Bert Hellinger (1), um alemão católico, foi prisioneiro de guerra na Alemanha nazista e depois missionário na África. Sem qualquer estudo na área da psicologia, inventou a pseudociência, depois conhecida como Constelação Familiar. Durante suas pesquisas, criou as 3 Leis Sistêmicas: Hierarquia, Pertencimento e Equilíbrio de Troca. Onde ele estudava o comportamento/relacionamento familiar.

Com o passar do tempo, as Leis Sistêmicas foram sendo usadas para além das questões familiares, pois se adaptavam muito bem a outros universos. As Leis passaram a ser aplicadas no mundo do Trabalho, no relacionamento em rede, entre grupos de amigos e organizacionais, enfim, onde houvesse relacionamento humano, inclusive no campo da Política.

Abaixo, recuperado de outro texto meu “EMPREENDEDORISMO SOCIAL E O NOVOS RENASCIMENTOS”, resgato citação do livro “Novos Renascimentos: Impactos da Tecnologia na Transformação Completa da Sociedade”, do Prof. Dr. Antônio M. Alberti, onde adapta as três Leis Sistêmicas ao mundo tecnológico e digital:

  1. Ordem
    Diz respeito à ordem das coisas, à história, ao respeito e a honra ao que já foi feito, a precedência das ações dos atores, ao posicionamento temporal nos sistemas (…). Desonrar a ordem pode levar ao desequilíbrio sistêmico (…).Nada nesse mundo começou a partir do momento em que passamos a fazer parte de algo. Existem precedências. Alguém preparou o terreno, mobiliou a casa, pensou Leis, enfim, nada surge espontaneamente, ou de nossas necessidades pessoais. Você pode e deve se sentar direto na “janela”, se possui os saberes e conhecimentos necessários. Mas não pode ignorar que antes de você sentar, alguém colocou o banco e a janela. Entender isso é fundamental. É entender por que os povos ditos “primitivos” respeitavam a ancestralidade e a natureza.
  2. Pertencimento
    Trata-se do direito de pertencer. Pertencer a algo é uma necessidade básica. Todos pertencem aos mais diversos coletivos: famílias, empresas, escolas, bairro, grupos sociais etc. (…). Não devemos excluir as pessoas nos processos, coletivos e qualquer grupo. Este é um dos maiores desafios da cocriação criativa, da gestão compartilhada, das economias leves, dos novos modelos organizacionais, do empreendedorismo criativo em rede (…).Qualquer ser humano que pensa, pode mudar de ideia, de prioridade, pois como dito, pensamos. Só não devemos renunciar a nossos princípios, pois estaríamos abandonando o que nos move na vida, o que nos dá sentido. Um ser sem princípios deixa de ser o “politiko”, na definição grega, que é aquele que pensa coletivamente na “polis”, para se tornar “idiota”, aquele que só pensa em si mesmo, em seu próprio umbigo. Para ser político, deve se sentir pertencente ao coletivo. Nem superior, nem inferior.
  3. Equilíbrio do Dar e Receber: Reciprocidade
    Em todos os relacionamentos estamos sempre dando e recebendo. Sejam carinhos, sejam valores financeiros, sejam entregas, sejam o que for. O desequilíbrio do dar e receber desgasta os relacionamentos (…).(…) O desequilíbrio sistêmico é ruim para todo o coletivo. As Constelações Sistêmicas são dinâmicas de grupo que buscam resgatar o equilíbrio (…). Max Nolan Shen [79] argumenta que quanto mais equilibrado for um coletivo mais felizes as pessoas serão. E mais, que toda a comunicação deve respeitar as Leis. Ou seja, não deve desrespeitar a ordem, o pertencimento e a reciprocidade. É a chamada Comunicação Afetiva (…).

No geral, se você não respeita a Ordem, e/ou o Pertencimento, com certeza vai ignorar o Equilíbrio. Irá querer receber mais do que doar ou se dar. O sistema capitalista é useiro e vezeiro na não aceitação das Leis Sistêmicas, pois sempre buscam a maximização do lucro em detrimento do ambiente e das pessoas. Seu “establishment” ignora as Leis Sistêmicas e manipula dados, mídia e os “idiotas” a seu favor. Um rápido exemplo está na manipulação do grau da obesidade. Antes bastava ser classificado obeso, para iniciar tratamento para emagrecer, sobreviver etc. Hoje, criaram mais um degrau na escala: “obeso mórbido”. Assim os obesos podem continuar comendo nos “fast food” despreocupados, gerando lucro. Na política não é diferente. Em Maricá, o que mais existe hoje, são políticos históricos, que ajudaram a transformar a cidade desde sempre. Um amigo, usando a mesma lógica da obesidade, me chamou de pré-histórico…Arf.

Enfim, que todos prestemos mais atenção as Leis Sistêmicas. Quem sabe assim não consigamos salvar o Planeta e nossas relações interpessoais, políticas, trabalhistas etc. que venha 2030, ou 2050, para nos trazer mais esperanças para este nosso mundo. Como colocam nas redes: estudamos plantar árvores em Marte, mas aqui as cortamos. Não seria hora de plantarmos aqui, e somente depois, com o planeta equilibrado, pensarmos em Marte?

Abaixo, uma letra de música que ilustra bem o posto acima.

Há braços.

Cidadão
Zé Ramalho. Letra Lúcio Barbosa

Tá vendo aquele edifício, moço?
Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição
Era quatro condução
Duas pra ir, duas pra voltar
Hoje depois dele pronto
Olho pra cima e fico tonto
Mas me vem um cidadão
E me diz, desconfiado
Tu ’tá aí admirado
Ou ’tá querendo roubar?
Meu domingo ’tá perdido
Vou pra casa entristecido
Dá vontade de beber
E pra aumentar o meu tédio
Eu nem posso olhar pro prédio
Que eu ajudei a fazer
‘Tá vendo aquele colégio, moço?
Eu também trabalhei lá
Lá eu quase me arrebento
Fiz a massa, pus cimento
Ajudei a rebocar
Minha filha inocente
Vem pra mim toda contente
Pai, vou me matricular
Mas me diz um cidadão
Criança de pé no chão
Aqui não pode estudar
Essa dor doeu mais forte
Por que é que eu deixei o norte?
Eu me pus a me dizer
Lá a seca castigava
Mas o pouco que eu plantava
Tinha direito a comer
‘Tá vendo aquela igreja, moço?
Onde o padre diz amém
Pus o sino e o badalo
Enchi minha mão de calo
Lá eu trabalhei também
Lá foi que valeu a pena
Tem quermesse, tem novena
E o padre me deixa entrar
Foi lá que Cristo me disse
Rapaz deixe de tolice
Não se deixe amedrontar
Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio, fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asa
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar
Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio, fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asas
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar