MÚSICA
Por Renan Simões
Já houve um tempo em que era super cult afirmar que Transa (1972) era o melhor álbum de Caetano Veloso; hoje, isso é praticamente chover no molhado. O artista enxerta, em canções simples, diversos hiperlinks da cultura brasileira e mundial, apresentando um mosaico de suas vivências. Os músicos participantes são Jards Macalé (direção musical, arranjos, guitarra e violão), Moacyr Albuquerque (baixo), Tutty Moreno (bateria) e Áureo de Souza (percussão); a organicidade da performance do conjunto é admirável.
You don’t know me é certamente uma das melhores criações de Veloso, enriquecida pela participação de Gal Costa; tudo nessa música flui perfeitamente bem. Outro destaque inquestionável é a emocionante regravação de Mora na filosofia, de Monsueto Menezes. A irresistível Nine out of ten traz ricos diálogos com o reggae, enquanto o monótono desenvolvimento de It’s a long way nos apresenta ares muito interessantes.
Triste Bahia, com versos de Gregório de Mattos, é uma incrível viagem cinematográfica, que parece efetivamente evocar uma roda de capoeira, ou mesmo um ritual religioso afro; a música cresce pouco a pouco com uma infinidade de elementos que vão entrando e saindo de cena, com intensificações e atenuações de energia; há algumas sobras, mas a viagem vale a pena. É uma lástima que Neolithic man seja uma porcaria esquisita, e Nostalgia (that’s what’s rock’n’roll is all about) não realiza um fechamento merecido.
Caetano Veloso, Transa, referências do passado em prol de novas e ricas expressões musicais! Ouça, desfrute, reflita, repasse: