General brasileiro à frente da missão de paz na RDC garante que prioridade é proteger Goma, no leste do país, e os campos de refugiados. Problemas, segundo ele, são muitos e vão além das fronteiras.
Ainda não se tem uma solução para o conflito na República Democrática do Congo (RDC). As negociações de paz entre o movimento rebelde M23 e o governo congolês estão num impasse. Além disso, a nível regional, os líderes políticos não conseguem chegar a um consenso.
Enquanto isso, os confrontos continuam. O Exército congolês afirma que quer ganhar terreno. Nesta semana, as tropas do governo travaram intensos combates os rebeldes do M23 perto de Goma, no leste do país. Domingo (14/07) foi o dia mais sangrento dos últimos meses, com a morte de mais de 130 pessoas.
A Monusco*, missão de paz da ONU na RDC, diz ter duas prioridades: proteger os campos de refugiados e defender Goma. Em novembro do ano passado, a cidade chegou a ser controlada pelo M23 durante alguns dias.
A força de paz das Nações Unidas foi reforçada em março com uma Brigada de Intervenção. No mandato, a brigada foi autorizada a desarmar os rebeldes no leste do país. À frente de uma das maiores missões da ONU, o general brasileiro Carlos Alberto dos Santos Cruz falou com exclusividade à DW sobre os desafios dos capacetes azuis no local.
Deutsche Welle: Até que ponto a ONU está preparada para enfrentar os desafios militares na RDC e proteger a população congolesa do leste, que está se refugiando nos países vizinhos?
Carlos Alberto dos Santos Cruz: Esse é mais um problema na realidade congolesa. As agências humanitárias e as ONGs já estão atuando para o auxílio da população que se refugiou em outros lugares devido à interferência do grupo armado. O problema de segurança vem sendo parcialmente resolvido pelas Forças Armadas congolesas. Espera-se, com isso, que toda essa estrutura consiga atender à população.
O senhor acha então que está conseguindo resgatar o diálogo e o crédito das tropas da ONU, que nos últimos meses têm sido criticadas pela sociedade civil congolesa?
Há uma variedade de problemas. A RDC é um país extenso e com muitos grupos armados, que atuam particularmente no leste do país. Então, é natural que a população queira que todos os problemas sejam resolvidos. Ainda existem problemas estruturais e nas vias de comunicação. Fazemos o que é possível. Neste momento, temos também algumas prioridades, de modo que não é possível acabar com todos os problemas de uma só vez. E a solução não depende unicamente das Nações Unidas.
Na sua opinião, qual é a urgência do uso desta brigada agora?
A brigada neste momento está com dois terços do seu efetivo e da sua capacidade operacional. Ela está sendo empregada com prioridade na defesa de Goma, uma região bastante afetada pelos combates entre o M23 e as Forças Armadas do Congo. Estamos protegendo a cidade, a liberdade de movimento nas estradas e também os grandes campos de refugiados, com mais de 100 mil pessoas. Essa é a nossa prioridade. Especialmente neste momento, a brigada está comprometida com a defesa de Goma e das suas vias de comunicação, ainda que haja, em outras áreas, tropas que têm outras atividades.
Como o senhor acha que é possível melhorar a qualidade das Forças Armadas do país, evitando a repetição das cenas de violações e de pilhagens de soldados congoleses?
Esse é um problema governamental com que as Nações Unidas têm colaborado dentro do mandato do Conselho de Segurança. Tem-se dado apoio, formação e preparação sobre o respeito aos direitos humanos, além de como se comportar em zonas de conflito e como tratar a população civil. Mas, em geral, é uma questão de investimento e de preparação, para que não se tenha necessidade material que levem a ocorrer essas violações.
A situação no leste da RDC afeta também há anos os países vizinhos, como Ruanda e Uganda. Na sua opinião, o que esse países podem fazer para melhorar a situação na região?
O problema no leste do Congo é conhecido. Todos sabem que é algo regional, porque acontece na fronteira. Existem vários mecanismos políticos que já foram colocados em ação para tentar harmonizar os interesses da região dos Grandes Lagos, e para todos poderem colaborar com a sua parcela de responsabilidade. A solução é política, e o componente militar investe em algumas ações para encontrá-la. Mas, se não houver um esforço grande de todos os interessados, será muito difícil uma solução política, que passe pelo entendimento e pela boa vontade de todos os envolvidos.
* A MONUSCO conta com mais de 23 mil efetivos (militares e civis)