Na Alemanha cerca de 50% da população (tendência crescente) é atualmente a favor de negociações imediatas para terminar a guerra na Ucrânia. O fornecimento ininterrupto de novas e cada vez mais mortíferas armas para prolongar essa guerra, o sofrimento da população e a sistemática destruição do país são cada vez mais postas em causa.
O movimento pacifista encontrava-se paralisado até agora, pois os media mainstream na Alemanha estão quase todos sintonizados por igual e difamam massivamente quaisquer vozes discordantes. Mas finalmente que agora, passado um ano, se erguem cada vez mais vozes de protesto contra a loucura de serem os nossos próprios governos que nos empurram para uma guerra de maiores dimensões, quiçá nuclear ou até mesmo mundial!
Duas mulheres, a feminista Alice Schwarzer e a política de esquerda Sahra Wagenknecht (*), encabeçam a mais recente onda de protestos através da publicação dum Manifesto pela Paz que, numa semana apenas, conseguiu angariar  500 mil assinaturas. E querem levar as alemãs e os alemães à rua em Berlim no próximo sábado, dia 25 de Fevereiro!

 

Texto completo do Manifesto pela Paz:

Hoje (10/2/2023) é o 352º dia de guerra na Ucrânia. Mais de 200.000 soldados e de 50.000 civis já foram mortos até à data. Mulheres foram violadas, crianças vivem cheias de medo, um povo inteiro está traumatizado. E, se os combates continuarem assim, a Ucrânia será em breve um país despovoado e completamente destruído. E muitas pessoas por toda a Europa também temem o alargamento da guerra. Temem pelo seu futuro e pelo dos seus filhos.

O povo ucraniano, brutalmente invadido pela Rússia, precisa da nossa solidariedade. Mas que solidariedade é necessária agora? Por quanto mais tempo ainda se deverá lutar e morrer no campo de batalha da Ucrânia? E qual é agora, passado um ano, o verdadeiro objetivo desta guerra? A ministra dos Negócios Estrangeiros alemã, ainda há pouco tempo, disse que “nós” estamos “em guerra contra a Rússia”. A sério?

O Presidente Zelensky não faz segredo dos seus objetivos. Depois dos tanques prometidos, ele exige agora caças, mísseis de longo alcance e navios de guerra – para derrotar a Rússia em toda a linha? O Chanceler federal alemão, ainda continua a assegurar que não pretende enviar nem caças nem “tropas terrestres” para a Ucrânia. Mas quantas “linhas vermelhas” já foram atravessadas nos últimos meses?

É de recear que Putin lance uma contra-ofensiva máxima, o mais tardar quando for atacada a Crimeia. Estaremos então a descer por um imparável escorregadio em direção a uma guerra mundial e nuclear? Não seria a primeira grande guerra que assim teria começado. Mas talvez seja a última.

A Ucrânia pode vencer algumas batalhas – com o apoio do Ocidente. Mas não pode ganhar uma guerra contra a maior potência nuclear do mundo. É também isso o que diz o militar de mais alta patente dos EUA, o General Milley. Ele fala de um impasse em que nenhum dos lados pode vencer militarmente e de uma situação na qual a guerra só pode ser terminada à mesa das negociações. Então porque não agora já? Imediatamente!

Negociar não significa capitular. Negociar significa fazer cedências, de ambos os lados. Com o objetivo de evitar mais centenas de milhares de mortos e o agravamento da situação. É essa a nossa opinião, e assim pensa também metade da população alemã. É tempo de nos darem ouvidos!

Nós, cidadãs e cidadãos da Alemanha, não podemos influenciar diretamente os Estados Unidos da América e a Rússia ou os nossos vizinhos europeus. Mas podemos e devemos pedir contas ao nosso governo e ao Chanceler e recordá-lo daquilor que ele jurou na sua tomada de posse: “Evitar todo o mal para o povo alemão”.

Exortamos o Chanceler a parar a escalada do fornecimento de armas. Imediatamente! Ele deverá liderar uma forte aliança, tanto ao nível alemão como europeu, para obter um cessar-fogo e negociações de paz. Agora mesmo! Porque, por cada dia que passa, se perdem até mil novas vidas – e nos aproximamos ainda mais de uma terceira guerra mundial.


Alice Schwarzer e Sahra Wagenknecht
(*)

(tradução: Vasco Esteves)


Seguem-se as assinaturas de 69 jornalistas, escritores, artistas e atores, cientistas, políticos e sociólogos, dirigentes de instituições sociais, teólogos, etc., assim como dum brigadeiro-general.

Além disso, apela-se para a participação numa grande manifestação pela Paz no próximo dia 25 de Fevereiro às 14 horas, um ano após o início da guerra na Ucrânia, na Porta de Brandenburg em Berlim.

Aqui pode-se assinar online o manifesto (texto original em alemão):
https://www.change.org/p/manifestfuerfrieden-aufstandfuerfrieden


(*) Alice Schwarzer é a mais conhecida feminista alemã, jornalista e autora de vários livros feministas assim como fundadora, editora e chefe de redação da revista EMMA desde 1977.
Sahra Wagenknecht é uma economista alemã, autora de vários livros, e sobretudo uma das representantes mais conhecidas do partido DIE LINKE (comparável ao “Bloco de Esquerda” em Portugal).

O artigo original pode ser visto aquí