Entrevista com Keila Simpson presidenta da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais).
Pressenza Brasil – O Brasil é Recordista mundial no ranking de assassinatos de pessoas trans. Como é ser uma pessoa trans em uma país tão hostil a diversidade?
Keila Simpson – Esse dado é um dado que é muito ruim para nós [pessoas trans], na dimensão que o Brasil tem e que a gente espera que ele ocupe. Isso ocorre pela falta de vontade política de nosso legislativo. Nosso legislativo federal não tem nenhuma lei que ampare ou tenha um olhar para essa população. Isso facilita muito para quem comete esse tipo de crime, de violência. Eles são incentivados por essa falta de leis. Pela precariedade que muitas travestis vivem, não inseridas na sociedade. Pela forma abjeta que a sociedade ainda as vê.
P.B. O que é a Antra?
K.S. Nesse bolo de adversidade estão as travestis vivendo nessa contradição. Um país tão festivo e tão alegre que tem uma falha muito grande. Quando se tem alguma política para essa população, sempre há uma polêmica. Sempre tem algo no ar de pessoas carregadas de preconceito que não conhecem a população trans. Essas pessoas não conhecem de fato a população trans. Hoje, no Brasil em pleno século XXI as pessoas não tem a consciência de pesquisar e entender sobre o assunto. Essa hostilidade se transforma em uma violência física que termina na letalidade. A Antra está fazendo pela segunda vez um mapa desses assassinatos. Nosso objetivo é constranger o Brasil para o mundo. Para que não sejam mortas mais pessoas inocentemente em um país que não se compadece desses assassinatos.
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P.B. Quais são as atividades desenvolvidas pela Antra?
K.S. Transitamos no Brasil buscando e orientando a criação de políticas de inserção social. As leis estavam muito distante da gente. Buscamos ações chamadas de “gambiarras legais”, uma vez que a legalidade não chegou. Oficialmente não temos ações e políticas efetivas. Para que a gente consiga oficialmente ter uma política de ações e correntes para essa população.
A Antra atuou muito tempo em políticas contra a AIDS e em políticas contra o preconceito existente contra as pessoas trans. Hoje a instituição trabalha com outras frentes, a pauta da AIDS é ainda presente. Avançamos na política do SUS LGBT, a discussão com o Ministério da Educação e com o Ministério do Trabalho e outros Ministérios e no desenvolvimento de ações conjuntas. Estamos sempre em alerta, sempre em atividade. Entendemos o processo político atual e optamos por não fazer tantas investidas dentro dessa política nacional pois entedemos que nossos esforços não iriam ser recompensadores.
P.B. Além da Antra, quais são as outras instituições de defesa das pessoas trans?
K.S. Há outras redes. Como o Ibrat (Instituto Brasileiro de Trans Masculinidade), parceira nossa, que está atuando muito fortemente com esses rapazes e homens. Temos uma parceria com o Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros. Recentemente institui se a rede nacional de travestis, transexuais e homens trans que vivem abertamente com a AIDS. Essa população está reivindicando o seu espaço. São redes parceiras, com amplitudes diferentes, na medida do possível temos tentado exercer ações conjuntas ao mesmo tempo buscando uma valorização das especificidades e da autonomia de cada uma delas.
P.B. Há algo que gostaria de dizer? Alguma mensagem para os nossos leitores?
K.S. A mensagem que a Antra deixa para os leitores entrem no mundo das trans, travestis, mulheres e homossexuais. Quando alguém disser que algo para as pessoas trans é um privilégio, busque um pouco, tente entender as especificidades dessas pessoas. Essa população é humana como qualquer uma outra. Não somos extraterrestres. Temos pessoas do bem e pessoas do mal. Não queremos piedade, queremos apenas o respeito para que também possamos respeitá-las dentro das suas individualidades e especificidades. Nossa mensagem é o respeito deve prevalecer em primeiro lugar.
*Fim da Entrevista.
Pressenza Brasil – Além da Antra, há outras iniciativas que buscam uma melhoria na qualidade de vida da população trans. Como o Cursinho Transformação. Abaixo temos um vídeo produzido pelo QuatroV
(Imagem – Keila Simpson – Acervo pessoal)