Um novo estudo de 40 anos descobriu o fato revelador de que o que acontece na Floresta Amazônica afeta todo o sistema terrestre. Isso coloca um ponto de exclamação no fato de que a Floresta Amazônica, a mais crucial fonte de suporte de vida do planeta, está em grandes apuros, principalmente por causa do desmatamento massivo.
A Bacia do Rio Amazonas é a maior floresta tropical do mundo, maior do que as duas seguintes maiores florestas tropicais juntas, a Bacia do Congo e da Indonésia, e aproximadamente do tamanho dos 48 estados contíguos dos Estados Unidos, cobrindo 40% da América do Sul, incluindo partes do Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa.
De acordo com o World Wildlife Fund (WWF): “A Amazônia é de vital importância porque as pessoas ao redor do mundo, bem como localmente, dependem da floresta tropical. Não apenas para alimentos, água, madeira e medicamentos, mas para ajudar a estabilizar o clima – cerca de 76 bilhões de toneladas de carbono são armazenadas na floresta tropical amazônica. As árvores na Amazônia também liberam 20 bilhões de toneladas de água na atmosfera por dia, desempenhando um papel crítico nos ciclos globais e regionais de carbono e água.”
O estudo de 40 anos associa o desmatamento da Amazônia à redução da neve tibetana e à perda de gelo na Antártida. Ambos acarretam sérias consequências, respectivamente, a perda dos reservatórios de água naturais para milhões de pessoas, à medida que o nível do mar sobe por toda parte.
O estudo analisou 40 anos de temperaturas do ar, concluindo que o clima do planeta é uma função de várias forças díspares que interagem de tal forma que um novo estado planetário, hostil à vida, pode estar em andamento. O estudo analisou as temperaturas horárias próximas à superfície, acumuladas pelo Centro Europeu de Previsão do Tempo de Médio Prazo, através de uma grade global de 65.000 locais para um ciclo de 40 anos.
Especificamente, o estudo demonstrou como a temperatura do ar muda em uma região ondulada através do sistema climático para afetar as temperaturas em outras partes do globo. Por
exemplo: “O desmatamento na Amazônia provavelmente influencia o planalto tibetano através de um percurso complicado de 20.000 km, impulsionado por padrões de circulação atmosféricos e oceânicos. O estudo sugere que uma Amazônia saudável e funcional é crucial não apenas para o clima regional no Brasil, mas para todo o sistema terrestre.” (Fonte: Claire Asher, Amazon Deforestation Linked to Reduced Tibetan Snows, Antarctic Ice Loss: Study, Mongabay Series, 8 de março de 2023).
Eles identificaram potenciais pontos de instabilidade dos principais ecossistemas planetários que poderiam irromper um após o outro, mudando assim a vida em multidões de formas indesejáveis. O catalisador parece ser a Floresta Amazônica.
De acordo com Jingfang Fan, Cientista do Sistema Terra, na Universidade Normal de Pequim e no Instituto Potsdam, vários elementos de instabilidade do planeta poderiam irromper um após o outro em uma enorme cascata de eventos incontroláveis, ou seja, o bioma da Floresta Amazônica, as camadas de gelo da Antártida Oriental e Ocidental, o permafrost ártico e a Grande Barreira de Corais. De acordo com Teng Lui, Ph.D., da Universidade Normal de Pequim: “Esta é a primeira vez que a teoria (matemática) de redes complexas é aplicada no contexto de pontos de instabilidade (muito distantes)…Descobrimos que a Floresta Amazônica exibe uma teleconexão significativa com outros elementos de instabilidade”, Ibid.
O estudo identificou uma “forte correlação” entre as anomalias de temperatura na Amazônia e no planalto tibetano, distante cerca de 15.000 quilômetros (9.300 milhas) distantes um do outro. Os dados afirmaram que as temperaturas anormalmente quentes na Amazônia e no Tibete coincidiram durante os últimos 40 anos. Além disso, o estudo identificou a mesma relação com a Amazônia e a Antártica. (Fonte TC Liu, et al, Teleconnections Among Tipping Elements in the Earth System, Nature Climate Change, 2023)
“Teleconexões descrevem conexões remotas entre componentes do complexo sistema climático e refletem o transporte de energia ou materiais em escala global. As distâncias de grandes círculos de teleconexões são normalmente de milhares de quilômetros”, Ibid.
