ARTES VISUAIS

Por Marrom Glacê

Com curadoria de Carolina Rodrigues, segunda exposição individual da artista Mery Horta apresenta obras inéditas que partem de questões relacionadas à ecologia e ao corpo negro feminino e ainda terá lançamento do catálogo impresso gratuito.

Segunda exposição individual da artista Mery Horta, “Terrosa” realiza sua abertura às 16h do dia 17 de julho, na Sala B do Centro Cultural Correios RJ, no Centro do Rio de Janeiro. Sob curadoria de Carolina Rodrigues e com entrada gratuita, a mostra oferece ao público mais de 10 trabalhos inéditos entre esculturas e performance que partem de questões relacionadas à ecologia e ao corpo negro feminino, utilizando materiais orgânicos em fase de pré e pós vida. Em “Terrosa”, Mery Horta mergulha em cores, cheiros e texturas e cria um universo permeado por seres que surgem da terra. Através de deusas pagãs, organismos que pendem e se esgueiram pelo espaço, a artista fabula encantarias e elabora uma visualidade toda inspirada em questões ligadas à ecologia e aos ciclos do corpo feminino. Este projeto foi contemplado com o edital Apoio às Artes Visuais – Lei Paulo Gustavo – SECEC RJ.

 “Vejo as obras desta minha segunda individual como gestos que ganham força vital, como uma fabulação de vidas que existem antes do tempo ser tempo, que sempre estiveram aqui e estarão depois de nós. O nome da exposição, assim como suas obras, ou seres, surgem da terra, como se estivessem ali dormentes e são despertados para que possamos contemplar, mas também nos nutrirmos de suas existências. Gosto de pensar que a galeria se transforma em um microcosmos e somos convidados a compartilhar essa existência com esses encantados que ali estão, numa imersão sensorial com gosto e cheiro de terra, cor de entranhas. ‘Terrosa’ significa, para mim, vida”, suspira Mery Horta.

 Mery teve a ideia da exposição em 2023, enquanto pesquisava para a criação de “Cio da terra”, seu solo de dança contemporânea. “Senti a necessidade de expandir a performance para outros materiais com os quais eu já vinha trabalhando há alguns anos. A pesquisa em dança já havia sido influenciada pelas artes visuais e, agora, devolvo essa influência. Esse desejo se materializa por meio de esculturas em obras que compõem uma grande instalação. A escultura, assim como os materiais utilizados, como é o caso do urucum, vêm de um desenvolvimento da minha pesquisa em artes visuais desde 2019, quando me deparo em meio ao meu trabalho de performance com o sangue menstrual e, portanto, com a cor vermelha. A partir daí o vermelho se expande para outras simbologias relacionadas principalmente ao corpo feminino e à ancestralidade afro-brasileira e indígena”, sintetiza a artista.

 Dentre as criações da exposição Mery Horta destaca a escultura Sapira, um dos trabalhos que se mostrou como um grande desafio em sua criação. “Essa obra toda na base de madeira foi feita, assim como as outras da exposição, com madeira rejeitada pela natureza, ou seja, minha equipe realizou uma longa busca em diversas cidades do Rio de Janeiro até encontrar um tronco rejeitado que fosse semelhante ao formato base que eu havia desenvolvido no croqui. Quando encontramos esse tronco, que era de abacateiro, recolhemos galhos rejeitados de cajueiro para a sustentação da base e, só então, começamos a trabalhar na construção de Sapira”, relembra.

 Após o trabalho de marcenaria que foi realizado para chegar à forma final da escultura, ainda foi implementado nela um tratamento anti-cupim. “E, só então, acrescentei a pele, em cerca de seis quilos de semente de urucum, seus cabelos-patas e as outras partes da sua carcaça”, adianta Mery. Em paralelo ao trabalho de criação, o caminho desenvolvido por Carolina Rodrigues na curadoria foi diferente do que é comumente feito, quando um curador reúne uma série de obras de um artista e desenvolve uma narrativa.

 “Essa exposição demandou um trabalho mais atento e profundo. Quando iniciei o acompanhamento curatorial, existia um conceito e um texto, depois foram surgindo os croquis, a escolha dos materiais e o processo de desenvolvimento das obras. Todo esse passo a passo foi feito com visitas ao ateliê da Mery e diálogo constante. Conceber essa exposição como uma instalação que dialoga muito com a linguagem da performance também parte de um conhecimento profundo da trajetória da artista. São muitos anos de trocas no campo da pesquisa e muitas abordagens em comum, como o conceito de matrilinearidade presente em seus últimos anos de produção”, pondera Carolina.

 A exposição contará ainda com um catálogo impresso, que será lançado gratuitamente dia 17 de agosto, às 15h, também no Centro Cultural Correios, com um bate papo com as artistas convidadas Irene PeixotoMariana Maia e Ruth Torralba e performance de Mery Horta. “Nessa exposição tenho a felicidade de contar com um catálogo impresso com textos de várias colaboradoras e fotos de ateliê e da exposição. Além de textos poéticos que escrevi ao longo do processo de criação, o catálogo conta com textos da curadora Carolina Rodrigues e das artistas convidadas Irene Peixoto, Ruth Torralba e Mariana Maia”, finaliza Mery. 

 SERVIÇO:

EXPOSIÇÃO “TERROSA” – MERY HORTA

De 17 de julho a 31 de agosto de 2024

Abertura: 17 de julho – 16h às 19h30

Local: Centro Cultural Correios – Sala B

Endereço: Rua Visconde de Itaboraí, 20 – Centro – Rio de Janeiro

Horário de Funcionamento: Terça-feira à sábado, das 12h às 19h

A exposição contará com mediadores culturais especializados em PcDs

LANÇAMENTO DO CATÁLOGO (COM DISTRIBUIÇÃO GRATUITA)

Quando: 17 de agosto – 15h às 18h

Programação:

15h (Sala de Vídeo) – Bate-papo com as artistas convidadas Irene Peixoto, Mariana Maia e Ruth Torralba

17h (Sala B) – Performance Mery Horta com DJ La Belle