Um videoclipe de rap criticando o governo militar da Tailândia viralizou na internet a despeito das ameaças feitas pelas autoridades locais de investigar os autores da canção. Primeiro ministro tailandês disse se tratar de uma canção “inapropriada”.
Lançado no dia 22 de outubro, o videoclipe de cinco minutos “Prathet Ku Mi” [O que acontece no meu país], do grupo Rap Against Dictatorship [Rap contra ditadura], teve 600 mil visualizações no YouTube em apenas dois dias. Em novembro, as visualizações chegavam a mais de 40 milhões.
O grupo composto por 10 rappers compôs a canção que critica o estado de violência, a corrupção governamental e o domínio militar coletivamente. Alguns deles optaram por manter seu anonimato.
Liderado pelo general Prayuth Chan-ocha, o Exército desferiu um golpe na Tailândia em 2014. Uma nova constituição foi esboçada, garantindo o controle militar da burocracia estatal mesmo na possibilidade de restauração da lei civil. Prayuth anunciou que as eleições acontecerão ano que vem, mas o governo impôs várias restrições às campanhas políticas.
O grupo de rap foi elogiado por sua bravura e criatividade ao ilustrar a situação do país. Abaixo, capturas de tela de alguns trechos do videoclipe:
Em segundo plano, podemos ver um grupo de pessoas que parece aplaudir algo. Quase no final do vídeo, é revelado que se trata de uma referência ao povo e às forças paramilitares que atacaram e mataram dúzias de estudantes da Universidade Thammasat, quando estes protestavam contra o controle militar em 1976.
Questionado sobre a inclusão do brutal massacre com enforcamento em árvores na Universidade Thammasat, mostrado no vídeo, e se isso glorificava a violência, o diretor Teerawat Rujintham explicou em entrevista para o site Prachatai que:
Tradução
Às vezes temos que apresentar também a violência de forma direta, para que as pessoas sintam e vejam certas verdades.
Uma sociedade que vive sob a égide do medo e da autocensura não funciona. Se acreditamos em algo, temos que ter coragem o bastante para lutar e defendê-lo.
As autoridades Tailandesas, sob liderança de Prayut, criticaram a música por “desrespeitar” o país, e chefes da policia ameaçaram investigar o grupo de rap e acusar todos que compartilhassem a canção nas mídias sociais. Até o momento, não foram emitidos mandados de prisão.
Em vez disso, o governo lançou seu próprio rap celebrando a inovação e o progresso, mas falhou em gerar entusiasmo nas mídias sociais.
É possível que o governo de Prayut, percebendo a popularidade da canção junto à juventude, esteja mantendo cautela para não inflamar a população em um período em que precisa do apoio de eleitores.
De fato, muitos internautas tailandeses e líderes de vários partidos políticos declararam apoio aos rappers:
Eu sempre digo que o poder suave da música e da literatura é uma força crucial para levar a sociedade a um futuro progressivo. Rap Against Dictatorship fez um excelente trabalho com #ประเทศกูมี. Eles mostraram para o mundo que nós Tailândeses não nos rendemos ao poder da Junta.https://t.co/Z0QkDurDlS
— Thanathorn Juangroongruangkit (@Thanathorn_FWP) 26 de outubro, 2018
Em entrevista ao site de noticias Coconuts, os integrantes do grupo Rap Against Dictatorship responderam aos críticos que os acusaram de manchar a imagem da Tailândia no exterior:
Tradução
Às pessoas que dizem que estamos ‘arruinando a reputação da Tailândia’, eu pergundo o que lhes parece pior: fechar os olhos para os problemas que todos já conhecem de qualquer maneira ou reconhecer nossos problemas e começar um diálogo em busca de soluções?
Assista ao videoclipe na íntegra: