TEATRO
Por Alessandra Costa
Espetáculo “Babilônia Tropical – A Nostalgia do Açúcar” estreia no Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro
A peça passou pelos CCBBs de Belo Horizonte e Brasília
Uma viagem no Recife do século XVII, na chegada dos holandeses no nordeste do Brasil, em busca das riquezas do açúcar, esse é o enredo do espetáculo “Babilônia tropical – A Nostalgia do Açúcar”, que estreia no Teatro I do Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro, no próximo dia 30 de agosto e fica em cartaz até 1º de outubro de 2023. Será a última peça encenada no espaço, antes das obras de revitalização da sala. O patrocínio à realização do espetáculo é do Banco do Brasil.
O espetáculo tem idealização do autor e diretor Marcos Damigo, que esteve no CCBB Rio de Janeiro no início de 2020 com “Leopoldina, Independência e Morte”, espetáculo que teve grande sucesso de público e crítica. Em “Babilônia Tropical”, ele aborda as contradições do projeto de modernidade nascente e sua violência nos cruzamentos entre gênero, classe e raça, e as transformações que iriam ditar os rumos do mundo. Tais questões são investigadas através da história de Anna Paes, uma controversa mulher que viveu no período e escreveu um bilhete ao aristocrata neerlandês Maurício de Nassau, presenteando-o com seis caixas de açúcar quando ele chegou ao Brasil, e até hoje é guardado no Arquivo Nacional dos Países Baixos.
Segundo o idealizador, dramaturgo e diretor do espetáculo, Marcos Damigo, é de suma importância trazer para o palco a história do Brasil e evocar um passado que insiste em continuar existindo. “E tem uma potência muito grande em tornar presentes, aqui e agora, os eventos que nos constituem. O interesse do público nesse tipo de obra é uma prova disso. Ao mesmo tempo, é uma responsabilidade imensa dar vida às pessoas que vieram antes de nós, para que possamos transformar o modo como nos enxergamos e assim, quem sabe, ativar nossa sensibilidade para uma melhor compreensão de nós mesmos”, explica Marcos Damigo.
Carol Duarte, atriz que dá vida à personagem, reforça que a base da história brasileira foi criada sobre a cultura escravocrata e nesse sentido alguns nomes não podem ser esquecidos. “Os vilões da nossa história devem ser nomeados para que, no presente, possamos extirpar qualquer indício dessa herança escravocrata, recolocando nos devidos lugares os que foram capturados e os que capturam. Hoje, infelizmente, estamos recebendo muitas notícias de empresas com trabalho escravo e, nesta terra, isso não é novidade. Que o teatro possa jogar luz na barbárie que ainda hoje reside no coração do Brasil”, pontua a atriz.
Além de Carol Duarte, o elenco também conta com Ermi Panzo, Jamile Cazumbá e Leonardo Ventura, e como músico em cena Adriano Salhab. Para Ermi Panzo, artista angolano radicado há quase dez anos no Brasil, a dramaturgia traz a ressurreição de uma personagem do século XVII e fabrica questionamentos ao revisitar fantasmas nos abrigos do escravismo e do colonialismo.
“A proposta da obra consiste na montagem de uma engrenagem que questiona a própria ideia de desenterrar essa personagem secular e é confrontada de forma paralela e/ou direta, através de subjetividades que revelam abertamente a tradução de um racismo e, obviamente, a condição de selvagem e apagamento dos indígenas. Portanto, durante a peça, segue-se nessa tentativa do aterramento dessa mulher e outras formas de reparação histórica”, aponta.
A obra também traz a fotografia de um cenário dinâmico, que transcende o trabalho, resultando num conjunto de elementos irregulares que caracterizam a precariedade do trabalho e das condições de vida do trabalhador, atentando contra sua dignidade e à negritude majoritariamente. “Gente, pra quê ressuscitar essa mulher? Deixa ela lá, morta e enterrada”, essa é umas das falas da personagem Milena, ao se referir a Anna Paes. Jamile Cazumbá, atriz que interpreta a Milena, questiona “como nós, através da arte, podemos identificar e nos despirmos de códigos, formas e fórmulas que invisibilizam, silenciam, distorcem, deslegitimam e violentam a existência de um povo e as subjetividades de cada corpo existente nele?”
