ARTES VISUAIS
Por CWeA Comunicação
“Negrociação #3 – Minha língua está em sua boca e eu a quero de volta”, performance de Yhuri Cruz, abre a programação cultural de 2024 da exposição “Da Kutanda ao Quitandinha – 80 anos”, no Centro Cultural Sesc Quitandinha
Centro Cultural Sesc Quitandinha, Petrópolis
[Hall do Teatro]
Performance “Negrociação #3”, de Yhuri Cruz
6 de janeiro de 2024, das 14h às 18h
Entrada gratuita
Classificação: livre
O Sesc Rio de Janeiro tem o prazer de convidar para a performance “Negrociação #3 – Minha língua está em sua boca e eu a quero de volta”, do artista Yhuri Cruz, no dia 6 de janeiro de 2024, das 14h às 18h, com entrada gratuita. O evento abre a programação de 2024 da exposição “Da Kutanda ao Quitandinha – 80 anos”, com curadoria geral de Marcelo Campos, que fica em cartaz no local até 25 de fevereiro.
Yhuri Cruz (1991, Rio de Janeiro) é considerado um dos principais artistas visuais da atualidade, com obras em coleções públicas e privadas, e é também escritor e dramaturgo. A partir de “cenas” – como ele chama suas performances – aborda sistemas de poder, relações de opressão, e também “encenações de cura, resgates subjetivos e violências sociais reprimidas”. Em “Negrociação #3 – Minha língua está em sua boca e eu a quero de volta”, Yhuri Cruz faz uma ação interativa com o público junto com mais cinco atores. Ele distribuirá 100 camisetas e falas do público a partir de senhas prévias, por ordem de chegada, para os interessados em participar. Yhuri Cruz convidará o público a trocar as camisetas de Anastácia Livre por registros em vídeo de suas línguas e áudios de suas vozes.
“Negrociação #3” faz parte da série de cenas pretofágicas elaboradas por Yhuri Cruz desde 2019. Na obra, ele busca a dramaturgia da troca de imagens negras entre pessoas negras e não-negras. O artista propõe às pessoas presentes diversas ações de troca e, como resultado da negociação, as participantes levam consigo uma imagem de valor cultural da diáspora. A ação será registrada em vídeo, como memória da ação.
Partindo do desejo de trair a linguagem por meio do ato da troca, a imagem de Anastácia Livre, recorrente na produção do artista, se multiplica ao mesmo tempo em que a língua – imagem daquilo que fora negado à Anastácia – “é cedida à sua imagem como um ato que ressoa e faz viver seu espírito enquanto força ancestral”.
Yhuri Cruz foi indicado ao Prêmio PIPA em 2019 e, no mesmo ano, fez sua primeira individual, “Pretofagia”, no Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica, no Rio de Janeiro. No mesmo ano foi vencedor do Prêmio Reynaldo Roels com a instalação pública “O Cavalo é Levante: Monumento a Oxalá e aos trabalhadores”.
Mais sobre o artista: https://yhuricruz.com/ e https://inclusartiz.org/midia/voz-ativa-do-movimento-negro-yhuri-cruz-se-destaca-como-um-dos-principais-artistas-contemporaneos-do-brasil/
“Da Kutanda ao Quitandinha – 80 anos”
A exposição inaugurada no início de dezembro de 2023 abriu as celebrações dos 80 anos do espaço construído em 1944 como hotel-cassino, e que hoje sedia o Centro Cultural Sesc Quitandinha. A grandiosa exposição é composta por seis núcleos, traçando um percurso que começa no século 18, com as primeiras referências da presença de negros na Freguesia de Nossa Senhora de Inhomirim, base do povoamento da região, por meio da navegação do rio Piabanha e das fazendas que exploravam o trabalho escravizado, que deu origem à cidade que hoje conhecemos como Petrópolis, até os dias de hoje.
