ARTES VISUAIS

Por Domi Valansi

 

Uma coletiva com cinco artistas mulheres, a exposição “Mulheres na Independência Brasileira” com a curadoria da artista Gabriela Noujaim, contou com o patrocínio do Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura e  Economia Criativa do Rio de Janeiro, através do Edital Retomada Cultural RJ2, e ocupa a Casa da Escada Colorida, na Escadaria Selarón, até o dia 18 de dezembro.

 

A partir do bicentenário da independência, a mostra propõe uma revisão histórica da posição da mulher na sociedade brasileira. A Proclamação da República foi um marco, que na prática não alterou a realidade do país marcada por revoltas, desigualdades sociais e machismo.

A exposição é uma mostra coletiva de Aline Pachamama, Cibele Nogueira, Esther Barki, Martha Niklaus e Virgínia Di Lauro, cujos trabalhos dão voz e visibilidade às mulheres e ainda fazem uma revisão histórica a respeito da posição da mulher na sociedade brasileira, assunto de extrema importância para uma nova reflexão sobre a reconstrução dessa identidade no Brasil.

Dessa forma, a exposição marca a partir do bicentenário da independência o que é essencial para a mudança de um cenário de grandes lutas, desigualdades sociais e outras questões mantidas na sociedade desde antes de 1822. Abordando a urgência de se dar voz e visibilidade às mulheres, nas mais diversas instâncias, para a reconstrução dessa identidade feminina brasileira.

Sobre as artistas

Aline Pachamama

A artista e escritora indígena, importante liderança do povo Puri da serra da Mantiqueira. Representante da ancestralidade brasileira, em que mulheres indígenas eram raptadas de suas tribos, estupradas e obrigas a casar com colonizadores. Uma história que
precisa deixar de ser ocultada por mais de 500 anos. Independência! Que independência e essa em que vejo meu povo assassinado por mais de 500 anos de história? indaga Aline.

Cibele Nogueira

Exibe em seus trabalhos Maria Felipa, uma heroína negra. Abafada em nossa história, mulher negra em contraponto ao grito burguês da família real portuguesa, Maria Felipa lutou bravamente durante o período da independência brasileira. Cibele nos convida a revisitar nossa história e buscar referências simbólicas. Mulher nordestina, assim como Maria Felipa, Cibele possui o mesmo vínculo que nos traz uma afirmação cultural do Nordeste fora do eixo Rio-São Paulo; com a bandeira do mapa de Itaparica, local de nascimento de Maria Felipa, objeto de sua pesquisa, apresenta-se nesta exposição a fim de homenagear essa heroína, criando uma identidade decolonial diferente da literatura cultivada nos livros de história.

Virginia Di Lauro

Artista negra que nasceu em Barra do Choça, interior da Bahia, e tem como objeto de pesquisa seu próprio corpo. Todas as marcas que ela revisita fazem parte de uma escrita que lhe atravessa a epiderme e estampa sua alma. Conflitos e angústias, na simplicidade de uma produção incessante à exaustão. Suas colagens e costuras integram um obsessivo trabalho de reconstrução da própria imagem, muitas vezes apagadas por tinta preta ou ressaltadas como jorros de sangue por linha e tinta vermelhas. No trabalho apresentado, descascar o texto, repovoá-lo 2020, a artista copia de alguma enciclopédia cartas para dom Pedro e as pinta com tintas preta, branca e vermelha para apagar referência históricas, criando uma escrita pictórica.

Martha Niklaus

A bandeira dos farrapos, a artista faz uma troca com moradores de rua: oferece roupas novas para receber as deles usadas, com que constrói uma bandeira brasileira − cheia de marcas, cheiros e vestígios orgânicos – evidência de nosso abismo social e da invisibilidade de uma parcela da sociedade que não tem seus direitos básicos para sobrevivência. Essa bandeira criada por Martha está profundamente ligada ao nosso sentido de pátria, que exclui boa parte de sua população, como já dizia o carnavalesco da Mangueira, pretos, pobres e indígenas.

Esther Barki

Entre o bem e o mal, deus e o diabo na terra do sol! Dualidade inerente ao ser humano, o corpo feminino exerce medo aos impulsos sexuais transformadores. Censura é a forma como uma sociedade conservadora responde à liberdade feminina em suas diversas formas. Tornado nos últimos anos tabu em performances dentro de importantes instituições culturais no Brasil e no mundo, o corpo, este mesmo usado como objeto de adoração e pesquisa na sociedade greco-romana, incomoda nos dias atuais uma sociedade doente que tem medo do afeto, tornando-se raivosa e presa a dogmas religiosos.
Deus e o diabo na terra do sol é o filme lançado no mesmo ano do golpe de 64 que retrata as maiores atrocidades realizadas por um falso Messias que, em meio a suas práticas religiosas, pregava o sacrifício de um recém-nascido. Da mesma forma que na Idade Média se queimavam
mulheres para combater o paganismo.

A Casa da Escada Colorida é um espaço independente de arte, localizado na Escadaria Selarón, que abriga programas multidisciplinares de residência artística e curadoria. A missão do projeto é fortalecer a comunidade artística e democratizar a cultura por meio de educação, geração de oportunidades e processos de gestão cultural. A Casa também promove exposições, cursos e cineclubes em suas duas unidades: Rio de Janeiro e São Paulo. (Instagram:@casadaescadacolorida)

Encerrada a exposição, um vídeo com toda a sua programação ficará disponível na plataforma do Youtube.

VISITAÇÃO
Casa da Escada Colorida
Escada Selarón – Rua Manuel Carneiro, 18 – Santa Teresa
De 3 a 18 de dezembro de 2022
De quarta a sábado, de 14h às 19h
Entrada gratuita.