Policiais reprimem ato contra aumento das tarifas de transporte público em São Paulo antes mesmo do início e agridem jornalistas. Haddad recusa pedido de trégua feito por promotor
São Paulo – A Polícia Militar de São Paulo obedeceu às ordens do governador Geraldo Alckmin (PSDB) de endurecer a repressão contra os manifestantes contrários ao aumento da tarifa de transporte público em São Paulo. O ato de hoje (13), com concentração no Teatro Municipal, na região central, sequer havia começado quando ao menos 40 pessoas foram detidas e levadas para o 78º Distrito Policial, nos Jardins.
As intenções da PM já ficaram claras quando foi montado uma espécie de centro de triagem na Praça do Patriarca, do outro lado do Viaduto do Chá, com vans para transportar os manifestantes. As pessoas são levadas para lá e qualquer possibilidade de suspeita resulta em encaminhamento à delegacia. Entre os detidos, está um repórter da revista Carta Capital. Em nota, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) informou que ao jornalista foi negado o direito de saber para onde estava sendo levado. “A Abraji pede que Piero Locatelli seja posto em liberdade para que possa seguir cobrindo a manifestação e lamenta que a polícia novamente impeça o trabalho da imprensa”, diz o comunicado. Por volta de 19h ele foi liberado.
Os defensores públicos que tentaram entrar em diálogo com a PM também foram hostilizados. Segundo a defensora Daniela Skromov, os policiais se recusam a dar a identidade dos detidos e a explicar os motivos pelos quais as pessoas estão sendo levadas para a delegacia.
Depois de se deslocar pacificamente até a Praça Roosevelt, os manifestantes voltaram a ser reprimidos sem motivo, quando formaram um cordão para tentar encaminhar a marcha pela Rua Maria Antônia. Os comandantes da PM não permitiram que o ato subisse a Rua da Consolação. Em seguida, a Força Tática chegou já atirando bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha.
O Movimento Passe Livre (MPL) informou há pouco que foram efetuadas 40 prisões de manifestantes desde o início da manifestação, às 17h. O movimento disse que já providenciou advogados para defender essas pessoas.
Ontem, o Ministério Público Estadual realizou uma tentativa de mediação com a prefeitura e o governo estadual. A proposta do promotor de Habitação e Urbanismo, Maurício Ribeiro Lopes, era paralisar durante 45 dias o aumento para realizar uma discussão pública a respeito. Mas as gestões de Fernando Haddad (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB) recusaram hoje esta possibilidade.
No ato de terça-feira (11), 19 manifestantes que foram detidos e 13 continuam presos. Isso apesar de o MPL ter pago a fiança de dois deles – acusados de dano, desacato e lesão corporal – no valor de R$ 3 mil cada. Segundo Douglas Belome, militante do MPL que monitora a situação dos detidos, os manifestantes cuja fiança já foi paga foram levados para o presídio do Tremembé, em Taubaté (SP), na manhã de hoje, mesmo após o alvará de soltura já ter sido emitido pela justiça. Outros dois também estão lá.
A única menina entre os 13 detidos foi transferida para o presídio de Franco da Rocha. Os outros dez manifestantes, que respondem por formação de quadrilha, permanecem, segundo Belome, no 2ª Distrito Policial, no bairro do Bom Retiro. “Na delegacia, o que houve foi um leilão de boletins de ocorrência”, avalia o jovem ao falar das acusações impetradas aos colegas. “Pegaram os quebra-quebras e imputaram deliberadamente a essas pessoas. As que foram presas caíram de paraquedas. Depois de dispersarem a manifestação, foram atrás de gente para prender.”
Por Redação RBA