Por Débora Garcia | Brasil de Fato
“Quando uma mulher negra se move, o mundo inteiro se move junto”. Essa importante afirmação, da filósofa e ativista Angela Davis, se torna cada vez mais acessível e concreta para as mulheres negras brasileiras.
Na perspectiva histórica brasileira, a compreensão da interseccionalidade entre gênero, classe e raça, o fortalecimento do feminismo negro e a ascensão de governos ligados aos movimentos sociais, a partir de 2003, abriu espaço para que as demandas do movimento de mulheres, bem como do movimento negro, fossem inseridas nas pautas da agenda política nacional.
Com o objetivo de reforçar o dia da Mulher Afro Latino-Americana e Caribenha, comemorado, amanhã, em 25 de julho, e em atenção às pautas dos movimentos de mulheres negras brasileiras, a então presidenta Dilma Rousseff sancionou a Lei nº 12.987/2014, que define a mesma data como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.
Tereza de Benguela foi uma líder quilombola que viveu no Brasil durante o século 18 no estado do Mato Grosso. Com a morte de seu companheiro, passou a liderar o Quilombo do Piolho, entre 1750 e 1770. Durante duas décadas, o quilombo sob sua liderança reuniu mais de cem pessoas entre negros e índios. Além de resistirem fortemente à escravidão, desenvolveram uma sólida organização social.
Pautar Teresa de Benguela, as mulheres negras, afro-latino-americanas e caribenhas, através da instituição de um dia de luta, é sem sombra de dúvidas, um importante mecanismo para que as mulheres negras brasileiras tenham a oportunidade de fortalecer o seu senso de identidade, reconhecendo-se na história de inúmeras mulheres negras que foram protagonistas na luta por liberdade e direitos, no entanto, foram silenciadas e invisibilizadas pela historiografia oficial.
Na sequência, em 26 de julho, comemora-se no estado de São Paulo, o Dia do Orgulho Crespo (Lei n° 16.682/2015). Dentre muitos objetivos, visa fortalecer a identidade étnica afro-brasileira, vez que o alisamento do cabelo, foi um dos mais recorrentes processos de opressão da identidade étnica da população negra brasileira no pós-abolição. A Lei foi proposta pela deputada estadual Leci Brandão, mulher negra fortemente ligada aos movimentos culturais, sociais e políticos da população negra.
Vale destacar que o fortalecimento e a ampliação dessas agendas passam incondicionalmente pela inserção de mulheres, negras ou não, nas instâncias políticas de poder e decisão. Haja vista que, ambas as datas citadas, foram propostas e/ou sancionadas por mulheres.
Esses atos legislativos se refletem diretamente na mobilização politica da população. Assim, tanto no dia da Mulher Afro Latino-Americana e Caribenha como no Dia do Orgulho Crespo, milhares de mulheres negras tomam as ruas em marcha, em todo o país, pautando o seu direito de ser e existir, em uma sociedade sem violência, na qual prevaleça o bem viver e a igualdade de oportunidades.
Essas são demandas de difícil compreensão, principalmente em um país efetivamente racista, machista e classista como o Brasil. Mas não são impossíveis para quem se dispor a reconhecer os próprios privilégios e a olhar para a nossa história com criticidade.
Pra começar, te convido a conferir a vasta agenda de eventos em torno da pauta e também a participar da Marcha das Mulheres Negras, cujo lema deste ano é “Por nós, por todas nós e pelo bem viver! Exigimos o fim da violência e negligência do Estado”.
Serviço:
Marcha das Mulheres Negras de São Paulo
Data: 25/07/2018
Concentração a partir das 17h na Praça Roosevelt/São Paulo