A brasileira Socorro Gomes ocupa a presidência do Conselho Mundial da Paz (CMP) desde abril de 2008, quando foi eleita na Conferência Mundial da Paz que reuniu integrantes da organização na Venezuela. Perseguida e exilada pela ditadura vigente no Brasil e na América Latina nos anos 60 e 70, ela acumula uma longa militância pela paz e justiça, que passa pela atuação em seu mandato como deputada federal e como secretária de Justiça do estado do Pará, e atualmente como presidente do Cebrapaz – Centro Brasileiro de Luta pela Paz, e do CMP. Para Socorro, a Marcha Mundial pela Paz e pela Não Violência é uma iniciativa fundamental, porque busca a união em torno da necessidade de gerar a consciência da Paz.
**Pressenza** – Como se organiza o Conselho Mundial da Paz?
**Socorro Gomes** – O Conselho Mundial da Paz é uma instituição da sociedade civil organizada, que existe desde 1950. Foi criado por pessoas, cientistas, físicos, intelectuais, artistas, como o Picasso, com o objetivo de ir ao encontro de um anseio da humanidade daquele momento que era superar e derrotar as forças de guerra. Houve a derrota do fascismo e do nazismo mas em seguida veio o terror da bomba, que destruiu Hiroshima e Nagasaki, e foi um horror. Então o Conselho Mundial da Paz surge com o objetivo de fortalecer os movimentos no mundo que lutam pela Paz. Existe em mais de 100 países, são 132 países, está presente em todos os continentes e integra o Conselho Consultivo da ONU e a Conferência da ONU pelos Direitos Humanos.
**Pressenza** – Quais as principais propostas defendidas pelo conselho?
**Socorro** – Já participamos de grandes batalhas pelo desarmamento nuclear e temos como eixo hoje a luta contra a guerra, com a exigência da retirada imediata das tropas estrangeiras dos países ocupados, contra as bases militares, que são quase 1000 no mundo. Estamos lutando para que o Tratado de Não-proliferação das Armas Nucleares consiga o desmantelamento de todas as armas nucleares. Então o conselho presta solidariedade aos povos agredidos e o Cebrapaz integra o conselho e hoje tenho a responsabilidade de presidi-lo.
**Pressenza** – Quais são os planos e as ações concretas que estão sendo desenvolvidas?
**Socorro** – Esse ano nós lançamos uma campanha pelo desmantelamento da OTAN. Estivemos em Estrasburgo nas manifestações contra a OTAN, na Conferência Internacional. Também estivemos em Belgrado na ocasião do triste aniversário da invasão e destruição da Iugoslávia e prestamos solidariedade ao povo sérvio. Esse é um eixo. O outro é justamente a retirada de tropas estrangeiras dos países ocupados e também estamos em campanha contra as bases militares. Esses são os eixos principais.
**Pressenza** – Quais as ações principais na América Latina?
**Socorro** – Aqui em nosso continente estamos colocando ênfase na luta contra a Quarta Frota, que foi lançada em julho do ano passado e é uma ameaça aos nossos países, à nossa soberania. É um atentado ao princípio de autodeterminação de povos e países. E tem o objetivo de intimidar, faz parte da doutrina Bush de guerra preventiva e de implementar o terrorismo no mundo. Foi isso que o Bush fez nos seus mandatos. Lula, Hugo Chavez, Morales, Raúl Castro, Rafael Corrêa e vários outros governantes já expressaram o repúdio à Quarta Frota com esse entendimento.
**Pressenza** – O que você acha da iniciativa da Marcha Mundial pela Paz e pela Não-violência?
**Socorro** – Eu acho que a iniciativa é da maior importância. Eu pessoalmente apóio essa iniciativa de se juntar forças, manifestações de pessoas de todos os lugares do mundo pela Paz. A bandeira da Paz é essencial porque a guerra ameaça a própria sobrevivência física da humanidade. A guerra não interessa aos povos, só interessa e é promovida pelas potências imperialistas que querem dominar o mundo. Para nós a questão da Paz está muito ligada à soberania e autodeterminação dos povos, ou seja, aos princípios fundadores da carta da ONU, isso é fundamental, a ONU foi criada para isso, para dirimir os conflitos e fortalecer a Paz. Mas a ONU tem sido descartada pela potência bélica inconteste no planeta, os Estados Unidos, e a doutrina Bush ainda está em vigor no planeta. Agora houve a eleição de um novo presidente e é preciso que as atitudes sejam tomadas pelo novo governo para mudar esse quadro. Essa é uma grande interrogação, mas pessoalmente eu acredito que tem uma força capaz de levar à organização das pessoas, levar consciência, por isso a Marcha é importante, porque ela busca somar a todos e coloca em evidência a necessidade da Paz.