A mostra destaca inicialmente as tecnologias trazidas pelos africanos, suas lideranças, e a quitanda – assentada no local onde está o Quitandinha – operada por mulheres pretas, e responsável por parte expressiva da economia do século 19. A palavra é derivada de kitanda, “feira”, e kutanda, “ir para longe”, no idioma quimbundo, falado em Angola, origem de muitos africanos que formam a grande população afro-brasileira. Vários artistas contemporâneos participam deste núcleo. Em outro segmento, Anna Bella Geiger (1933) ocupa um lugar central, com um documentário sobre ela feito especialmente para a exposição, e com obras que participaram da 1ª Exposição de Arte Abstrata, em 1953.
Para se ter uma ideia do ambiente glamuroso do local em sua época de cassino, de 1944 a 1946, vários itens do mobiliário e da decoração foram recriados, além de uma galeria com reproduções de fotografias de época, pertencentes ao Instituto Moreira Salles. Bailes Black, de carnaval, funk, jambetes, Furacão 2000, nos anos 1970, também terão registros na exposição.
Dois importantes artistas negros, que tiveram forte presença no antigo hotel-cassino, ganham visibilidade e são homenageados. Tomás Santa Rosa (1909-1956), pintor, ilustrador, responsável pela inovação no design de capas de livros – “Cacau” (1934), de Jorge Amado, e “Caetés” (1933), de Graciliano Ramos, são exemplos – e importante cenógrafo – a peça “Vestido de Noiva” (1943), de Nelson Rodrigues, em 1943, marco no teatro brasileiro – e autor dos murais da piscina e do café-concerto, e da pintura decorativa de biombos do Quitandinha. Em outros dois espaços do CCSQ serão reproduzidas as decorações de carnaval do Rio, feitas por ele em 1954. Ativista dos movimentos étnico-raciais, trabalhou de 1947 a 1949 no Teatro Experimental do Negro, fundado por Abdias Nascimento (1914-2011). Já o gaúcho Wilson Tibério 1920-2005) fez nos salões do Quitandinha, em 1946, uma exposição com cerca de 130 obras. Militante político e antirracista, foi viver na França, de onde fez constantes viagens à África, onde pesquisou o cotidiano das populações e ritos afro-brasileiros, criando várias pinturas, e participando de eventos sobre artes negras, como o 1º Congresso de escritores e artistas negros na Universidade de Sorbonne, Paris, em 1951, e do 1º Festival Mundial de Artes Negra, em Dacar, em 1966, hoje em dia um evento emblemático.
“Pensar e celebrar os 80 anos do Quitandinha, focando em arte e cultura, é rever uma história, sublinhar fatos, em sua maioria, desconhecidos, e cuidar para que uma sociedade desigual não permaneça”, afirma Marcelo Campos. “O Quitandinha foi protagonista nas relações da paz mundial, com a assinatura, em 1947, do tratado que se tornaria, anos depois, na Organização dos Estados Americanos, a OEA. Dois importantes artistas brasileiros, Tomás Santa Rosa e Wilson Tibério, realizaram murais e exposições neste local. A primeira mostra de arte abstrata do Brasil aconteceu lá. Portanto, a exposição ‘Da Kutanda ao Quitandinha’ atravessará parte dessa história sob um olhar atual. Levantamos imagens de imprensa importantes e raras. Entrevistamos Anna Bella Geiger, uma das participantes da exposição de Arte abstrata”, assinala. “Realizar esta exposição é evidenciar a centralidade do Quitandinha, hoje, Centro Cultural Sesc, na realização de ações culturais”.
SERVIÇO: “Negrociação #3 – Minha língua está em sua boca e eu a quero de volta” – Yhuri Cruz
6 de janeiro de 2024, das 14h às 18h
Centro Cultural Sesc Quitandinha
Entrada gratuita.
Exposição “Da Kutanda ao Quitandinha – 80 anos”
Avenida Joaquim Rolla, nº 2, Quitandinha, Petrópolis
Terça a domingo, e feriados, das 9h30 às 17h (conclusão do itinerário até as 18h)
Visitas guiadas: terças a domingos e feriados, das 10h às 16h30 (conclusão do itinerário até as 18h)
Visitação ao entorno do Lago Quitandinha: terças a domingos e feriados, das 9h às 17h (em caso de chuva a visitação é suspensa)
Entrada gratuita
Assessor de Imprensa Sesc RJ – Wando Soares
+5521.98845.2931