ARTES VISUAIS

Por CWeA Comunicação

 

O Centro Cultural Sesc Quitandinha, em Petrópolis, será inaugurado com uma exposição que repensa a história do Brasil a partir de obras de doze artistas negros, e uma programação de música, cinema, atividades para as crianças, oficinas e um seminário

 

Os curadores Marcelo Campos e Filipe Graciano reuniram aproximadamente 40 obras, que ocuparão um espaço monumental de 3.350 metros quadrados, dos artistas Aline Motta, Arjan Martins, Ayrson Heráclito, Azizi Cipriano, Cipriano, Juliana dos Santos, Lidia Lisbôa, Moisés Patrício, Nádia Taquary, Rosana Paulino, Thiago Costa e Tiago Sant’ana, das quais seis comissionadas especialmente para a exposição. “Um oceano para lavar as mãos”, título retirado de um verso da música “Meia-noite” (1985), de Chico Buarque e Edu Lobo, se propõe a uma revisão da história do Brasil, pensada por curadores e artistas negros. A mostra busca ainda refletir sobre a cidade de Petrópolis, conhecida como “imperial”, e que tem uma forte memória negra.

 

15 de abril de 2023, a partir das 11h

Inauguração Centro Cultural Sesc Quitandinha, Petrópolis

Exposição inaugural: “Um oceano para lavar as mãos”

Curadoria: Marcelo Campos e Filipe Graciano

19h – show de Juçara Marçal

Entrada gratuita

 

O Sesc Rio de Janeiro tem o prazer de convidar para a inauguração do Centro Cultural Sesc Quitandinha, em Petrópolis, no dia15 de abril de 2023, às 11h, com a exposição “Um oceano para lavar as mãos”, que tem curadoria de Marcelo Campos e Filipe Graciano, e reúne obras dos artistas negros Aline Motta, Arjan Martins, Ayrson Heráclito, Azizi Cipriano, Cipriano, Juliana dos Santos, Lidia Lisbôa, Moisés Patrício, Nádia Taquary, Rosana Paulino, Thiago Costa e Tiago Sant’ana, que ocuparão um espaço monumental de 3.350 metros quadrados.

A exposição será acompanhada, ao longo de seis meses, de uma programação gratuita de música, cinema, teatro, literatura, atividades infantis, oficinas e um seminário. O Café Concerto do Centro Cultural Sesc Quitandinha, amplo teatro com capacidade para 270 pessoas, vai sediar a programação de música e de cinema.  Os curadores são todos negros. A curadoria de música é do cantor, compositor, violonista e poeta baiano Tiganá Santana. A mostra de cinema terá como curador Clementino Junior, cineasta dedicado à difusão da obra audiovisual racializada. O grupo Pretinhas Leitoras, formado pelas gêmeas Helena e Eduarda Ferreira, nascidas em 2008 no Morro da Providência, no Rio de Janeiro, estará à frente das atividades infantis, que serão feitas na Biblioteca do Centro Cultural. Para ampliar a percepção do público das obras expostas, haverá oito oficinas e laboratórios, nos salões da exposição e nas Varandas. Flávio Gomes, pesquisador do pensamento social e da história do racismo, da escravidão e da história atlântica, será o curador das ações da linguagem escrita, literária e oral paralelas à exposição. Estão também sendo programadas performances com grupos artísticos da região.

No dia 15 de abril, às 19h, haverá um show de Juçara Marçal.

REVISÕES HISTÓRICAS NO BRASIL

O curador Marcelo Campos diz que passou a observar “o modo como os artistas negros lidam com o período das navegações”. “Este trauma, esta tragédia de nossa sociedade, exibidos nas documentações de maneira normalizada, com ilustrações de grilhões, correntes. Junto com os artistas, pensamos em como lidar com isso”, diz. “De que modo a arte lida com o imaginário do trauma da escravidão, da diáspora”. Ele menciona as pesquisas feitas pelo sociólogo inglês Paul Gilroy, estudioso da diáspora negra, e autor do livro “Atlântico negro” (1993), tema presente nos trabalhos, e lembra que a artista Rosana Paulino, em conjunto de trabalhos de 2016, chamou de “Atlântico vermelho”, em alusão a Gilroy, evocando a violência da escravidão e seus desdobramentos até os dias de hoje.

Marcelo Campos conta que em aulas, bibliografias e várias ações,há “importantes revisões históricas no Brasil, com a inclusão de autoras e autores negros”. Enquanto nos anos 1990 os afro-americanos já “iam direto na ferida”, observa, no Brasil as iniciativas eram isoladas. As políticas públicas dos últimos 20 anos, entretanto, com as cotas para estudantes negros, “em que a UERJ foi pioneira”, e a penetração das universidades no interior do país, como Cariri e Recôncavo Baiano, propiciaram a que os negros passassem a ter acesso às diversas áreas de conhecimento. “Esta pressão obrigou a academia e os espaços de arte a se modificarem”. 

Dos doze artistas convidados, seis foram comissionados para criarem trabalhos especialmente para a exposição: Azizi Cypriano, Juliana dos Santos, Moisés Patrício, Pedro Cipriano, Thiago Costa e Tiago Sant’ana.

O título “Um oceano para lavar as mãos” é retirado de um verso da música “Meia-noite”, composta por Chico Buarque e Edu Lobo para a peça “O Corsário do Rei” (1985), de Augusto Boal. “Este verso sempre me chamou a atenção na música. A ideia de limpar – que pode ter sentido de cura, de purificação, presente em obras como as de Ayrson Heráclito – ou de não se fazer nada a respeito”.

 

PETRÓPOLIS: UMA CARTOGRAFIA NEGRA

Marcelo Campos destaca que a exposição busca também “repensar a cidade de Petrópolis”. Conhecida como cidade imperial, Petrópolis tem uma cartografia de presenças negras, tendo abrigado quilombos em várias regiões do Município: Quilombo da Tapera, no Vale das Videiras – com uma comunidade quilombola reconhecida pela Fundação Palmares em 2011 – Quilombo Manoel Congo, Quilombo Maria Comprida, Quilombo da Vargem Grande, e, de acordo com pesquisadores, também no local ondeem 1884 foi construído o Palácio de Cristal, no Centro.

Filipe Graciano, arquiteto e urbanista, idealizador do Museu de Memória Negra, de Petrópolis, e coordenador de Promoção da Igualdade Racial do Município, conta que a expografia vai salientar a ideia de encontros contida nos múltiplos significados que a palavra oceano traz. “Independentemente de nossa história de apagamento, nosso país se revigora com a presença negra. Além do trauma e da tragédia impostos aos negros, o oceano traz uma perspectiva de encontro, de afeto, cura, cuidado e resiliência”, explica.  “As obras dos artistas refletem este encontro de várias culturas, a diversidade cultural da África, na criação dessa memória que atravessa a vida como ela é”. Para ele, a exposição “revisita este apagamento, esses riscados que repensam e refazem essa memória, essa presença”. “A monumentalidade do espaço do Centro Cultural Sesc Quitandinha vai ao encontro da monumentalidade da existência negra no Brasil”, observa.  Graciano assinala a importância do olhar curatorial negro, com artistas negros, para contar “outra história, que não a única no Brasil”. “A potencialidade das mãos, de lavar a história”. “A exposição é quase um ato de reparação histórica”, afirma, observando que o trabalho educativo dará uma contribuição para “repensar a memória da cidade”. 

ARTISTAS – OBRAS

  • Nádia Taquary (1967, Salvador) vai ocupar 133 metros quadrados da Sala Exposição 1 com a instalação “Puxada de rede” (2013), que tem 25 metros quadrados e 4 metros de altura, composta por um barco com mastro, rede e 60 peixes de metal com banho de prata.

