Entre os feridos, três estão em estado grave.
A polícia tentou responder aos atos de violência, semeando pânico entre os manifestantes pacíficos, que começaram a chegar à praça.
Muitos deles e alguns turistas desavisados, se refugiaram nas escadas ou no interior da igreja.
Dezenas de manifestantes deixaram a praça com os braços para cima, para não serem confundidos com os vândalos. Uma jovem foi vista com o rosto sangrando.
A polícia informou ter detido 12 pessoas e confiscou coquetéis molotov, barras de metal e pedaços de madeira.
“Sinto nojo. É culpa do governo, que obrigou os jovens a se comportarem assim. Não nos dão opção”, criticou Laura, de 23 anos.
“É incrível”, emendou Roberto, de 50 anos. Segundo ele, a polícia transformou a manifestação “em distúrbios”. Poderíamos ter protestado pacificamente”, assegurou.
Perto da praça, onde o trânsito não foi interrompido, alguns carros de luxo foram recebidos com pedradas. Outros ziguezagueavam entre latas de lixo queimadas.
Os incidentes ocorreram após o início do protesto, que reuniu dezenas de milhares de pessoas em Roma por ocasião do dia mundial dos “indignados” contra o desemprego e a voracidade do sistema financeiro mundial.
Enquanto milhares de pessoas protestavam pacificamente, carregando cartazes que diziam “Apenas uma solução, a Revolução”, ou “Não somos bens nas mãos de banqueiros”, já no começo da marcha, desconhecidos quebraram vidraças de bancos com placas de trânsito e depois fugiram. Vários carros foram incendiados.
As forças de ordem responderam aos manifestantes em frente à basílica, disparando bombas de gás lacrimogêneo e jatos d’água, enquanto alguns, encapuzados ou com os rostos cobertos por echarpes pretas, atiravam coquetéis molotov, bombas de fumaça e garrafas.
Outros manifestantes incendiaram um anexo do ministério da Defesa, e também puseram fogo em dois carros.
Os manifestantes pacíficos deixaram a área, transformada em campo de batalha.
Sob lemas como “Povos do mundo, levantem-se”, ou “Saiam às ruas, criem um novo mundo”, os “indignados” convocaram manifestações neste sábado em 951 cidades de 82 países, no primeiro dia de protesto planetário do movimento, que completa cinco meses desde seu nascimento na Porta do Sol, em Madri.
Em Washington, as manifestações reuniram milhares de pessoas, entre as quais representantes de sindicatos e defensores dos direitos civis, em protestos contra Wall Street e para pedir emprego e justiça, constatou a AFP.
Trezentos membros do movimento “Ocuppy DC” (‘Ocupem o distrito capital’, ou seja, Washington), se concentraram pela manhã em frente à Casa Branca e o Departamento do Tesouro para denunciar a “máfia financeira” e em seguida se uniram a outra manifestação de 2.000 a 3.000 pessoas que foi convocada por cerca de 20 organizações e associações.
Esta concentração, perto do National Mall, grande avenida da capital americana, foi impulsionada pela Rede de Ação Nacional (NAN, na sigla em inglês), uma associação de defesa dos direitos civis, particularmente dos negros, na véspera da inauguração do monumento em homenagem a Martin Luther King.
“Ocupemos DC, Ocupemos Wall Street! Viemos para devolver nosso país ao povo!”, proclamou o líder do NAN, Al Sharpton, que falou com vários líderes sindicais.
No Canadá, mais de 300 ‘indignados’ se reuniram ao meio-dia na praça Victoria, no centro de Montreal, instalados em uma dezena de barracas de camping, para responder à convocação mundial de protesto contra o sistema financeiro, constatou um jornalista da AFP.
Exibindo a já conhecida máscara branca do movimento Anonymous e cartazes, manifestantes de todas as idades discutiam sobre bancos, falta de dinheiro e futuro.
Em Madri, cinco marchas partiram de diferentes bairros e se dirigiam à famosa fonte das Cibeles e depois à Porta do Sol, símbolo desde 15 de maio que voltará a se tornar dormitório do protesto na noite deste sábado.
Em Londres, onde ocorreram pequenos confrontos com a polícia ao meio-dia, cerca de 800 “indignados” se reuniram na City e receberam o inesperado apoio do fundador do WikiLeaks, Julian Assange.
A chegada de Assange, em liberdade condicional à espera de uma eventual extradição à Suécia, onde é acusado de estupro, suscitou gritos de alegria.
“Apoiamos o que ocorre aqui porque o sistema bancário de Londres se beneficia do dinheiro da corrupção”, afirmou o fundador do WikiLeaks nas escadas da catedral de St Paul, onde se reuniram os manifestantes.
“Vim por solidariedade com os movimentos que ocorrem no mundo inteiro”, disse Ben Walker, um professor de 33 anos. “Queremos que exista um pouco de justiça no sistema financeiro globalizado”, acrescentou.
Os “indignados” receberam outro curioso apoio: o do governador do Banco da Itália, Mario Draghi, ex-diretor do Goldman Sachs, símbolo dos desarranjos das finanças anglo-saxãs, que no próximo mês assumirá a presidência do Banco Central Europeu.
“Os jovens têm razão de estar indignados”, declarou Draghi a jornalistas italianos neste sábado, à margem de uma reunião das Finanças do G20 em Paris. “Estão enfurecidos contra o mundo das finanças. Eu os entendo”, acrescentou.
Desde o surgimento do movimento, que teve início com um protesto de centenas de pessoas em Madri no dia 15 de maio, os “indignados” e grupos de filosofia parecida, como “Ocuppy Wall Street”, querem fazer deste 15 de outubro (15-0) um dia simbólico, reunindo-se diante de sedes financeiras como Wall Street, a City de Londres ou o Banco Central Europeu (BCE), em Frankfurt.
“Da América à Ásia, da África à Europa, as pessoas estão se levantando para lutar por seus direitos e pedir uma autêntica democracia”, acrescenta o manifesto do 15-0. “Os poderes estabelecidos atuam em benefício de alguns poucos, ignorando a vontade da grande maioria”, segue. “É preciso pôr fim a esta intolerável situação”.
Em Nova York, o movimento “Occupy Wall Street”, que nos Estados Unidos se centra no desemprego juvenil e no aumento da desigualdade, ocupa um parque desde o dia 17 de setembro e neste sábado se reunirá na Times Square.
Em Portugal, milhares de pessoas se manifestaram contra a política de austeridade do governo, sob a tutela da UE e do Fundo Monetário Internacional. Em Lisboa, cerca de 50 mil pessoas de todas as idades marcharam em direção ao Parlamento com gritos de “fora FMI”.
“Somos vítimas da especulação financeira, e este programa de austeridade vai nos arruinar. É preciso mudar este sistema podre”, afirmou à AFP Mathieu Rego, de 25 anos.