Um novo projeto de músicas nas estações e vagões está em vigor no Metrô de São Paulo. Arranjo entre a empresa responsável e o governo do estado chega a render 40 mil reais mensais para a Icult, enquanto silencia vendedores ambulantes e artistas de rua
O metrô de São Paulo foi fundado em 14 de setembro de 1974 e representa um grande marco na história da maior metrópole do sul do globo terrestre. Todos os dias, o sistema transporta mais de 3 milhões de pessoas – aproximadamente 1 bilhão de passageiros em um ano. No último mês, a instituição implementou um novo projeto de músicas nas estações de trem e vagões do metrô, o que tem gerado desarmonia entre os usuários do transporte ferroviário.
O nome do Projeto é Metrô + Música. Ele conta com uma lista de músicas de 200 obras que incluem Jazz, Bossa Nova, MPB, Samba e Música Clássica. A Icult (Instituto de Cultura e Cidadania), empresa responsável, recebe 40 mil reais por mês, no bom arranjo feito com o governo do estado de São Paulo. Uma das críticas apontadas é a de que a música serviria, na verdade, para abafar o trabalho de vendedores ambulantes – conhecidos como “marreteiros” – dos músicos e dos pedintes, e não para “relaxar” os paulistanos, como diz a propaganda do governo. Outro tema que gerou polêmica foi a quantia destinada para o pagamento da ONG Icult: 40 mil reais, o que poderia sugerir indícios de superfaturamento.
Apesar da hipótese de que a música serviria para impedir o comércio nos trens e estações, é de conhecimento comum que a prática é coibida, inclusive, como dizem as partituras fortississimo (violentamente!) pelo aparato policialesco do metrô – seus guardas. Os marreteiros vendem de tudo. De chocolate até tripé para celular, passando por água e fones de ouvido. Em tempos de crise como a que o Brasil tem vivido – com 13 milhões de desempregados – o comércio ilegal é uma das poucas alternativas de sobrevivência para a população que se encontra fora do mercado tradicional de trabalho.
Aos amigos tudo, aos inimigos a lei – a frase é atribuída a Getúlio Vargas, e descreve bem as relações político-sociais no Brasil. Enquanto a venda de comida é proibida nos trens e os músicos não podem ganhar seu pão, o governo do estado de São Paulo deve quase 500 milhões de reais para a Via Quatro, concessionária que administra a linha 4 amarela do metrô.