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A não-violência é o desafio do século XXI

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(Fonte da imagem: https://acortar.link/3MuQ0n)

“A nossa constituição política não segue as leis de outras cidades, pelo contrário, fazemos leis que servem de exemplo para outras. O nosso governo chama-se uma democracia porque serve os interesses das massas e não de uma minoria. De acordo com as nossas leis, somos todos iguais, apesar das nossas diferenças particulares. Ninguém é prejudicado por ser pobre ou por ter um estatuto social inferior, resultando o seu valor do contributo que der para servir a cidade. Não há suspeitas nas nossas relações particulares, sobretudo porque obedecemos a leis que defendem os oprimidos, mesmo que estas não estejam escritas. No que respeita à generosidade, procuramos adquirir amigos dando-lhes benefícios, e não recebendo-os deles, pois aquele que faz um favor aos outros está em melhores condições de manter a sua amizade do que aquele que o recebe…”

Estas palavras foram ditas por um governante que assim descrevia a cultura do seu povo há 2.454 anos. [1]

Não seria lógico supor que, depois de todo o tempo decorrido até hoje, a nossa sociedade apresentasse agora uma evolução cultural que tivesse transformado o nosso mundo num paraíso, aonde as relações interpessoais fossem de bondade, colaboração comunitária e felicidade? Tendo em conta as valiosas contribuições que recebemos desde então de pessoas como Sócrates, Platão, Aristóteles, e de toda a filosofia do Século das Luzes, de movimentos culturais como o Renascimento, o Romantismo, o Impressionismo e o Modernismo, assim como do desenvolvimento de muitas religiões e sistemas de crenças, do extraordinário progresso no domínio da ciência e da tecnologia, do aumento sem precedentes da interligação e interdependência entre as diferentes culturas do mundo.

Então, e afinal, com que é que a nossa cultura contemporânea se assemelha?

A nossa cultura contemporânea enfrenta vários desafios urgentes: por vezes, promove um individualismo extremo, em que os interesses pessoais prevalecem sobre o bem comum; dedica frequentemente uma atenção excessiva ao consumo e à acumulação de bens materiais; nalguns casos, promove a intolerância e a polarização, sendo as diferenças de opinião enfrentadas com agressão em vez de diálogo e de compreensão mútua.

É essencial reconhecer, no entanto, que existem muitos movimentos e esforços para corrigir estes comportamentos problemáticos, e que há potencial para uma mudança positiva no futuro. O fomento de uma cultura de não-violência na sociedade do século XXI, e a promoção da paz e da harmonia, devem começar com uma educação que estimule a compreensão dos princípios da não-violência desde a tenra idade e que possa lançar as bases para uma cultura de paz. Isto inclui o ensino de competências de comunicação, a resolução não violenta de conflitos, e a empatia.

A arte, a música e outras formas de expressão cultural podem ser ferramentas poderosas para promover a paz e a não-violência.

Ensinar competências como a gestão das emoções, a autoconsciência e a empatia emocional, pode ajudar as pessoas a interagir de forma mais positiva e não violenta.

Promover a empatia pelos outros e cultivar a compaixão é essencial para construir relações e comunidades saudáveis.

Existem muitas organizações que se dedicam a promover a não-violência e a resolução não-violenta de conflitos. Apoiar o seu trabalho e participar nas suas iniciativas pode fazer uma diferença significativa.

Cada indivíduo tem um papel importante a desempenhar na promoção de uma cultura de não-violência.

Através da educação, da ação e da promoção de valores não violentos, podemos trabalhar em conjunto para construir comunidades mais pacíficas e harmoniosas e tornar a nossa cultura digna daquilo com que os nossos antepassados sonharam há 2.454 anos.

Nelson Hidalgo Concha

La Serena, Chile, 2023.

 

[1] Thucydides: History of the Peloponnesian War. Funeral speech of Pericles, 431 B.C.


 

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