MÚSICA

Por Renan Simões

 

A série Discografias aborda a obra de alguns artistas que cruzaram minhas apreciações musicais, muitos dos quais com pouquíssimas publicações a seu respeito. O primeiro artista da série é João Pimenta, músico capixaba que foi colega de trabalho do meu pai e de quem conheço dois álbuns desde a mais tenra infância. O próprio Pimenta tem elaborado textos sobre sua produção fonográfica.

Texto de João Pimenta (com adaptação final de Renan Simões):

Quando lancei o CD Torta capixaba (2008), eu já estava aposentado da função de Técnico em Telecomunicações. Como a lesão por esforço repetitivo no meu braço se agravou muito, fiquei limitado para tocar violão. Depois de duas cirurgias, recebi a recomendação dos médicos de abandonar a carreira pública, e assim fiz. Decidi então gravar mais um CD e decretar a minha aposentadoria também na área da música. A gravação do CD Torta capixaba foi realizada no Estudiusina (Vila Velha/ES), entre 2007 e 2008.

Os arranjos de base foram feitos por mim, mas contei com um time ótimo de músicos que me emprestaram os seus talentos para abrilhantar o trabalho musical. A produção foi minha e de Babi; eu realizei os arranjos de base, a voz e violão de nylon; Pedro de Alcântara, os teclados Piano Rhodes e Yamaha Motif ES-6; Edu Szajnbrum, bateria e percussão; Otávio Ribeiro, baixo elétrico e acústico; Carlos Bernardo, guitarra, violão aço de aço e nylon, e bouzouki; Rafael Rocha, arranjos de metais e trombone; Roger Rocha, sax tenor e flauta transversa; Marcelo Santos, trompete e flugelhorn; Babi e Nani Rodrigues nos vocais. O álbum contou também com participações especiais do Grupo Moxuara (em Canção brasileira) e Carlos Papel (em Moqueca).  A tela da capa foi feita pelo mestre artista plástico Kleber Galvêas.

O show de lançamento foi realizado no dia 25/09/2008, na Estação Porto (Armazém 5, Vitória/ES), às 19h30, com entrada franca. Teve um público razoável, mas me senti compensado, pois vários amigos compareceram. De toda forma, a gente se decepciona, pois havia mais de 150 pessoas no local e só foram vendidos 30 CDs. Lembro que desta vez, por já estar aposentado da área de projetos telefônicos, não pude utilizar da venda antecipada de discos. O CD funcionou mais como um registro musical do que um produto para venda.

As emissoras de rádio do nosso estado não tocaram as músicas, à exceção da Rádio Espírito Santo, que tocou Moqueca, Torta capixaba, Pescadores de Itapoã, Minha Vila (dedicada a Vila Velha, o berço do povo capixaba), Aribiri e etc. Parece que eles não conhecem, não se interessam ou repudiam a sua própria cultura, mas estou sempre me valendo do argumento de que fiz a minha parte da melhor maneira possível e isto me basta.

Abrimos o disco com Água de moringa (João Pimenta), um samba esperto com arranjo para metais elaborados por Rafael Rocha, que preencheu maravilhosamente a canção. Minha Vila (João Pimenta), em compasso 4/4 “bolerístico”, enaltece a beleza e magnitude da nossa cidade-mãe Vila Velha. Torta capixaba é uma parceria com minha esposa Neth Pimenta. Aribiri (João Pimenta) é um samba dos melhores que fiz, enaltecendo o bairro onde vivi minha infância em Vila Velha. Herói suicida é construída em compasso ternário composto. Canção brasileira (João Pimenta) contou com a participação especial do Grupo Moxuara. Moqueca (João Pimenta & Carlos Papel) tem a participação de Carlos Papel, que divide os vocais comigo. Há ainda as faixas Genoma (João Pimenta), a balada romântica Eterna amada (João Pimenta), e Pescadores de Itapoã (João Pimenta), um samba em homenagem à primeira colônia de pescadores de Vila Velha.

Elo partido (João Pimenta & Afonso Baldi) foi feita na minha adolescência, e gravei para prestar uma homenagem ao amigo e parceiro de música Afonso Baldi, que já havia partido para o plano espiritual. Nas asas de um colibri (João Pimenta & Paulo Neto) encontra-se em uma nova versão com banda. Fatal (João Pimenta) é uma balada romântica, na qual o saxofonista Roger Rocha fez um solo maravilhoso, e o álbum é finalizado com o samba-choro Zodíaco (João Pimenta).

O que mais me marcou neste CD foi o fato deste significar a minha “separação parcial” da música que sempre gostei de fazer. Parei os shows, mas intensifiquei meus estudos e composições na minha casa. A música nunca deixa o compositor descansar, todos os dias aparecem novos temas e é impossível resistir aos impulsos de começar, trabalhar e finalizar uma nova melodia.