 

Nádia Taquary – Puxada de rede

 

  • Rosana Paulino (1967, São Paulo) mostrará um conjunto de sete monotipias sobre papel,dispostos em 83 metros quadrados na Sala de Exposição 2: “A deusa da fortuna” (2010), 53,5 x 39,5 cm; “Das sombras n.2” (2008),  54 x 39,5 cm; “Das sombras n.3” (2008), 54 x 39,5 cm; “Fábrica de sonhos” (2010), 54 x 39,5 cm; “Mudança de cena” (2010),  54 x 39,5 cm; “Mais domesmo” (2008), 54,5 x 39,5 cm; e “No país das maravilhas” (2010), 54 x 39,5 cm. No mesmo espaço, será exibido o vídeo “Das avós” (2019).

 

Rosana Paulino, “No país das maravilhas” (2010), monotipia sobre papel 54 x 39,5 cm

 

  • Tiago Sant’ana (1990, Santo Antônio de Jesus, Bahia; vive e trabalha em Salvador) vai ocupar 172 metros quadrados da Sala de Exposição 2 com a videoinstalação “Chão de estrelas” (2022), composta por um vídeo de 8’50 de duração, e trabalhos derivados dela: a fotografia“Artefato 01 – Chão de estrelas” e as esculturas “Artefato 02 – Chão de estrelas” e “Artefato 01 – Chão de estrelas” (espelho). O vídeo foi gravado na Chapada Diamantina, região que no século 18 sofreu intensa mineração com mão de obra escravista. O trabalho investiga situações imaginárias que traçam um paralelo entre a atividade da mineração no Brasil colonial e os processos de subjetivação da população negra. 

 

Tiago Sant’Ana, still do vídeo “Chão de estrelas” (2022)

 

  • Ayrson Heráclito (1968, Macaúbas, Bahia, e vive em Salvador) vai mostrar na Sala D. Pedro uma videoinstalação formada pelos vídeos “O Sacudimento da Casa da Torre” (2015), com 8’38” de duração, e “O Sacudimento da Maison des Esclaves em Gorée” (2015), 8’44”, e as fotografias “O Sacudimento da Casa da Torre – Díptico I”  (2015), com 460 x 130 cm; “O Sacudimento da Casa da Torre – Díptico II  – Sacerdotes”, 190 x 220 cm; “O Sacudimento da Maison des Esclaves em Gorée: Díptico I” (2015),  460 x 130 cm; e “O Sacudimento da Maison des  Esclaves em Gorée: Díptico I – Sacerdotes”(2015),  com 190 x 220 cm. As obras estarão em uma área de 267 metros quadrados.

 

Ayrson Heráclito, “Sacudimento da Maison des Esclaves em Gorée” (2015), detalhe.

 

  • Cipriano (1981, Petrópolis) ocupará 273 metros quadrados do Salão de Convenções com um conjunto de 16 trabalhos em técnica mista sobre tecido de algodão ou lençol: “Oração subordinada” (2012), 150 x 84 cm; “Pronome reto” (2019), 140 x 120 cm; “Ao sabor das correntes” (2020), 216 x 114 cm; “Interjeição” (2020);  216 x 114 cm; “Gênero neutro” (2023), 241 x 193 cm; “Não me deixa à toa” (2020), 216 x 114 cm; “Nhá, que da lama veio que da lama fica” (2020),  212 x 200 cm; “Carta para Xangô” (2020), 220 x 197 cm; “Saravá Yofá” (2021),  194 x 190 cm; “É pras almas!” (2020), 220 x 197 cm; “Com licença Pai Antônio eu não vim lhe visitá!” (2021), 197 x 189 cm; “A fumaça vai, a fumaça vem Pai Joaquim de Angola tem mironga, tem!” (2022), 210 x 138 cm; “A fumaça vai, a fumaça vem Pai Joaquim de Angola tem mironga, tem! II” (2022), 210 x 138 cm; “Cambinda mostra quem é” (2021), 209 x 195 cm; e  “Corre gira” (2023), com 250 x 200 cm.