A peça tem muitas camadas a serem absorvidas, conclui Leonardo Ventura, ator do espetáculo. “Enfrentamos, aqui, a questão central diante do teatro contemporâneo: a chegada de temáticas antes ocultas ou apagadas que demandam novos engendramentos, tanto de relações formais, quanto de relações profissionais e pessoais.”
O Brasil é um país formado, desde o período colonial, por pessoas negras, mas com histórias desenhadas por brancos que submeteram essas pessoas aos mais danosos traumas. A peça traz uma releitura de como a escravização de pessoas negras moldou a imagem do país.
“A imagem de um país e de uma nação é moldada ao longo de gerações, é uma ideia muito bem trabalhada e com muitos contornos. A representação histórica, exemplificada pela personagem Anna Paes, reflete nossas escolhas sobre como perpetuar a história, a imagem e seus pares. A história brasileira foi feita de brancos para brancos. Aqui questionamos não só os reconhecimentos em si, como também seus privilégios e barreiras que precisam ser superadas para se estar em outro lugar”, analisa o produtor do espetáculo, Gabriel Bortolini.
As pesquisas do diretor e idealizador da peça, Marcos Damigo, começaram logo após as restrições impostas pela pandemia da Covid-19. Em 2022 passou um período no Recife, vasculhando documentos e acervos de museus sobre a época da invasão holandesa durante o século XVII. Foi nessa viagem que conheceu o historiador Daniel Breda, que se tornou consultor histórico do projeto. Ainda segundo o diretor, a peça propõe um olhar para o início da Modernidade que estruturou as relações no mundo a partir daquela época e mantém o Brasil numa posição colonial até hoje, como mero provedor de matérias-primas para outros países. “A Holanda naquela época deu início a um processo de transformação social que deságua em valores muito caros a nós, como a liberdade individual, por exemplo. Ao mesmo tempo, esse ideal de liberdade do projeto dito moderno mascara, ainda hoje, a exploração de seres humanos e da natureza que está levando o planeta a uma situação insustentável”, reforça.
“Babilônia tropical – A Nostalgia do Açúcar”, que já passou pelo Centro Cultural Banco do Brasil em Belo Horizonte e Brasília e seguirá para o CCBB São Paulo, mostra uma história que não habita apenas no passado. “Suas marcas ainda estão presentes, seja na situação do povo negro no Brasil ou nas inúmeras denúncias de trabalho análogo à escravidão e problemas estruturais a serem superados”, conclui Marcos Damigo
FICHA TÉCNICA PRINCIPAL
Marcos Damigo – idealização e direção geral
Gabriel Bortolini e Marcos Damigo – concepção
Ermi Panzo e Marcos Damigo – dramaturgia
Gabriel Bortolini – direção de produção
Carol Duarte, Jamile Cazumbá, Ermi Panzo e Leonardo Ventura – elenco
Lúcia Bronstein – interlocução artística
Adriano Salhab – direção musical e música ao vivo
Wagner Pinto – iluminação
Simone Mina – direção de arte
Ricardo Aleixo | CORPO SOBRE TELA e Julia Zakia – vídeos
Daniel Breda – consultoria histórica
Glaucia Verena – preparação vocal e consultoria artística e dramatúrgica
Pat Bergantin – preparação corporal
uma produção REPRODUTORA
patrocínio BANCO DO BRASIL
apoio institucional EMBAIXADA DOS PAÍSES BAIXOS
realização CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL
SERVIÇO
Temporada | de 30 de agosto a 01 de outubro de 2023
Horário | de quarta a sábado, às 19h / domingo às 18h
Local | Teatro I | CCBB RJ
Endereço | R. Primeiro de Março, 66 – Centro, Rio de Janeiro – RJ, 20010-000
Contato: 21 3808-2020 | ccbbrio@bb.com.br
Capacidade do teatro | 172 lugares (sendo 06 espaços para PMR e PCD e 06 para acompanhantes)
Ingresso |R$ 30,00 (inteira), e R$ 15 (a meia para estudantes, professores, profissionais da saúde, pessoa com deficiência (e acompanhante, quando indispensável para locomoção), adultos maiores de 60 anos e clientes BB), à venda em bb.com.br/cultura ou na bilheteria do CCBB Rio de Janeiro
Classificação indicativa |14 anos
Duração | 84 min
Mais informações em www.bb.com.br/cultura
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Assessoria de imprensa CCBB RJ
Giselle Sampaio
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