Por Rede Brasil Atual
Para o jornal The New York Times, decisão dos EUA revela alinhamento com interesse de indústrias de substitutos de leite, que movimentam bilhões de reais anualmente.
O governo do presidente norte-americano Donald Trump chocou mais uma vez o mundo após ter se recusado a apoiar uma resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) que incentiva a amamentação de recém-nascidos. A decisão divulgada no início desta semana pelo jornal The New York Times, foi apresentada durante o encontro, em maio de 2018, com diversas nações na Suíça. A resolução da ONU está embasada em quatro décadas de pesquisas que apontam o leite materno como o mais saudável para crianças.
De acordo com a reportagem de Nahama Nunes, para a Rádio Brasil Atual, a recusa dos Estados Unidos surpreendeu especialistas que atuam na rede de saúde pública do Brasil, como a médica obstetra e docente do Departamento de Saúde Materno-Infantil, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP), Simone Diniz. Para ela, a afirmação do The New York Times de que a decisão americana atua em favor dos grandes produtores de fórmulas infantis, representa um risco às mulheres e crianças e a desconstrução de políticas públicas internacionais.
“Essa notícia representa uma conjuntura política mais ampla onde o mercado tomou conta. Quando você promove fórmula, você está promovendo doenças em mulheres e crianças. Além de estar extorquindo do ponto de vista econômico essas famílias e a sociedade”, explica Simone.
Segundo a Associação Brasileira de Pediatria, estimativas recentes sugerem que a amamentação, se fosse ampliada para níveis universais, poderia prevenir cerca de 820 mil mortes por ano de crianças menores de cinco anos em países de média e baixa renda. A médica obstetra enfatiza a importância de medidas que incentivem o aleitamento materno e limitem o marketing enganoso.
“A amamentação não é uma coisa que depende da vontade isolada das mulheres. Elas precisam ser apoiadas por políticas públicas claras que vão desde a proteção da amamentação nas maternidades, a restrição de propagandas enganosas de fórmulas e direitos trabalhistas para às mulheres”, defende.
Com um mercado de alimentos para bebês dominado por empresas norte-americanas e europeias, que movimenta por ano mais de R$ 260 bilhões com estimativas de crescimento, os Estados Unidos contrário ao incentivo governamental de “proteger, promover e apoiar a amamentação”, chegaram a intimidar outras nações.