OPINIÃO

Por Sérgio Mesquita

“A amnésia histórica é um fenômeno perigoso, não só porque destrói a integridade moral e intelectual, mas também porque lança as fundações para crimes que ainda estão por vir”

Noam Chomsky

As eleições estão próximas. Em outubro deste ano elegeremos nossas Câmaras e Governos Municipais, em uma prévia das eleições de 26, que elegerão as assembleias legislativas estaduais, o Congresso Nacional e o presidente/a do país. Portanto, as eleições deste ano não devem e não podem ser pensadas a curto prazo e, muito menos serem pensadas a partir das nossas necessidades individuais, de nossas crenças, raças e gênero. A prevalência do pensamento deve ser na linha do bem comum, da solidariedade e do companheirismo. Ou seja, contra toda linha de pensamento e ação a que somos submetidos pelo sistema de produção capitalista, que depende do nosso individualismo, do egoísmo e da total falta de empatia para com o próximo. Todos somos concorrentes neste sistema.

Como superar o poder dos donos do capital, que através de suas corporações, suas mídias, os estados submissos e seus aparatos de segurança, é a grande questão. O que fazer? Não sabemos! Quiçá voltarmos a nos olhar por nossos próprios olhos e não somente pelas telas digitais. Voltarmos a nos escutar, praticar o exercício da escuta, como nos ensinou Paulo Freire. Seria um começo para um longo caminho de volta a humanidade, hoje escorraçada, abandonada em alguma sarjeta.

Se simplificarmos o capitalismo na exploração do humano pelo humano, o capitalismo existe desde que o homem traçou umas linhas no chão e disse: o que estiver aqui dentro é meu, inclusive nosso suor. Oficialmente, são uns 400 anos de existência, desde a transição do feudalismo para o mercantilismo até sua versão atual, financeira, de exploração da população em benefício e enriquecimento de uns poucos.

Segundo o prof. Renato Dagnino, da UNICAMP, são 7 os pecados capitais do sistema capitalista: deterioração programada; obsolescência planejada; desempenho ilusório e limitante; consumismo exacerbado; depredação ambiental; sofrimento psíquico; e o sistema é um doente crônico. Destrói o planeta, a nossa saúde, nossa capacidade de sobrevivência e adaptação, e nos deixa de legado um futuro duvidoso e danoso para as espécies que ainda não foram extintas. Inclusive a nossa.

Para chegarmos a este ponto, primeiro a espada, depois a dominação econômica pela dívida e o aparato de segurança estatal. Hoje, pela mentira, pelo entretenimento alienante, que deixariam Goebbels, o ministro da propaganda de Hitler, se sentindo um mero estagiário. Hoje, segundo o prof. Renato Dagnino, é preciso “des-democratizar”, “des-constitucionalizar” os países e suas instituições governamentais e civis. Somente assim os poucos (1% da população), terão o controle total do planeta.

Churchill, primeiro-ministro inglês, durante a 2ª Guerra Mundial, disse que: “a democracia era o pior forma de governo, à exceção de todas as demais formas que tem sido experimentada ao longo da história”. Saramago, escritor português, colocava que: “o grande problema do sistema democrático é que permite fazer coisas nada democráticas, democraticamente”. São várias as críticas à democracia, e existem desde seu surgimento na Grécia antiga, por Aristóteles, seu criador.

A democracia grega, permitia que o povo, reunido nas ágoras (praças, espaços para reuniões), decidir no voto suas leis e futuro. Politiko era o cidadão que discutia a cidade (polis), Idiota, era aquele que só olhava seu umbigo. Porém, também tinha suas restrições: escravos, mulheres e estrangeiros não podiam votar. Uma vez que, por serem maioria, poderiam tomar o poder, as terras e as riquezas dos ricos. James Madison, o 4º presidente americano, pensava igual a Aristóteles, mas diferente do grego, que acreditava na diminuição da pobreza como solução, Madison acreditava na diminuição da democracia. Alguma parecença com a situação atual?

Como diminuir a democracia sem deixar de ser democrático, como colocado acima na fala do Saramago? Chomsky, responde em seu livro Sistemas de Poder: “Os principais sistemas de propaganda que hoje enfrentamos, em sua maioria produzido pela colossal indústria de relações públicas, foram desenvolvidos mui conscientemente, cerca de um século atrás, nos países mais livres do mundo, na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, por causa de um reconhecimento muito claro e articulado de que o povo obtivera tantos direitos, que era difícil reprimi-los pela força”. Ficou mais barato e menos traumático enganar a população. Não só através da propaganda, mas também através da manipulação da Educação e da Cultura, duas áreas sempre atacadas, quando intervenções são realizadas em nome da Democracia.

Para que nosso netos tenham futuro aqui no chão da Terra, e não em um Elysium, reservado para aqueles 1% dos mais ricos, muito chão há de ser percorrido, e acredito que ainda possa ser percorrido. Mas se não começarmos agora, tardiamente, nestas eleições, corremos o risco de repetirmos Ulises Guimarães: “Você acha que este Congresso tá ruim? É porque ainda não viu o próximo”.

Precisamos dar nossos votos para aqueles que não são “idiotas”. Busquemos os “Politikos”, que acreditam de verdade na participação popular, em uma Educação transformadora e participativa em nossas vidas, na Cultura que a partir de nossos cheiros, sabores e saberes, impulsionará nossas vidas com o melhor da tecnologia e do digital. Transporte, Saúde e Dignidade de nossa vida. Este deve ser o nosso voto agora em 24. Se assim não for, vamos ficar pior do que nos anos de 2016 a 2022. A Terra, apesar de redonda, será plana.

Não sei o que vocês pensarão ao lerem estas palavras, mas tenho uma neta muito linda e esperta, que merece o melhor dos mundos. Um mundo digno de se viver, em que não precise de muros altos e eletrificados, que ela possa ir à esquina fazer um lanche sem a companhia de guarda-costas. Que eu possa beber algumas nos bares da vida, e ir para casa sem se preocupar com assalto, em chegar com vida, como diz o amigo Marcos de Dios.

Como dizia Suassuna, não sou pessimista, mas realista. Sei que é difícil, mas acredito ser possível. Sejamos solidários e companheiros. Nós merecemos, o mundo merece!

Quem sabe assim, não mudemos o entendimento do Churchill e do Saramago, onde estiverem…

Que venham as eleições!

Educação pública é uma ameaça a este sistema de crenças, pois se fundamenta em um senso de solidariedade, comunidade e apoio mútuo.
(…)

“A solidariedade torna difícil controlar as pessoas, e as impede de serem objetos passivos do poder privado”

Noam Chomsky

Sérgio Mesquita
Servidor Público – aposentado