Apelo assinado por mais de 250 personalidades e 14 organizações de todo o mundo, sobretudo na França e na Alemanha, em solidariedade com Pınar Selek, tendo em vista o julgamento contra ela agendado para 28 de Junho de 2024 em Istambul:


No dia 28 de Junho, será a quinta vez que Pınar Selek será julgada pelo Estado turco!

Há 26 anos, Pınar Selek foi presa na Turquia por causa das suas pesquisas sobre a resistência curda. De acordo com a ética profissional dos sociólogos, ela recusou-se a revelar a identidade das pessoas que tinha entrevistado. Ela foi torturada e mantida em detenção. Na prisão, ficou sabendo que havia sido acusada de um “ataque terrorista” perpetrado no mercado de especiarias em Istambul – na verdade, tinha-se tratado de uma explosão acidental de gás. À conta disso, ela passou quase dois anos na prisão.

Em 2006, Pınar Selek foi absolvida pela primeira vez, mas o Ministério Público recorreu da sentença. A perseguição judicial começou com uma série de julgamentos que sempre resultavam em absolvições por falta de provas, mas que depois eram anuladas e levavam a um novo julgamento… No entanto, Pınar Selek continuou pesquisando e escrevendo, além de se envolver em movimentos sociais, organizando-se em coletivos feministas e LGBT+, e liderando grandes campanhas antimilitaristas.

Em 2008, ela foi forçada a exilar-se. Atualmente, lecciona sociologia numa universidade de França e continua a as exercer suas atividades profissionais e militantes, apesar das constantes ameaças das autoridades turcas e dos fascistas, inclusive em solo francês.
Assim como acontece com centenas de prisioneir@s polític@s, o governo turco está usando o seu caso como exemplo para tentar silenciar todas as vozes dissidentes e as alternativas políticas. No próximo dia 28 de Junho, ela será julgada novamente e corre o risco de ser condenada a uma prisão perpétua.

A nível mundial, estamos testemunhando o fortalecimento de uma direita autoritária, a ameaças à liberdade de expressão e de pesquisa científica, e a uma repressão crescente aos movimentos civis. Vemos como os Estados, as multinacionais e as elites são cúmplices na defesa dos seus interesses. e isso diante da pobreza generalizada, do caos climático e dos massacres em massa.
Nesta conjuntura global nada animadora, ressalta o papel essencial das defensoras e dos defensores dos direitos fundamentais, do contra-poder da sociedade civil e dos movimentos sociais. Nesse contexto, talvez mais do que nunca, as nossas lutas e análises deverão basear-se na solidariedade transnacional.

Pınar Selek usa incansavelmente as suas aptidões em prol da justiça, da liberdade e da igualdade. É por isso que, apesar da multiplicidade dos diferentes contextos em que vivemos e lutamos, reconhecemos que fazemos parte de um mesmo movimento e que o resultado deste processo judicial determinará o terreno político em que atuaremos no futuro.
Pedimos a tod@s que fiquem firmemente ao lado de Pınar Selek no dia 28 de Junho, em Istambul, e em outros lugares, e que nos juntemos à campanha transnacional pela sua absolvição definitiva, num esforço coletivo pela sua libertação.

Justiça e liberdade para Pınar Selek, justiça e liberdade para todas e todos: Jin, Jiyan, Azadî (*).

(*) Em curdo: Mulher, vida, liberdade. Esta palavra de ordem das mulheres curdas ecoa hoje no movimento feminista revolucionário iraniano e em todo o mundo.


Entre os assinantes: Angela Davis, Rokhaya Diallo, Adèle Haenel, Judith Bulter, Günter Walraff,Annie Ernaux, Esquivel Adolfo Pérez, Aslı Erdoğan, Elsa Dorlin, Souad Labbize, Isabelle Stengers, Rigoberta Menchú Tum, Carola Rackette, Francis Dupuis-Déri, Isabelle Cambourakis, Sepideh Farsi, Tal Madesta, Michael Löwy, Johanna Makabi, Myriam Bahaffou, Chahla Chafiq, Inès Léraud, Nina Faure, Morris Kachani, Union syndicale Solidaires, Republikanischer Anwältinnen-und Anwälteverein Deutschlands.