George Orwell publicou uma de suas mais aclamadas obras, “1984”, em 1949, apresentando um futuro distópico onde o Estado controla cada aspecto da vida das pessoas através de vigilância constante e manipulação da verdade. Infelizmente, muitas dessas previsões se tornaram realidade em nossos dias. O mundo totalitário de “1984” parece estar tornando-se cada vez mais real e assustadoramente familiar.
A história de “1984” se passa em um futuro distópico, onde a Inglaterra é governada pela política do chamado “O Partido”, e é liderada por um líder carismático conhecido como Grande Irmão (Big Brother). O Partido controla tudo, desde a economia até a mídia e a educação, e usa uma tecnologia avançada para vigiar constantemente a população. Os cidadãos não têm privacidade e são repetidamente submetidos à lavagem cerebral e propaganda governamental para mantê-los leais ao sistema.
Muitos argumentam que a visão de Orwell sobre o futuro tornou-se uma realidade assustadora nos dias de hoje. E isso, de fato, pode ser assim interpretado, afinal, os elementos contidos na obra ficcional em questão estão amplamente sendo utilizados em nossa sociedade atual, em maior ou menor escala, quando comparadas realidade e ficção.
Tomemos como ponto de partida a vigilância constante, uma das principais preocupações na obra, com o Estado vigiando ininterruptamente seus cidadãos através de “telas de televisão” que são, na verdade, câmeras de monitoramento. Hoje, se analisarmos, tais dispositivos estão presentes em praticamente todos os lugares, desde ruas e lojas até escritórios e residências privadas. Além disso, as redes sociais e aplicativos de rastreamento de localização permitem que as empresas e governos acompanhem nossas atividades online e offline.
A manipulação da verdade também é uma preocupação central em “1984”, com o Estado alterando constantemente a história e a informação para moldar a opinião pública. Na nossa sociedade, vemos isso acontecer através de notícias falsas e desinformação disseminadas nas redes sociais, bem como através de governos e líderes políticos que negam a ciência e distorcem a verdade.
Naquele mundo distópico, o controle da linguagem era uma característica importante de dominação. O Estado criava um novo vocabulário e apropriava-se de palavras para controlar a maneira como as pessoas pensam e se comunicam. Atualmente, há tendências semelhantes em como as palavras são usadas e interpretadas de maneira política, com termos e expressões rotuladas como “politicamente incorretas” e banidas do uso público.
Também explorada por Orwell a ideia de “dupla verdade” foi apresentada na ficção. Na obra, o Estado afirma que algo é verdadeiro, mas simultaneamente sustenta o oposto. Não é estranho termos presenciado atos como esses recentemente, quando vemos líderes políticos que negam a evidência científica e fazem afirmações contraditórias sem, muitas vezes, serem questionados e – o que é pior – por vezes, ovacionados.
Uma das preocupações centrais em “1984” é a repressão da dissidência, com o Estado usando a violência e a prisão para reprimir qualquer forma de resistência. Hoje, vemos isso acontecer através de violações dos direitos humanos em todo o mundo, bem como através de restrições à liberdade de expressão e à liberdade de imprensa. Ademais, isso fomenta a cultura de medo, criando uma sociedade onde as pessoas são constantemente ameaçadas e controladas através do pavor. Lamentavelmente presenciamos situações do tipo através de campanhas de “segurança” que são usadas para justificar a diminuição dos direitos e liberdades individuais e o aumento da vigilância e repressão.
Não podemos esquecer, é claro, que a criação de inimigos fictícios corrobora com as intenções do Estado, criando uma ameaça externa para justificar a repressão interna e aumentar a lealdade às autoridades. Não é incomum atualmente vermos isso acontecer através de narrativas de “ameaças” que são usadas para justificar ações autoritárias e aumentar a polarização política.
Ao analisarmos todos os aspectos apresentados, é possível ver que o mundo descrito na obra de Orwell tem muitas semelhanças com o mundo atual. A vigilância constante, a manipulação da verdade, o controle da linguagem, a repressão da dissidência, a criação de inimigos fictícios, a cultura de medo e conformidade são problemas que enfrentamos hoje em dia. Isso nos leva a questionar até que ponto estamos dispostos a sacrificar nossa liberdade e privacidade em nome de segurança e estabilidade.
Por mais que “1984” nos mostre como as sociedades autoritárias usam a manipulação da verdade e a vigilância constante para controlar a população, a obra também nos lembra que essas tendências não são inevitáveis e que podemos agir para evitá-las. Trata-se de uma distopia, não de uma previsão acurada do futuro. É importante que estejamos cientes desses perigos e que lutemos por nossa privacidade e liberdade de expressão. Devemos estar atentos para não cairmos nas armadilhas que nos façam perder nossa liberdade e resistir às tendências autoritárias. Essa era a grande mensagem que George Orwell quis nos deixar, já no final de sua vida, não um programa de reality show na TV. Vamos prestar atenção ou nos inebriar com um entretenimento barato?