Por Amazônia Real
A agência de jornalismo independente Amazônia Real lançou na sexta-feira (15/06) na plataforma do Youtube o documentário “Aquarteladas”, produzido pelo projeto “Olhando por dentro da Floresta Amazônica”. Sob a ótica das mulheres da Comunidade de Remanescentes Quilombolas do Forte Príncipe da Beira, o filme conta a história e a opinião delas sobre o conflito territorial com o Exército brasileiro, que ocorre há mais de 14 anos, em Rondônia.
A comunidade, que fica na região do Vale do Guaporé, no município de Costa Marques, foi criada por negros e indígenas escravizados. Eles participaram da construção da fortaleza Real Forte Príncipe da Beira, obra da Coroa Portuguesa no final do século 18, e depois foram abandonados.
Com a consolidação do domínio português, o Real Forte Príncipe da Beira perdeu sua importância estratégica e pouco a pouco foi abandonado pelos militares. Com a instalação da República no Brasil, a fortaleza foi legada ao esquecimento, assim como os escravos.
Na década de 1930, o Exército brasileiro reocupou a fortaleza com o Contingente Especial de Fronteira Real Forte Príncipe da Beira. Hoje a unidade é denominada de 1º Pelotão Especial de Fronteira (PEF). O Exército reivindica a posse de parte das terras tradicionais alegando que a área é de segurança nacional e que a população não seria descendente de quilombolas, pois teria sido criada em 1942.
Em 2005, a Fundação Palmares emitiu a Certidão de Autorreconhecimento dos Remanescentes de Quilombolas do Forte Príncipe da Beira. Esta certidão é o primeiro passo do processo de demarcação, que está em andamento pelo INCRA.
Para o documentário “Aquarteladas”, o 1º Pelotão Especial de Fronteira (PEF) do Exército não autorizou a produção de imagens da equipe da Amazônia Real dentro do quartel militar e assim como entrevistas de oficiais sobre o caso.
No filme, as mulheres de remanescentes quilombolas denunciam que sofrem restrições dos militares no direito de ir e vir, para fazer as roças, pescar e nas atividades do extrativismo vegetal.
No elenco de “Aquarteladas” a jornalista Maria Fernanda Ribeiro e a fotógrafa Marcela Bonfim, que assinam a direção do documentário, entrevistaram as lideranças Camila da Paz, Caroline de Azevedo Gomes, Dilce Gomes Neri, Edilaine Barros Fernandes, Laís Miriam dos Santos, Maria do Nascimento Rodrigues, Raimunda D’Alvez Santos e Walderez Dias. O documentário contou com a edição de Carlos Maga e a mixagem de som de Pedro Romão. Também acompanharam o cotidiano das mulheres e de suas famílias.
Ambas colaboradoras da agência Amazônia Real, as diretoras do documentário “Aquarteladas” também foram responsáveis por outras etapas do filme. Maria Fernanda Ribeiro assina as reportagens e o roteiro. Ela é jornalista freelancer e uma viajante da Amazônia com o objetivo de conhecer e compartilhar as histórias dos povos da floresta. É autora do blog Eu na Floresta, publicado no jornal O Estado de S.Paulo, e está com outros dois curtas metragens em andamento.
Marcela Bonfim assina também as fotografias e as imagens em vídeos do documentário sobre as mulheres do Forte Príncipe da Beira. Ela é fotógrafa e formada em Ciências Econômicas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em 2008. É especialista em Direitos Humanos e Segurança Pública pela Fundação Universidade Federal de Rondônia (UNIR), em 2011. Atualmente, Marcela se dedica ao projeto “(Re)conhecendo a Amazônia Negra: povos, costumes e influências negras na floresta” – projeto de militância e reflexão das artes visuais, no campo da antropologia visual, sobre a constituição e memória da população negra brasileira na região amazônica.
O documentário “Aquarteladas” faz parte do projeto “Olhando por dentro da Floresta Amazônica”, que tem o objetivo de contribuir para o entendimento sobre os impactos ambientais e as violações de direitos humanos que enfrentam os povos da Amazônia, sobretudo as populações indígenas, quilombolas, extrativistas e ribeirinhas que têm pouca visibilidade na mídia nacional. A iniciativa conta com a parceria da organização InfoAmazônia e recebe o financiamento da Aliança pelo Clima e Uso da Terra – CLUA.