ARTES VISUAIS

Por Ludimila de Oliveira

 

“Pinturas”, primeira individual de Andrea Brazil, apresenta 55 obras entre policromáticas e monocromáticas, essas marcando uma nova fase na produção da artista.

As cores, elemento central de seu trabalho, se apresentam inteiras nas suas pinturas, transforma-se no ponto de partida para suas criações, que são fruto de um processo artesanal no qual a artista, muitas vezes, prepara suas próprias tintas e telas. Na mostra, que tem a curadoria de Shannon Botelho, Andrea revela seu entendimento sobre a prática artística através de seu processo de observação e memória.

Exposição “Pinturas” – Andrea Brazil

Abertura: 26 de setembro de 2024 (quinta-feira), das 19h30 às 21h

Até 12 de outubro de 2024

Visitação: Quintas e sextas-feiras, 17h às 19h

Sábados, 15h às 18h

Curadoria: Shannon Botelho

Entrada gratuita

A artista Andrea Brazil abre no dia 26 de setembro de 2024 (quinta-feira), às 19h30, a sua primeira exposição individual “Pinturas”, com curadoria de Shannon Botelho no espaço expositivo da SuperUber, no bairro da Gamboa, Rio de Janeiro.

Em “Pinturas”, Andrea Brazil apresenta cerca de 55 obras em pequenos e grandes formatos, entre policromáticas e monocromáticas. As obras monocromáticas marcam um novo caminho em sua produção recente. Nesses trabalhos, ao utilizar uma única cor, a artista busca ampliar as relações sobre a pintura. Essa abordagem, inédita em sua trajetória, levou suas criações a se expandirem em escala, preenchendo o espaço do ateliê e envolvendo a artista de forma imersiva na experiência cromática.

“O que vemos nesta exposição trata de um conjunto de vivências singulares de interação de Andrea Brazil com o seu entorno, ou melhor, com a sua própria vida. Muito além de uma prática solipsista de produção, a artista desenvolveu um interesse particular pelas cores, pigmentos vivos e formas que, apesar de tenderem a uma geometria rígida, narram o processo e memória de cada trabalho”, afirma Shannon Botelho no texto curatorial que acompanha a exposição.

A pintura para a artista é um exercício de conexão profunda com suas memórias, os lugares que habita e a realidade à sua volta. Nascida em Santos (SP), Andrea cresceu em Salvador (Ba), e já adulta se mudou para São Paulo (SP), onde vive e trabalha, mas se define baiana. Com isso, o seu processo de observação e memória têm a Bahia como ponto de partida através das marinhas da ilha de Itaparica, no Recôncavo Baiano. “O meu trabalho é sobre construção de espaços utilizando cores do mundo. Eu penso na luz da Bahia, penso em temperatura. É uma pintura que tem camadas, textura, cheiro e sabor, como uma feira de rua ou um tabuleiro de baiana”, diz a artista que vê na sua pintura uma “conversa boa” com a arte popular.

Sua investigação artística atravessa diferentes campos, mas é a cor que sempre se destaca como elemento essencial, além dos pigmentos vivos e a geometria, captadas das cenas cotidianas. “Eu busco (re)construir o mundo (espaços), organizando as cores que nele habitam. É um modo de sintetizar o que vejo, economizando as formas. Só fica na pintura o que é absolutamente necessário”, define. Suas pinturas contam histórias mais complexas: elas narram o processo e a memória intrínsecos a cada obra, revelando camadas que transcendem a superfície.

“Sejam as amarrações de velas em barcos, remos pintados, artesanatos, fachadas de antigos casarios, na Bahia, ou, em São Paulo, arranha-céus, carros, avenidas, casas em demolição, os encontros de ruas e pessoas, todos os elementos definem e identificam os lugares que afetuosamente tornam-se imprescindíveis para a sua prática e experiência da pintura. Por esta razão, por meio de uma pesquisa visual, retoma cada fragmento de imagem-memória e opera uma readequação plástica em suas formas e cores como que, se condensando a imagem, pudesse torná-la ainda mais vigorosa e efetiva”, diz o curador.

As obras de Brazil desafiam o espectador a adotar um olhar ativo, buscando desvelar algo que nunca se revela completamente. “Cada obra devolve para o mundo um aglomerado de sensações e recordações. A abstração das formas reais que a artista recolheu do seu entorno estão dispostas em arranjos formais rebuscados e delicadamente preparados para nossa contemplação. A atmosfera de cor, que existia apenas no interior das pinturas e foi sempre fundamental para execução de qualquer imagem, na poética da artista torna-se área de projeção e pulsação de cor no espaço real”.

A artista trabalha frequentemente com séries de pequenos formatos, onde as obras se desenvolvem simultaneamente, criando uma relação de irmandade entre elas. Algumas peças, inclusive, só alcançam sua plena expressão quando vistas em conjunto, revelando uma interdependência estética. “As obras pequenas ou grandes, em conjunto ou unitárias, monocromáticas ou multicoloridas, compõem não somente uma partilha da experiência da pintura com o público, mas sobretudo uma possibilidade de experimentar ativamente o presente”, finaliza Shannon.

ALQUIMISTA DAS CORES

No trabalho da artista, a cor ocupa um lugar central, sendo o ponto de partida e de transformação ao longo de seu processo criativo. Inspirada pelas interações cotidianas com a luz e o ambiente ao seu redor, a artista traduz essas experiências visuais para a tela, onde a cor ganha novas camadas de significado e intensidade. O interesse pelas tonalidades vai além do ato de observação, expandindo-se durante o ato de pintar, onde a cor inicial, capturada num raio de sol ou num detalhe da natureza, pode se transformar à medida que o processo avança. “Eu sou atravessada por uma cor do mundo, levo ela para o atelier e ela me serve para a construção do trabalho”, revela Andrea.

A técnica é uma aliada essencial nesse diálogo com a cor. A tinta a óleo, predominante em sua obra, e a têmpera ovo, uma técnica antiga que desperta seu fascínio, contribuem para a vivacidade e intensidade das cores em suas criações. Andréa destaca que na têmpera, o pigmento se apresenta de forma “desnuda”, revelando uma pureza cromática que a cativa profundamente. Além disso, o ato de preparar suas próprias tintas e telas reforça seu caráter processual, comparando-o ao fazer artesanal da cozinha, onde o cuidado e o tempo entre os elementos conduzem ao resultado final.

A ARTISTA

Andrea Brazil (1972, Santos – SP, cresceu em Salvador – BA. Vive e trabalha em São Paulo – SP), é Mestre em artes visuais pela ECA – USP (2008). Graduada em Desenho Industrial com habilitação para Programação Visual pela Universidade Federal da Bahia (1999). Participou de exposições coletivas na Cassia Bomeny Galeria (RJ, 2024), no espaço Gruta (SP, 2022), Galeria Andrea Rehder (SP, 2022), Ateliê 397 (SP, 2021) e Massapê projetos (SP, 2021). Possui obras em acervos de colecionadores e instituições. Sua pesquisa em pintura e desenho busca organizar por meio da cor a visualidade do cotidiano.

SERVIÇO:

Exposição “Pinturas” – Andrea Brazil

Curadoria: Shannon Botelho

Abertura: 26 de setembro de 2024 (quinta-feira), das 19h30 às 21h

Até 12 de outubro de 2024

Visitação: Quintas e sextas-feiras, 17h às 19h | Sábados, 15h às 18h

Local: Espaço SuperUber

Endereço: Rua Silvino Montenegro, 78. Praça da Harmonia, Gamboa. Rio de Janeiro – RJ.

Entrada gratuita