Há exatamente dez anos, uma tragédia chocava os alunos da Escola Municipal Expedicionário Aquino de Araújo, localizada no bairro Vila São Luís, em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro. O professor de Educação Física Alberto Ribeiro Vasconcelos foi assassinado, a facadas, por traficantes, na secretaria da escola. Na época, a polícia afirmou que o crime teria sido executado por quem conhecia a rotina do professor. Alberto trabalhava há dezessete anos no colégio e morava a menos de um quilômetro dali. Vivia com seus irmãos e não tinha filhos. Além de professor, ele era auxiliar administrativo na rede municipal de ensino. Dedicou boa parte de sua vida ao que mais gostava de fazer: ser professor. O contato com os alunos extrapolava a sala de aula, tornando-o um amigo e, muitas vezes, um conselheiro.
A escola fica próxima a duas comunidades em que a convivência com a violência e o uso de drogas, faz parte do cotidiano dos alunos. O comércio livre de tais substâncias, nas proximidades do instituto de ensino, fez com que muitos alunos se tornassem dependentes químicos. Após o assassinato brutal do professor Alberto, uma equipe gestora foi montada, comandada pela professora e diretora Naise Martins, que, com o apoio da Secretaria de Assistência Social de Duque de Caxias, começou a pesquisar os jovens usuários envolvidos no mundo das drogas e encaminhá-los à recuperação.
Dentro de sala de aula, a orientação era se aproximar do aluno, já não contava enxergá-lo como um número, mas sim como uma pessoa que precisa de atenção. A relação entre professores e alunos ficou mais dinâmica, por meio de projetos didáticos, que aproximavam pessoas e valorizavam a realidade do estudante. Um dos projetos foi o “Repensando a Negritude”, em que era exaltado o valor das lutas e conquistas dos afro-descendentes. Os trabalhos desenvolvidos saíram da sala de aula e, por meio de um questionário e de conversas com os moradores da comunidade, para melhor compreensão da realidade de cada aluno, começaram a dar resultados, gerando atividades como: festivais de música e poesia, feiras de ciência, atraindo as famílias para o colégio. Toda essa interação coibiu os traficantes que circulavam no local e também se constatou a redução da taxa de evasão.
Atualmente, a diretora Naise Martins não está a frente da direção da escola, mas a fórmula encontrada deu tão certo que, hoje, o projeto continua e deu frutos: outras duas escolas do município, segue a mesma linha.
Dez anos da tragédia não noticiada
- Rio de Janeiro -