Roberto Azevêdo disputa cargo de diretor-geral da Organização Mundial do Comércio com Hermínio Blanco. Brasileiro tem mais experiência internacional, mas protecionismo do Brasil pode ter papel ambíguo na disputa.
A Organização Mundial do Comércio (OMC) divulgou nesta sexta-feira (26/04) em Genebra, Suíça, que o brasileiro Roberto Azevêdo vai disputar a chefia da organização com o candidato do México, Hermínio Blanco. Os dois postulantes vão para a terceira e última fase da eleição.
Azevêdo e Blanco superaram a penúltima fase de seleção, deixando de fora os candidatos da Nova Zelândia, Coreia do Sul e Indonésia. Será a primeira vez que a OMC terá um diretor-geral latino-americano. A rodada final de consultas entre os 159 países-membros da organização deverá ser iniciada em 1º de maio, e o resultado divulgado seis dias depois.
“O fato de chegarmos à última rodada do processo de seleção é um sinal da representatividade da candidatura”, disse Azevêdo, em nota distribuída pelo Itamaraty. “Recebemos o apoio de países de todas as regiões geográficas e de diferentes níveis de desenvolvimento.”
Em entrevista exclusiva à Deutsche Welle, no início de fevereiro, Azevêdo disse que pretende fortalecer o sistema multilateral de comércio e destravar as negociações da Rodada de Doha, que tem o objetivo de remover barreiras comerciais entre os países e está parada há 12 anos.
Outro ponto importante para o candidato, é o OMC tornar-se novamente um foro viável de negociações “para que as atenções voltem ao sistema multilateral e as negociações voltem a ter um grau de ambição compatível com as necessidades de crescimento do mundo atual”.
Disputa acirrada
O professor de Economia e Comércio Internacional da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Antonio Carlos Alves dos Santos aponta que o histórico do Brasil na disputa por cargos em organismos internacionais não tem sido muito bom.
Sede da OMC, em Genebra, Suíça
“Esse foi, por enquanto, o melhor resultado alcançado pelo Brasil. Coincidentemente, o México tem sido um concorrente muito forte do Brasil nos organismos internacionais. Acredito que as chances [de Azevêdo] são boas, mas acredito que o favorito é o mexicano”, frisou.
O escolhido deverá tomar posse em 31 de agosto próximo, para um mandato até 2017, substituindo o francês Pascal Lamy. O cargo de diretor-geral da OMC foi disputado por nove candidatos, dos quais cinco passaram à segunda fase. Os outros países que apresentaram candidatos foram Costa Rica, Nova Zelândia, Coreia do Sul, Indonésia, Gana, Quênia e Jordânia.
Criada em 1995, a OMC tem como objetivo avançar nas negociações comerciais globais, num esforço para estimular o crescimento através da abertura de mercados e eliminar as barreiras comerciais, incluindo subsídios, impostos e regulamentações excessivas.
O posto de líder da OMC não é eleito formalmente. Ao contrário de organizações internacionais semelhantes, como os vários braços da Organização das Nações Unidas (ONU), cujos chefes são nomeados, a OMC escolhe seu líder por consenso.
Candidato brasileiro tem experiência
O candidato mexicano, Hermínio Blanco, de 62 anos, é economista e ex-ministro de Comércio e Fomento Industrial do México. Ele foi chefe da negociação do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta, em inglês) e do Tratado de Livre Comércio entre o México e o União Europeia, além de negociar em nome do México com dez países latino-americanos e com Israel. Um ponto negativo é que o mexicano não tem sido muito ativo na OMC, nos últimos anos.
Já Azevêdo, de 55 anos, ocupou vários cargos importantes, tanto no governo brasileiro quanto em organizações internacionais – como, por exemplo, entre 1997 e 2001, na Delegação do Brasil junto à ONU e outros organismos internacionais em Genebra, além de se atuar, desde setembro de 2008, como Representante Permanente do Brasil junto à OMC, atuando como negociador-chave nas negociações multilaterais de comércio.
Para alguns observadores, Hermínio Blanco é favorito na disputa contra brasileiro
Pesam contra o brasileiro também as recentes medidas protecionistas de Brasília. Por outro lado, estas poderão estimular o apoio de países da União Europeia, que é protecionista na área agrícola. “Vai depender de quem oferecer as melhores condições para os europeus”, disse Alves dos Santos.
Ele afirmou, ainda, que o apoio dos Estados Unidos poderá influenciar na escolha do diretor-geral para o organismo internacional – para ele, a relação dos EUA com o México é melhor do que com o Brasil.
“O México é membro da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico] e o Brasil recebeu o convite, mas nunca demonstrou interesse em participar. Ou seja, o México tem uma relação mais próxima e mais amigável com países fundamentais na política internacional, do que o Brasil”, explicou.
Por outro lado, a proximidade do México em relação aos EUA poderá não ser vista com bons olhos, pois em muitos países os mexicanos são considerados, antes, como porta-vozes e aliados dos norte-americanos do que como dignos representantes da América Latina. “Portanto, o jogo ainda promete surpresas”, concluiu Alves dos Santos.
Fonte: Deutsche Welle
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