MÚSICA
Por Renan Simões
No dia 12/01/2024, quando completaram 5 anos do falecimento do meu pai, meu irmão Igor Colombo lançou o primeiro single: Cataquiporá. Igor é desenrolado na vida, mas ao mesmo tempo bem reservado em seu mundo, o que o faz, por exemplo, ocultar durante muito tempo que seu álbum que será lançado é uma homenagem ao nosso pai – eu só soube quando perguntei se a data de lançamento do single representava algo, e minha mãe e irmã só souberam quando ele abordou a questão no dia do seu primeiro show autoral. A emoção foi grande.
Nosso pai, Horácio Simões, foi um músico amador talentoso e inspirado, que nos deixou belíssimas composições, sobre as quais pretendemos trabalhar de forma consistente em um futuro breve. Além disso, ele e nossa mãe Dulce Colombo sempre nos incentivaram às artes, o que fez com que Igor e eu realizássemos a formação acadêmica em Música, e nossa irmã Cynthia em Dança.
Sobre Cataquiporá, o próprio Igor relata que
“é uma música que fala sobre a morte da mesma pessoa em duas vidas diferentes e como isso influencia o eu lírico atualmente. No decorrer da canção, mistura-se passado e presente, utilizando metáforas e utilizando ritmos assimétricos, que ajudam a transmitir a complexidade do turbilhão de sentimentos causados pelo luto. Apesar da temática, é uma faixa alegre e até um tanto festiva, utilizando tanto o samba quanto o frevo como ritmos base, sendo uma celebração à vida daquele que partiu.”
Em suma, a música é um caldeirão de sentimentos e referências da música brasileira. Os ouvidos mais atentos tecerão algumas relações curiosas entre Cataquiporá e a música do Clube da Esquina (especialmente no trecho “No rio o céu é tão belo, quase não existo aqui”), Moacir Santos (nos arranjos de sopros), ou mesmo Chico Buarque (a harmonia dos finais de frase na seção do frevo, que remete aos finais de estrofe de Cotidiano).
Curiosidades à parte, Cataquiporá é uma viagem surreal muito bem sucedida que envolve vidas passadas, saudade e esperança. Ainda que haja instabilidade nos compassos alternados e no choque entre gêneros musicais, isso se dá de forma profundamente equilibrada, graças à competência e criatividade de Igor enquanto compositor e arranjador. Curiosamente, a seção em frevo traz a parte mais triste da letra.
Cabe aqui elencar os músicos participantes da gravação: Potiguara Menezes (guitarra), Marco Cavalca (baixo), Vitor Collodetti (piano), Gustavo Romano (bateria), Matheus Viana (flauta transversal), Arthur Costa (sax alto), Gilson Villas Boas (sax tenor), Rafaela Leila (trompete), Felipe Silva (trombone) e Flávia Bonelli (percussão); Daniel Tápia foi responsável pela mixagem e masterização.
Torço para que essa estreia seja a inauguração de uma discografia criativa e transformadora, e parabenizo imensamente o artista por se aventurar de corpo e alma em uma música autoral que não cede aos modismos grotescos da grande mídia. Este é um caminho trilhado por poucos corajosos.
Link no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=w111cqU7aGI
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