena já classificam o ato de hoje como “a maior marcha do Chile”.
Segundo a polícia da capital, mais de 820 mil pessoas se concentraram na Plaza Baquedano, região central de Santiago. A concentração na cidade começou às 12h na Plaza Los Héroes, de onde os manifestantes marcharam até a Plaza Itália. Houve concentrações em outros pontos como em frente ao Palácio La Moneda, sede do governo.
Ainda em Santiago, manifestante carregavam faixas e bandeiras com os dizeres “Chile despertou” e “Não estamos em guerra”, em referência à fala de Piñera na última segunda-feira (21/10). Apresentações musicais também aconteceram em vários pontos da cidade onde entoaram canções de artistas históricos chilenos como Victor Jara (assassinado pela ditadura de Pinochet), Inti Illimani e Quilapayún.
Segundo o jornal La Tercera, a avenida Libertador O’Higgins, conhecida como Alameda, ficou fechada em quase toda sua totalidade. Outros manifestantes marcharam desde Viña del Mar até Valparaíso, bloqueando estradas, carregando cartazes e bandeiras chilenas e da etnia indígena Mapuche.
Chile hoy vive una jornada histórica. La RM es protagonista de una pacífica marcha de cerca de 1 millón de personas que representan el sueño de un Chile nuevo, de forma transversal sin distinción. Más diálogo y marchas pacíficas requiere nuestro país ❤! #ArribaStgo? #RMdeTodos pic.twitter.com/RWcLBU67LD
— Karla Rubilar Barahona (@KarlaEnAccion) October 25, 2019
Ainda foi possível ver manifestantes gritando palavras de ordem como “renuncia Piñera”, “saúde digna”, “Assembleia Constituinte” e “Não + AFP”, em referência ao sistema de aposentadorias chileno.
Emissoras de TV e movimentos populares chegaram a comparar o tamanho das manifestações desta sexta-feira com a campanha pelo “No”, durante o plebiscito que colocou fim à ditadura de Augusto Pinochet, em 1988.
Repressão
Entretanto, o governo segue a tática que vem utilizando desde o início dos protestos: mantém o estado de emergência e os militares nas ruas decretando toques de recolher em toda a região metropolitana.
Nesta sexta-feira, Antofagasta, Copiapó, Valparaíso, Rancagua, Concepción, Puerto Montt, Osorno e Santiago terão toque de recoher entre às 23h e às 4h deste sábado (26/10).
Mais cedo, Os carabineros (polícia militar chilena) reprimiram com bombas de gás lacrimogêneo e jatos de água uma manifestação em torno do Congresso Nacional chileno, que fica na cidade de Valparaíso. Segundo o jornal El Mercúrio, um grupo de cerca de 25 manifestantes conseguiu atravessar as grades do edifício, mas foi detido ainda nos jardins do Parlamento e não conseguiu entrar no prédio.
Os parlamentares haviam sido evacuados de maneira preventiva. O presidente da Câmara, Iván Flores, disse que pediu pessoalmente aos que não fossem essenciais para o funcionamento do edifício que saíssem do local.
Este é o oitavo dia de protestos no país. Já foram 19 mortes registradas, com 2.840 pessoas detidas e 295 feridas por armas de fogo. Michelle Bachelet, ex-presidente do Chile e atualmente alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, disse que enviará, na próxima segunda-feira (28/10), uma missão de verificação para acompanhar os conflitos no país e examinar denúncias de violações dos direitos humanos.