De fato, o estudo apoia estudos anteriores que sugerem que um ecossistema saudável, ou inversamente insalubre, na Amazônia, não é apenas impactante para a região, mas igualmente para o sistema terrestre inteiro.
De acordo com o World Wildlife Fund, a partir de 2022, trinta e cinco por cento (35%) da Floresta Amazônica estava totalmente perdida ou altamente degradada. Este fato é favorável ao apelo por um esforço de cooperação mundial para tomar todas as medidas corretivas necessárias, incluindo uma parada no desmatamento humano.
Outro estudo: Amazônia Contra o Relógio: Uma Avaliação Regional sobre Onde e Como Proteger 80% até 2025, publicada pela Rede Amazônica de Informações Socio-ambientais Georeferenciadas, mais abrangentes do que o estudo da WWF, afirma que 26% de todo o território amazônico mostra evidências de desmatamento e degradação dos quais 20% são categorizados como irreversíveis e 6% altamente degradados. De acordo com o estudo: “Dos nove países que compõem a bacia amazônica, o Brasil e a Bolívia têm as maiores quantidades de destruição e, como resultado, a savanização já está ocorrendo em ambos os países.”
“Na edição de fevereiro de 2020 do Science Advances, os Professores Thomas Lovejoy, membro sênior da Fundação das Nações Unidas, e Carlos Nobre, cientista climático do Instituto de Estudos Superiores da Universidade de São Paulo, advertiu que a perda de apenas 20 a 25% da floresta tropical poderia enviar a Amazônia para um ponto sem retorno, marcando uma transição imparável para um ecossistema mais seco e parecido com a savana”. (Fonte: The Amazon Approaches Its Tipping Point, The Nature Conservancy, 20 de agosto de 2020). Dr. Thomas Lovejoy (1941-2021) e Dr. Carlos Nobre são considerados há muito tempo os maiores especialistas do mundo na Amazônia.
“Já existem algumas soluções sendo implementadas sob o princípio de que a natureza e as pessoas podem prosperar juntas”. Por exemplo, em São Félix do Xingú, no estado brasileiro do Pará, a TNC apoia um projeto chamado Cacau Mais Sustentável. Um de seus objetivos é auxiliar os agricultores locais na adoção de práticas mais sustentáveis, como o plantio de cacaueiros nativos em terras anteriormente degradadas para evitar mais desmatamento. Tais sistemas agroflorestais implicam no plantio de culturas e árvores nativas lado a lado para reflorestar terras degradadas”, Ibid.
Enquanto isso, em forte contraste com as forças da natureza, a enorme floresta tropical está sendo comercializada em massa: (1) 600 projetos de infraestrutura em rios, (2) vinte novas rodovias planejadas, (3) quatrocentas em operação ou novas barragens em fase de planejamento, e (4) operações de mineração em grande escala. (WWF)
Segundo o Living Amazon Report 2022, publicação do World Wildlife Fund, 8 de novembro de 2022: “A situação começou a mostrar sinais de que se aproxima um ponto de não retorno: (1) As estações estão mudando, (2) As águas superficiais estão sendo perdidas, (3) Os rios estão se tornando cada vez mais desconectados e poluídos, e (4) as florestas estão sob imensa pressão de ondas cada vez mais devastadoras de desmatamento e incêndio.”
Reivindicações estatísticas: “Em 2022, mais de 145.000 surtos de incêndios florestais foram registrados na região da Amazônia Legal no Brasil”. Como regra geral, incêndios não ocorrem naturalmente em florestas tropicais úmidas e encharcadas.
O fogo e a pegada humana por trás dele estão desafiando 30% das espécies mais preciosas do mundo, ao mesmo tempo em que perturbam o equilíbrio da natureza em todo o mundo, degradando de forma irresponsável o maior dominó do planeta.
Traduzido do inglês por Victor Hugo Cavalcanti Alves