LITERATURA
Por CWeA Comunicação
Arte negativa para um país negativo: Antonio Dias entre o Brasil e a Europa
O crítico e historiador da arte Sérgio Martins aborda a trajetória do grande artista Antonio Dias (1944-2018) no livro “Arte negativa para um país negativo: Antonio Dias entre o Brasil e a Europa” (Ubu Editora, 2023), com 256 páginas e 95 imagens, fruto de pesquisa dentro de programas da Faperj e do Capes. A história singular de Antonio Dias, que foi para Paris com uma bolsa de estudos em 1966, onde participou dos movimentos de maio de 1968, e depois segue para Milão, passou a fazer parte de um dos principais centros de irradiação artística das décadas seguintes, sem nunca se desconectar do Brasil. Em 1999, fixa residência no Rio de Janeiro, sem deixar de fazer constantes viagens internacionais.
Lançamento do livro
“Arte negativa para um país negativo: Antonio Dias entre o Brasil e a Europa” (Ubu Editora, 2023),
Livraria da Travessa Ipanema, Rio de Janeiro
29 de junho de 2023, às 19h
O autor e o crítico e historiador da arte Paulo Sergio Duarte estarão presentes
No dia 29 de junho de 2023, às 19h, será lançado na Livraria da Travessa Ipanema, Rio de Janeiro, o livro “Arte negativa para um país negativo: Antonio Dias entre o Brasil e a Europa”, do crítico e historiador Sérgio Martins. O autor e o também crítico e historiador da arte Paulo Sergio Duarte estarão presentes no evento.
O legado de Antonio Dias é representado, com exclusividade, pela galeria Nara Roesler (São Paulo, Rio de Janeiro, Nova York).
Nascido em Campina Grande, Paraíba, em 1944, Antonio Dias migra para o Rio de Janeiro em 1958, onde tem aulas com Oswaldo Goeldi (1895-1961) no Atelier Livre de Gravura da Escola Nacional de Belas Artes. Participa da 4ª Bienal de Paris, em 1965, e recebe uma bolsa de estudos do governo francês, dando então início a um autoexílio na Europa.
O projeto para o livro começou em 2018, “embora a ideia já tivesse começado a se delinear um pouco antes, por conta de meus trabalhos prévios sobre a obra do Antonio”, conta Sérgio Martins. “A pandemia e a morte do próprio Antonio trouxeram dificuldades e mudaram os rumos da pesquisa. Mas contei com financiamentos da Capes, da fundação Alexander von Humboldt – que me permitiram passar um ano e meio como pesquisador visitante na Freie Universität Berlin –, do Getty Research Institute, e sobretudo da Faperj, que foram fundamentais para a pesquisa internacional e para a realização do livro”. Ele acrescenta que “o foco original era o álbum ‘Trama’, mas isso mudou e o livro acabou se voltando para dois períodos de transição: 1968, com as pinturas negras, e 1971-1974, com a série ‘The Illustration of Art’”. Entretanto, o livro se expande para períodos anteriores e posteriores, diz o autor. O exemplar custa R$ 89,90.
A crítica Sônia Salsztein afirma que “descobre-se com prazer, no curso da leitura, tratar-se de um notável experimento de reflexão e escrita sobre arte contemporânea, em que o domínio da cultura histórica e o rigor na exposição dos argumentos em nada intimidam o movimento dubitativo e experimental das ideias, diante de questões que ainda se mantêm em aberto no horizonte contemporâneo”
ANTONIO DIAS – TRAJETÓRIA TRANSNACIONAL
“A ideia era refletir sobre a especificidade da trajetória transnacional do Antonio, na medida em que ele se forma em meio ao debate vanguardista brasileiro, mas logo em seguida adentra uma cena artística muito mais estruturada, mercantilizada – e que rapidamente assumia uma feição pós-vanguardista – a partir da centralidade que Milão tinha em relação ao circuito europeu naquele momento. É como se o Antonio e sua obra encarnassem um ponto de contato muito vivo entre duas dimensões geopoliticamente distintas do fazer artístico naquele momento: uma vanguarda semiperiférica e a circulação da arte num mercado central – ainda que num país, a Itália, que também tinha certos traços semiperiféricos”, observa Sérgio Martins.
Ele acrescenta que no livro tenta “acompanhar as idas e vindas do trabalho do Antonio ao longo de diferentes manobras poéticas que ele experimenta para dar conta dessa fricção”. “O interessante é ver que ele evita tanto se colocar como um artista latino-americano ou brasileiro na Europa – no sentido não buscar cultivar essa identidade como meio de se situar e se promover – quanto aderir a grupos italianos e europeus como a Arte Povera, apesar de aberturas e flertes que acontecem ao longo do caminho. Então eu tento acompanhá-lo nesse limiar tênue, atentando para o diálogo com várias figuras importantes no Brasil e na Europa naquele momento, como Pierre Restany, Hélio Oiticica, Harald Szeemann, Giulio Paolini, Tommaso Trini, Giulio Carlo Argan, o grupo Fluxus e a pintura analítica italiana, entre outros”.
SOBRE SÉRGIO MARTINS
Nasceu no Rio de Janeiro, em 1977. Estudou história da arte na University College London (UCL), onde obteve o mestrado em 2005 e o doutorado em 2011, com bolsa do Higher Education Funding Council for England e da UCL Graduate School. Suateseresultou no livro “Constructing an Avant-Garde: Art in Brazil, 1949-1979” (MIT Press, 2013). Em 2014, tornou-se professor do Departamento de História da PUC-Rio e, entre 2020 e 2022, foi pesquisador visitante na Freie Universität Berlin com bolsa Capes/Humboldt Senior Fellowship.
É pesquisador bolsista do CNPq desde 2023 e do programa Jovem Cientista do Nosso Estado (JCNE) da Faperj desde 2018. Em 2012, organizou o número especial “Bursting on the Scene: Looking Back at Brazilian Art” do periodic inglês“Third Text”. Tem artigos publicados também nos periódicos “October”, “ARTmargins”, “Artforum”, “ARS”, “Modos e Novos Estudos Cebrap”, entre outros, e contribuiu para os catálogos de mostras como “Cildo Meireles” (Fundação Serralves/Museo Nacional Reina Sofia, 2013), “Hélio Oiticica: to Organize Delirium” (Carnegie Museum/ArtInstituteof Chicago/ Whitney Museum, 2016), “Alexander Calder: PerformingSculpture” (Tate Modern, 2015), “Anna Maria Maiolino” (MoCA Los Angeles, 2017), “Lygia Pape: a Multitude of Forms (The Metropolitan MuseumofArt, 2017)”, “Antonio Dias: derrotas e vitórias “(MAM-SP, 2021) e “Louise Bourgeois: Imaginary Conversations” (The National Museum, Oslo, 2023).