MÚSICA

Por Renan Simões

 

Gimu não é deste mundo, e Of the spirit, of the space (2015) é seu tratado cósmico definitivo, composto, produzido, gravado e mixado pelo artista. O álbum contou com a masterização de Morgan Nicolaysen, com a fascinante arte de Robin Snasen Rengård, e foi lançado pela norueguesa UAE Records. 

Hidden in darkness é o ponto de encontro entre uma estação ferroviária dos anos 50 e uma viagem à Lua. Após encantadores texturas típicas do artista, nos é apresentado um nobre frenesi slowcore. A empoeirada Some seconds into the past é uma tentativa frustrada de voltar no tempo, mesmo que alguns segundos, para modificar o que foi feito; a esperança, entretanto, se faz presente através de sons sustentados e paradisíacos. Os timbres confusos de Never seen never known são maus presságios de desastres no espaço; a qualquer momento, algo pode danificar a nave.

O centro do álbum traz momentos míticos, como o amargurado fundo do poço de Photosensitive. In a frenzy, o single do álbum, representa paragens inacreditáveis: nossos olhos veem, mas nosso cérebro não processa; enxergamos e ouvimos tudo, mas não entendemos nada. A imprevisível intensificação percussiva nos impulsiona a uma quase inatingível sensação de liberdade, na qual todos conseguimos nos reconhecer como irmãos. A meditativa Trickling thru’ the clouds prepara terreno para a grandiosa finalização de Hidden in light que, em aparente contraposição à abertura, Hidden in darkness, nos oferece um certo bálsamo de esperança. O beat que aparece após metade da música evoca um DJ Shadow do quarto milênio, já muito cansado da humanidade. Elementos e texturas lutam até o fim, quando vencidos pelo silêncio ruidoso e granuloso de uma transmissão para sempre perdida.

Gimu, Of the Spirit, of the Space, as diversas energias do universo em um único álbum! Ouça, desfrute, reflita, repasse: