Imagem -Deutsche Welle
Por Felipe Honorato
No sábado, dia 14 de outubro, a capital somali, Mogadiscio, foi sacudida pela explosão de de dois caminhões-bomba. No distrito de Hodan, centro da cidade, o movimento era intenso e havia um engarrafamento na região quando o primeiro caminhão explodiu perto ao Hotel Safari. O caminhão, que já havia levantado a suspeita das forças de segurança, estava sendo monitorado, fato este que não impediu que o ataque acontecesse.
Um segundo caminhou explodiu no mesmo dia, desta vez no distrito de Wadajir, ao lado de um mercado.
Magnetude da tragédia – estimativas iniciais, divulgadas no dia 14 por grandes veículos internacionais de notícias falavam em mais de 20 mortes. No domingo, 15 de outubro, a situação se mostrou muito mais aterradora do que se imaginava: as estimativas subiram para mais de 300 mortos e um número superior a 300 pessoas feridas. Em boletim divulgado em 20 de outubro de forma conjunta pelo Ministério de Assuntos Humanitários e Administração Desastres da Somália e pelo Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários, tais cifras foram confirmadas, somando-se a elas cerca de 200 pessoas que continuavam desaparecidas; mais de uma centena de pessoas em estado grave foram transferidas para outros países da região para que pudessem receber cuidados médicos mais adequados. Para que se tenha uma idéia do tamanho desta tragédia: o ataque ocorrido em Las Vegas, no início do mês, vitimou 59 pessoas; os ataques terroristas realizados em Paris em 2015 tiraram a vida de 137 pessoas. O presidente somali, Mohamed Abdullahi Mohamed decretou 3 dias de luto no país.
Retaliação? – o grupo extremista islâmico El Shabaab, ligado a Al Qaeda e ao Estado Islâmico, foi indicado pelo governo da Somália como autor do atentado. Eles, que já chegaram a dominar territorialmente boa parte de Mogadiscio, hoje não possuem a mesma força. Porém, como a destruição causada pelo ataque de sábado passado comprova, o grupo continua perigoso. Este ano as atividades do El Shabaab se intensificaram: os extremistas realizaram uma série de tentativas de assassinato e ataques terroristas de menores proporções no país. Tudo isto pode não ser coincidência, uma vez que tropas da União Africana, o Exército Somali e o governo dos Estados Unidos da América, por meio de ataques aéreos realizados com drones, têm feito investidas militares para tentar desarticular o grupo. A presença estadunidense dentro desta coalização causou uma grande polêmica na Somália poucos dias antes do ataque terrorista na capital: dois dias antes das duas explosões, esteve em Mogadiscio conversando com Mohamed Abdullahi Mohamed o comandante do US. AFRICOM, comando militar dos EUA para a África; logo após a visita do oficial estadunidense, o ministro da defesa e comandante do exército somali se demitiu de seu cargo. Até o fechamento desta matéria, o El Shabaab não havia reinvindicado a autoria do ataque, no entanto, cresciam os rumores de que o governo da Somália declararia “estado de guerra” contra o grupo extremista.
No Brasil, uma reflexão surgiu da comoção – figuras importantes dentro do Movimento Negro brasileiro usaram as redes sociais para demonstrar seu estranhamento com a falta de comoção por grande parte da população em relação ao acontecido no país africano, bem como para protestar contra a falta de espaço nos noticiários nacionais para reportar a tragédia. Douglas Belchior escreveu em seu Facebook: “[…] poucas notícias e nenhuma comoção, como de costume. Acho que é porque, no Brasil, vivemos um estranho costume que não nos permite sentir solidariedade ante a dor e a morte quando destinada à essa gente de pele preta e costumes selvagens que vem da África…”; Belchior ainda completou: “imaginem se fosse em Paris, Bruxelas, Londres ou algum estado norte americano. Haja lágrimas, matérias na TV e capas de jornais e revistas”.
Já Luciana Barreto, âncora da Tv Brasil, escreveu que vinha noticiando “o pior ataque terrorista da história da Somália” desde sábado, mas “não como deveria! Não como gostaria! Não como poderia!”; além disto, defendeu que “a discussão sobre a seletividade da mídia, visão eurocênctrica e racismo é bem-vinda e urgente”.