 

Cipriano, “Carta para Xangô” (2020), 220 x 197 cm

 

Aline Motta(1974, Niterói; mora em São Paulo) terá obras no Salão Azul, uma rotunda com pé direito de 18 metros, que será preparada para ser um espaço de exibição de duas videoinstalações: “Pontes sobre abismos” (2017), 8’28; “Se o mar tivesse varandas” (2017), 9’11; e o vídeo “(Outros) fundamentos” (2017-2019), 15’48, em um espaço de 1.670 metros quadrados.

 

Aline Motta, “Pontes sobre abismos” (2017), crédito Elisa Mendes

 

O Salão Social, com área de aproximadamente 700 metros quadrados, receberá obras dos artistas:

  • Thiago Costa(1992, Bananeiras, Paraíba; vive e trabalha em João Pessoa e Recife) vai mostrar, em uma área de 194 metros quadrados, um conjunto de 27 esculturas inéditas, da série “Igbakis”, das quais 24 em ferro: “Aterro #1” (2023), 2m x 1m; “Estudos para Obés” (2023), sete peças com 40cm x 20cm cada; “Flechas para dentro” (2023), cinco peças, com 1 x 50cm cada; “Cobra de duas Cabeças” (2023), 60cm x 2m; “Exercícios para suspensão #1” (2023), cinco peças com dimensões variáveis; “Exercícios para suspensão #2” (2023), cinco peças, em dimensões variáveis; e três esculturas têxteis, também inéditas: “Sem título I” (2023), dimensões variáveis; “Sem título II” (2023), dimensões variáveis; e “Sem título III” (2023), dimensões variáveis.  
  • Moisés Patrício (1984, São Paulo) produziu especialmente para a exposição seis esculturas, em cimento e vaso de barro com 50 x 50 cm cada, da série “Nova Brasilidade” (2021/2023), e terá ainda duas pinturas:  “Amarração” (2022), com 200x200cm; e “O renascimento Iawo de Ogum” (2022), com 200x200cm, ocupando um espaço total de 133 metros quadrados. 
  • Juliana dos Santos (1987, São Paulo) vai ocupar 97 metros quadrados com a instalação inédita “Seixos” (2023), feita especialmente para a exposição, com aquarelas e pétalas de flor de Clitória. 
  • Azizi Cypriano (1998, Rio de Janeiro) fará a performance inédita “Assentamentos” (2023), derivada de seu trabalho “Movimento-grafia”, que será registrada em vídeo, exibido na exposição. Estarão também da artista duas fotografias da série “Movimento-grafia”. 
  • Lídia Lisbôa (1970, em Guaíra, Paraná; vive e trabalha em São Paulo) vai exibir cinco esculturas em cerâmica e porcelana da série “Cupinzeiro” (2022), com medidas que variam entre 40x35x22 cme58x40x28 cm. Ocupando uma área de 97 m2 a artista mostrará ainda duas grandes instalações em crochê de tecido: “Tetas que deram de mamar ao Mundo” (2021), 6,57 x 1,10 x 1,10 m, e cordões laterais de 7,02 m; e “Tetas que deram de mamar ao mundo” (2021), 6,57 x 150 x 150 cm, e cordões laterais de 7,02 m.

 

SERVIÇO: Centro Cultural Sesc Quitandinha

Inauguração: 15 de abril de 2023, a partir das 11h

Avenida Joaquim Rolla, nº 2, Quitandinha, Petrópolis

Terça a domingo, e feriados, das 9h30 às 17h (conclusão do itinerário até às 18h)

Visitas guiadas: terças a domingos e feriados, das 10h às 16h30 (conclusão do itinerário até as 18h)

Visitação ao entorno do Lago Quitandinha: terças a domingos e feriados, das 9h às 17h (em caso de chuva a visitação é suspensa)

Entrada gratuita

Assessor de Imprensa Sesc RJ – Wando Soares

+5521.98845.2931