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Quando Biden disse que iria pôr fim ao Nordstream, Scholz ficou especado como um cãozinho de trela à chuva

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Oscar Lafontaine (screenshot dum vídeo do Youtube)

Compilámos para si os momentos mais interessantes da conversa com Oscar Lafontaine (*).
Tom J. Wellbrock falou com Oskar Lafontaine sobre o atual conflito na Ucrânia, o seu impacto económico na produção e nos cidadãos alemães, o fornecimento de armas à Ucrânia e o potencial de protesto da Alemanha. Oskar Lafontaine também falou sobre o que o mundo terá de enfrentar se o “gigante cambaleante” EUA tentar aproveitar a oportunidade para manter um mundo unipolar e continuar a ser a única superpotência, ignorando a concorrência da China, da Rússia e da Índia.


Extratos duma entrevista de Tom J. Wellbrock com Oscar Lafontaine publicada no Neuland Rebellen.

neulandrebellen: A guerra na Ucrânia podia ter sido evitada. Mas, aparentemente, o Ocidente não estava interessado em fazê-lo. Concorda com isso?

Oskar Lafontaine: A guerra foi preparada pelos Estados Unidos durante décadas. Os estrategos de política externa dos Estados Unidos, e aqui estou a pensar em Kissinger e no Brzeziński, há muito que assinalavam que a Ucrânia, se ficasse sob a influência dos EUA, faria com que a Rússia deixasse de ser uma potência mundial. Hoje também, o conflito é avaliado pelos EUA como um confronto geoestratégico com a Rússia. A Ucrânia é, na pratica, apenas o campo de batalha. Também na Ucrânia, os EUA estão a lutar contra a Rússia para minar o estatuto de potência económica mundial da mesma.

A maioria dos países não está interessada em prolongar a guerra nem em sanções. A Alemanha está obviamente a adotar uma abordagem diferente. Falei recentemente com um colega que disse que a Ucrânia está a ser destruída. No final, não restará nada. E os ucranianos não nos vão agradecer por lhes termos fornecido armas, pois não?

Sim, quem acredita que este conflito pode ser terminado através do fornecimento de armas deveria agora, passado um ano, refletir sobre se esta foi a forma correta de o fazer. Centenas, milhares, dezenas de milhares de pessoas morreram. A Ucrânia está cada vez mais destruída e é suposto continuar assim, sem fim à vista. É, por isso, espantoso que esta política insensata ainda esteja a ser seguida na Alemanha, enquanto grandes partes do mundo, graças a Deus, já chegaram há muito a uma conclusão diferente.

Agora, parece que a política alemã está a empurrar o seu país à parede de forma praticamente generalizada, de modo que, no final, quase nada restará da Alemanha como local industrial. Ou estarei a exagerar?

Em todo o caso, há razões para recear essa situação. O que me surpreende é o facto de a indústria alemã não estar a dar o alarme. Poder-se-ia dizer que o envolvimento de empresas norte-americanas ou de sociedades de gestão de ativos norte-americanas na indústria alemã progrediu de tal forma que essas mesmas forças de resistência já não estão suficientemente presentes. Em todo o caso, pode dizer-se que a influência dos EUA na República Federal é demasiado grande. Tornámo-nos praticamente num lamentável Estado vassalo. A marca desta afirmação foi a cena em que Scholz se colocou ao lado de Biden, como um cãozinho de trela à chuva, quando Biden disse que os norte-americanos iriam destruir o Nordstream, esse importante gasoduto de abastecimento de energia para a Alemanha.

A Alemanha é um país industrializado, e um país industrializado tem sempre de garantir preços de energia competitivos. E o resultado da guerra da Ucrânia, para o dizer de forma breve, é que a Alemanha tem preços de energia muito piores do que os Estados Unidos, por exemplo. Mas se o objetivo da política dos EUA era colocar a Alemanha e a Rússia uma contra a outra, então foi bem sucedida em grande escala. E é isso que é realmente irritante e, se quisermos, prejudicial com uma dimensão histórica: durante muitos anos, a Alemanha deixará de ter boas relações com a Rússia, embora isso fosse absolutamente necessário. E este é o erro mais grave do atual Governo alemão, razão pela qual deveria desaparecer o mais rapidamente possível. O erro mais grave é o facto de ter destruído em muito pouco tempo tudo o que muitos governos desde Adenauer construíram nas suas relações com a Rússia.

É claro que o Ocidente e os EUA têm, logicamente, uma visão diferente ou perseguem outros objetivos. Teme-se realmente uma guerra mundial com perigos nucleares, ou talvez apenas uma guerra quente reduzida à Europa?

Sim, é verdade que se deve sempre recear que estes conflitos, aparentemente regionais, se alastrem neste caso para toda a Europa. A constante da política americana, desde há muitos anos, é a de que querem continuar a ser a única potência mundial. E, se um país quer continuar a ser a única potência mundial, entra necessariamente em conflito com aqueles que também querem ser potências mundiais, como a China ou a Rússia ou, muito em breve, também a Índia.

Ou então, se a Rússia e os Estados Unidos entrassem de facto em conflito direto, haveria uma conflagração mundial. Mas este perigo está sempre presente, e é um perigo real no conflito da Ucrânia, uma vez que é agora claro que a China também observa atentamente o que se passa ali e está indiretamente envolvida neste conflito. E também porque os EUA estão a encarar o atual conflito da Ucrânia como uma fase preliminar para um confronto futuro com a China. A chamada Rand Corporation escreveu há algumas semanas que o conflito na Ucrânia deveria ser terminado, para que os EUA se pudessem virar contra o seu principal adversário. E esse é a China.

Os média limitam-se a reproduzir e a apoiar a narrativa politicamente orquestrada. Esta interação entre a política e os meios de comunicação social leva realmente a que a população fique desamparada, desorientada?

Eu diria que sim, se a propaganda dos que estão no poder prevalecer – e infelizmente é esse o caso –, porque doutra forma as pessoas sairiam em massa para as ruas a gritar: “Quando é que isto vai parar?”. Não podemos permitir que o nosso próprio país seja posto em risco a este ponto. Porque, se de fato chegássemos a uma guerra de proporções europeias, as pessoas perceberiam que não podemos continuar a fazer isto porque, antes do mais, somos obrigados a velar pela segurança do nosso país. E só haveria uma resposta: a Europa tem de se tornar independente e de se libertar destas guerras dos EUA em todo o mundo. Uma pessoa informada já não pode negar que os EUA, o Senado e o Congresso são controlados pela indústria de armamento. E quando há guerras, quando há distorções sociais e quando há muitas pessoas na pobreza, os interesses da maioria não prevalecem.


Tradução do alemão por Vasco Esteves para a PRESSENZA.

O artigo original pode ser visto aquí

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