Bogotá – O grito de guerra “Alerta, alerta! Quem caminha? A Marcha das Putas da América Latina!” ganhou as ruas de Bogotá neste sábado (6) com a Marcha das Putas da Colômbia. Além da capital, a manifestação foi realizada em outras cidades do país, como Cartagena, Medellín, Cali e Barranquilla. Mulheres de todas as idades e homens marcharam pelo fim da violência contra a mulher e pelo direito que cada uma deve ter sobre o próprio corpo.
“O que faço com a minha vagina deve ser um problema meu. Ninguém tem nada a ver com isso”, disse à Agência Brasil a organizadora da marcha, Mar Candela, de 33 anos. É a segunda vez que o protesto é realizado na Colômbia.
No contexto dos manifestantes, a palavra puta tem dois sentidos. Primeiro, o direito de escolher. “Puta ou não, cada um decide sobre o seu corpo, sobre a sua roupa e sobre a própria vida”, explica Candela. Segundo, a palavra é a sigla de Por Uma Transformação Autêntica e Social.
A palavra, no entanto, choca. O prefeito de Bogotá Gustavo Petro apoiou a marcha, mas pediu que o nome fosse trocado por Marcha das Prostitutas. As organizadoras recusaram.
“Porquê? Por que uma mulher não pode decidir ser puta? Somos todas putas por ofício ou por suspeita. Todas já fomos chamadas assim alguma vez na vida”, comenta a estudante de pedagogia Sonia Matallana, de 24 anos, que ajudou na organização logística e na divulgação do evento nas redes sociais.
A marcha na Colômbia é inspirada no movimento SlutWalk, iniciado em abril de 2011 no Canadá, um protesto contra aqueles que defendiam que os estupros aconteciam porque as mulheres se vestiam de maneira provocante. No Brasil, o protesto é chamado de Marcha das Vadias.
A estudante de artes Patricia Viveros, de 22 anos, participa da marcha pela primeira vez e diz que nada justifica a violência contra a mulher. “A roupa que visto, a minha opção sexual ou o ciúme, nada disso justifica que sejamos desrespeitadas e violentadas”, defende.
De acordo com organizações não governamentais (ONGs) que atuam em defesa das mulheres colombianas, a cada 15 segundos uma mulher sofre algum tipo de violência no país. Outro levantamento estima que a cada seis horas uma mulher é abusada sexualmente no contexto do conflito armado do país. Entre 2001 e 2009, mais de 26 mil mulheres ficaram grávidas depois de abuso sexual ou estupro.
A organizadora do evento acredita que o primeiro passo é gerar uma cultura de igualdade e de respeito. “Nossa sociedade é muito machista. Temos que começar a mudar isso dentro de casa, com os homens e mulheres que criamos como mães”, conta Candela, que tem uma filha adolescente.
Alguns homens já apoiam a causa. O estudante Andrés Beltrán, de 16 anos, faz parte de um grupo de homens chamado Coletivo Masculinidade, que se juntou à marcha para apoiar as mulheres.
“Não podemos discriminar a mulher por suas escolhas e nós, homens, não somos superiores. Somos iguais.”
Matéria de Leandra Felipe, Correspondente da Agência Brasil/EBC