O conflito no Congo atualmente é um dos mais complicados. Para se ter uma ideia há uma fora de paz da ONu de 17 mil militares. Leia na matéria abaixo um histórico do problema e a cúpula (cimeira) realizada pelos países africanos. Ainda que não estejamos de acordo com um certo tom bélico e violento que aparece vez ou outra nas declarações, é fundamental que os próprios africanos continuem buscando solidariedade e apoio mútuo entre seus próprios países, num momento que o mundo está se regionalizando. Nenhuma questão é simples quando se trata de governos na África porém, como disse Silo, pensador humanista latinoamericano, não é o caso de cair na conversa fiada das nações européias que colonizaram desorganizando os países e, agora dizem “governem-se”.
A seguir a matéria da Rádio Moçambique:
Leste do Congo: SADC mais próxima de agir pela paz
A Comunidade para o Desenvolvimento da Africa Austral (SADC), agora sob presidência moçambicana, deu um forte sinal para colocar “ponto final” a instabilidade no Leste da República Democrática do Congo (RDC), criando espectativas reais às populações locais que afirmam categoricamente que o que conta “não são palavras mas sim a paz”.
Com efeito, os líderes desta região reunidos Sábado último em Dar-es-Salam, a capital tanzaniana, em cimeira extraordinária, decidiram providenciar cerca de quatro mil militares para integrarem a Força Internacional Neutra (FIN) que vai operar naquela região do Congo contra as acções dos rebeldes do M23.
Três mil militares fazem parte da força da SADC em estado de alerta, activada por decisão da cimeira extraordinária em causa e que farão parte da FIN. A Tanzânia prometeu cerca de 800 efectivos. A ideia de uma força neutra vai custar a região 100 milhões de dólares norte-americanos.
“Temos recursos, sim. Possuímos capacidade de decidir para se acabar com o problema e também de persuadir os que tem recursos adicionais a contribuírem para o sucesso desta iniciativa”, disse o Presidente em exercício da SADC, Armando Guebuza, dissipando dúvidas em torno da existência ou não de capacidade financeira a nível da região para lidar com o problema.
Alias, os chefes de estado e de governo da SADC foram unanimes em afirmar que “não descansarão até que se alcance uma solução definitiva do conflito congolês”.
O bloco regional também apelou as nações unidas para melhorarem o mandato da sua força de manutenção da paz, a MONUSCO, que se sentiu limitada em impedir a tomada, mês passado, da cidade de Goma, leste do Congo, quando as tropas governamentais recuaram face ao avanço dos rebeldes do M23.
A SADC quer que a MONUSCO tenha mandato para ripostar em caso de ataque dos rebeldes do M23.
PRESIDENTE KABILA TEM MISSÃO “ACIMA DO VULGAR” PARA ORGANIZAR RDC
O Presidente Armando Guebuza reconheceu, em conferência de imprensa concedida a jornalistas moçambicanos que o acompanharam a Dar-es-Salaam, que a missão do Presidente da RDC, Joseph Kabila, de modernizar o Estado congolês está acima do vulgar para um estadista.
“O problema é complexo e o papel que o Presidente Kabila tem de modernizar o Estado está acima do vulgar para um chefe de estado”, disse Guebuza.
Com efeito, Kabila herdou, de seus antecessores, problemas profundos de liderança e funcionamento de instituições.
“O Congo deve primeiro organizar-se, o que lhe dará melhores condições de se defender contra acções adversas de grupos internos e até externos”, afirmou o Presidente Guebuza.
As crises na RDC iniciaram logo depois da independência deste país, com o assassinato do Primeiro-ministro, Patrice Lumumba.
O líder que sucedeu a Lumumba, Moise Tshombe, chegou a separar Katanga do resto da RDC. Katanga é uma zona rica em recursos e que, por iniciativa de Tshombe, se separou da RDC, em Julho de 1960, pouco tempo depois da independência deste país.
A posição de Tshombe revoltou a Africa e ele acabou sendo preso por contrabando.
Depois veio Mobutu que se ocupou pouco com a causa da população, muito menos com a institucionalização da RDC.
Diz-se que até a palavra ‘orçamento’ não parecia existir na era de Mobutu. Fala-se de ministros que recebiam salários directamente do bolso dele e estes faziam o mesmo em relação aos directores. Quando chegava a vez dos funcionários de baixa categoria, praticamente já não havia nada.
Por seu turno, o Presidente ugandês e da Conferência Internacional dos Grandes Lagos, Yoweri Museveni, que tomou parte da cimeira extraordinária de Oito (8) de Dezembro, em Dar-Es-Salaam, disse que a crise na RDC tem várias vertentes, uma das quais que afecta a sua população e países vizinhos, para além da estritamente interna.
Segundo Museveni, a RDC tem sido usada por terroristas para desestabilizar países vizinhos, uma política que, segundo a fonte, foi introduzida pelo regime de Mobutu.
Infelizmente, hoje, disse o estadista ugandês, a RDC está sendo usada pelos mesmos grupos terroristas até para atacar os países vizinhos, sem que isso seja política do actual presidente, Joseph Kabila.
Museveni foi categórico ao afirmar que o outro problema de Mobutu foi o eurocentrismo, no qual vertentes internacionais decidiam pelos problemas do Congo sem entender a sua génese.
Segundo ele, se há algum problema num país africano, os primeiros a intervir devem ser desse país, e, depois, as instituições regionais e subsequentemente a comunidade internacional.
Ele acusou o actual modelo de actuação da força de manutenção da paz da ONU como sendo “turismo militar”, referindo que “os 17 mil capacetes azuis convivem com os grupos terroristas, alguns que operam na região há mais de dez anos”.
IOWERI MUSEVENI AGRADECE APOIO DE MOÇAMBIQUE
No seu discurso proferido perante os chefes de estado e de governo ou seus representantes, na cimeira extraordinária da SADC, em Dar-es-Salaam, o líder ugandês agradeceu o apoio de Moçambique por lhe ter dado uma visão libertadora.
Falando na abertura da cimeira extraordinária da SADC, Museveni frisou que foi treinado militarmente no Centro de Preparação Político Militar de Montepuez, província nortenha de Cabo Delgado, também com o apoio do malogrado presidente Julius Nyerere, o proclamador da nação tanzaniana.
“A SADC é uma região de combatentes de que Uganda devia fazer parte”, afirmou Yoweri Museveni.