Em entrevista para o site do MST, José Luis Patrola diz que acredita que “o descaso social, acompanhado das precárias condições econômicas vividas pela população e de um Estado que verdadeiramente abandonou seu povo oferecem condições favoráveis para desastres como o ocorrido”.
Segundo ele, os problemas estruturais do país caribenho – que já eram graves – se agravaram enormemente com o terremoto, e avalia a possibilidade de retorno rápido da Brigada para oferecer solidariedade e articular medidas para a reconstrução das áreas atingidas. Confira trechos da entrevista:
**Qual é a proposta e as atividades de cooperação desenvolvidas pela brigada internacionalista Dessalines no Haiti até agora?**
José Luis Patrola (JLP): A Brigada se instalou no Haiti em janeiro de 2009. Neste primeiro ano de trabalho, os quatro membros se dedicaram a andar o país em articulação com as organizações camponesas na perspectiva de instalar as bases para o programa de cooperação. Nesse período de diagnóstico da realidade haitiana identificamos quatro áreas de ação. Estas seriam trabalhadas neste ano de 2010. Entre elas se encontram a produção de sementes, reflorestamento, construção de cisternas e construção de uma escola técnica. Existe uma expectativa muito grande de que o programa de cooperação possa ajudar as frágeis organizações camponesas do Haiti. Nossa brigada se relaciona com todas as organizações camponesas.
**As consequências do terremoto podem ser consideradas um reflexo do descaso social e político com o povo haitiano? Se os riscos de terremoto sempre foram conhecidos, por que nenhuma providência foi tomada para evitar tantas mortes?**
JLP: Terremotos ocorrem sem muita previsibilidade. A região onde o Haiti se encontra é suscetível a esses fenômenos. Seguramente, o descaso social, acompanhado das precárias condições econômicas vividas pela população e de um estado que verdadeiramente abandonou seu povo oferecem condições favoráveis para desastres como o ocorrido. Assim que chegamos ao Haiti, constatamos a ausência de infra-estrutura e recursos básicos na maior cidade do país. Porto Príncipe, onde ocorreu o terremoto, possui em torno de dois milhões de habitantes e a absoluta maioria vive amontoada em bairros pobres. Um tremor dessa magnitude em Tóquio, no Japão, não seria tão devastador devido a preparação e as condições oferecidas pelo Estado à sua população. Talvez agora, após a catástrofe anunciada, a comunidade internacional faça valer o quarto objetivo das Nações Unidas para aquele país: “formar o desenvolvimento institucional e econômico do Haiti”.
**Como a Brigada pretende se mobilizar para ajudar na reconstrução do país e na solidariedade ao povo haitiano a partir de agora?**
JLP: Após o terremoto, que surpreendeu a todos, teremos que reavaliar nossa estratégia para o médio e longo prazo já que o problema urbano se agravou. Existe, desde agora, um fluxo migratório da capital, afetada pelo tremor de terra, ao interior. Muitos problemas estruturais do Haiti já eram graves antes do terremoto. Agora a situação se agravou enormemente. No curto e no médio prazo, o problema alimentar afetará gravemente a população e deveremos buscar formas de ajudar nesse aspecto. Além disso, a falta de água potável é um grave problema no qual deveremos trabalhar. Ao mesmo tempo a população morre de enfermidades consideradas superadas em países desenvolvidos. Com os desastres naturais elas se agravarão e deveremos pensar com cuidado o aspecto da saúde do povo haitiano. Acreditamos ainda que deveremos reforçar a presença de recursos humanos no Haiti prestando a solidariedade e ajudando a reconstruir um país que há muito necessita da solidariedade internacional que deverá ser construída junto àquele povo.