A vida de Ariel Sharon se confunde com a história de Israel. É possível entender esse país conhecendo a trajetória do general e ex-primeiro ministro. Não à toa, as opiniões sobre ele alcançam espectro amplo, dos ódios e desprezos mais ácidos de seus inimigos e críticos às paixões e adesões de seus seguidores e admiradores.
Conhecer o perfil de Sharon é a chave, também, para entender o comportamento de Israel como Estado-militar. As estratégias e táticas de Sharon, assim como de seu país, tiveram sempre como fio condutor a lógica beligerante, nunca a lógica política ou diplomática. Sua obsessão por completar a obra de independência do Estado de Israel teve como irmão siamês a permanente disposição em proteger, sob qualquer forma e circunstância, a segurança do país e de suas fronteiras.
Sharon não era um radical religioso, mas um radical nacionalista, embebido no sionismo. Suas convicções, porém, foram sendo dosadas com peculiar pragmatismo, que a muitos desconcertou, em seus últimos anos como primeiro-ministro.
Tendo sido um dos mais convictos defensores dos assentamentos judaicos em territórios reclamados por palestinos, Sharon deu uma guinada inesperada em sua política como chefe de governo, ao retirar unilateralmente todos os assentamentos israelenses na Faixa de Gaza. O mesmo estava previsto para regiões da Cisjordânia, porém o acidente físico que o acometeu em 2006 interrompeu esse processo.
O mundo árabe e muçulmano guarda péssimas lembranças de Sharon, assim como os que apoiam a causa palestina no mundo. Tudo indica que o premiê, em seus últimos anos de governo, moveu-se na direção mais pragmática de garantir um Estado Israelense viável, sem impedir a consolidação do pleito palestino. Num momento em que a paz no Oriente Médio volta a ser prioridade dos EUA, a página incompleta do livro político de Sharon volta a fazer sentido – para garantir um Estado Palestino.