Não se veem bandeiras por nenhum lado, apenas, a grande distância, manifestantes da Anistia Internacional. A visita da alta delegação comercial da China em Lisboa deste fim de semana passou completamente despercebida. O visitante mais observador, à procura de algum sinal da visita, só nas lojas asiáticas é que esbarrava em lanternas chinesas e gatos dourados.
**Made in China**
Os comércios chineses foram brotando como cogumelos em cidades e aldeias portuguesas e somam agora dezenas de milhares. Tal é o caso do negócio da família Chen, no centro de Lisboa. Vendem de tudo, exceto produtos alimentícios, explica Wanggui Chen, 23, filha do proprietário. A oferta na prateleira varia de roupas íntimas a baldes, canetas e brinquedos. Tudo Made in China.
Porém, eles também estão enfrentando dificuldades. *”Até mesmo nós sentimos a crise. Vendemos menos, e os clientes só querem saber de regatear”*, diz Wanggui. Ela encontra-se sentada detrás do caixa da loja, enquanto dá a mamadeira ao filho, que nasceu em Portugal. Para aumentar suas chances de futuro, recebeu o nome de Miguel.
**Investimento**
Portugal foi seriamente afetada pela crise econômica. A delegação comercial chinesa, liderada pelo presidente Hu Jintao, chega em boa hora. Fecharam-se rapidamente os primeiros acordos de grandes investimentos, de maneira a que haja uma estreita colaboração entre as empresas de telefonia e os bancos da China e de Portugal.
O comércio entre os dois países, que hoje envolve cerca de 2.5 bilhões de euros, vai dobrar até 2015. Espera-se igualmente que a China compre, em grande escala, títulos do Estado Português.
Anteriormente, a China já havia comprado as dívidas externas da Grécia e da Espanha, outros dois países do sul da Europa com problemas financeiros graves.
**Portos**
No entanto, nada é por acaso: a China quer algo em troca. Por exemplo, uma participação substancial no importante porto português de petróleo em Sines, que pode ser de enorme importância para a Ásia após o alargamento do Canal de Suez. Com essa mudança, navios muito maiores poderão navegar nas águas do Mar Mediterrâneo. A China já se tornou uma parte importante do porto grego de Pireu, para obter acesso próprio de seus produtos à Europa.
*”Não temos medo da chegada dos chineses. Portugal não está à venda”, afirma o deputado José Ribeiro da oposição do Partido Conservador CDS. “É claro que mantemos um olhar crítico em relação ao sentido em que vão os investimentos feitos e quais as condições dos chineses para investirem seu capital na economia portuguesa. Além disso, em âmbito europeu, exigiremos da China que mostre mais respeito e atenção ao meio ambiente. Também as condições de trabalho dos funcionários poderão ser pontos de discussão”*.
**Brasil**
Ribeiro acredita que a China vê Portugal principalmente como um trampolim para outras regiões comerciais lusófonas. A China, assim, deverá fortalecer os laços com economias emergentes como as do Brasil e da Angola.
Em menor escala, nas ruas de Lisboa, os comerciantes se ressentem da concorrência dos baratíssimos comércios chineses. A loja de artigos domésticos a poucos metros do comércio da família de Chen praticamente não tem mais clientes, diz o proprietário. “Ao passo que a qualidade dos meus produtos é muito superior.”
O comerciante português já não sabe mais o que fazer sobre a repeito. *”O que posso fazer em relação a esse tipo concorrência? Nada, certo? Não tenho outra escolha senão aceitar.”*