Filho de judeus alemães, Winton foi responsável por salvar mais de 600 crianças do Holocausto, organizando comboios de trem de Praga até o Reino Unido. Seus esforços ficaram sem ser revelados por quase meio século.
Nicholas Winton, que ajudou a resgatar centenas de crianças de serem enviadas a campos de concentração nazistas, morreu. O comunicado foi feito por familiares nesta quarta-feira (01/07). Segundo o genro Stephen Watson, Winton morreu tranquilamente enquanto dormia no hospital Wexham, em Slogh, ao oeste de Londres.
Nascido em Londres de pais de ascendência judaica alemã, seu heroísmo durante a iminente eclosão da Segunda Guerra ficou sem ser revelado por quase meio século. Winton trabalhava como corretor da Bolsa de Londres, quando foi convidado pelo amigo Martin Blake a realizar trabalhos comunitários e ajudar o povo judeu em Praga.
Com a iminente invasão nazista no país, Winton descobriu que enquanto partidários britânicos estavam se empenhando em resgatar intelectuais e judeus comunistas, as crianças eram esquecidas. Winton então criou uma agência, da qual ele era o único funcionário, como parte do Comitê Britânico para Refugiados da Checoslováquia, e começou a procurar por casas e fiadores para aproximadamente 6 mil crianças.
Sua tarefa: impedir que crianças da então Checoslováquia fossem levadas a campos de concentração nazistas. Aproximadamente 20 crianças foram transportadas ao Reino Unido por avião, mas depois que o Exército nazista chegou à capital checa, em março de 1939, o transporte ferroviário se tornou a única opção.
Winton salvou 669 crianças judias
Oito trens com um total de 669 crianças deixaram Praga com destino ao Reino Unido no período que antecedeu ao início da Segunda Guerra. O maior comboio, marcado para 3 de setembro de 1939, nunca saiu – foi o dia em que o Reino Unido declarou guerra à Alemanha.
Embora muito mais crianças foram salvas a partir de Viena e Berlim, os esforços de Winton são particularmente notáveis dado as limitações financeiras e de recursos. “Talvez muito mais pudesse ter sido feito. Mas muito mais tempo teria sido necessário, muito mais ajuda de outros países, muito mais dinheiro e muito mais organização”, disse uma vez Winton.
Ele serviu na Força Aérea Real (RAF, na sigla em inglês) durante a guerra, e após o seu término continuou a trabalhar com muitas instituições de caridade, incluindo organizações que fornecem lares para idosos. Duas das casas foram nomeadas com o seu nome.
Os esforços de Winton para salvar as vidas de tantas crianças foram descobertos somente em 1988, quando a esposa descobriu documentos no sótão de sua casa. Winton disse que nunca falou sobre a missão de resgate, porque que ele não sentia que aquilo tenha sido tão significativo. “Na verdade, tudo o que aconteceu antes da guerra não parecia ter importância perante a luz da própria guerra”, disse.
Condecorado e descrito como “Schindler do Reino Unido”
Winton foi saudado como um herói em todo o mundo, com o então premiê britânico Tony Blair descrevendo-o como o “Schindler do Reino Unido”, em alusão ao renomeado dono de fábrica Oskar Schindler, que salvou centenas de vidas durante a Segunda Guerra.
Em 2003, Winton foi condecorado com o título nobiliárquico britânico de cavaleiro e desde então carregou o Sir no nome. Ele também foi homenageado com uma estátua na estação central de trem de Praga.
O Rotary Club de Maidenhead, do qual Winton foi presidente, homenageou-o com trechos de uma carta escrita pelo próprio britânico em 1939. “Há uma diferença entre a bondade passiva e a bondade ativa, que é, em minha opinião, a doação de seu tempo e energia ao alívio de dor e sofrimento. Ela [a bondade ativa] implica sair, encontrar e ajudar aqueles em sofrimento e perigo, e não apenas em conduzir uma vida exemplar de uma forma puramente passiva de fazer nada de errado.”
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