Chegamos à tecnologia com um baixo nível de compreensão.
As redes sociais nos deixaram deslumbrados. Acreditamos, na nossa estreita margem de familiaridade com o mundo da comunicação virtual, numa ilusão de influência para um universo cuja magnitude, mas também a sua profundidade, desconhecemos. Nesse torpor em que caímos – pelo simples fato de termos um instrumento capaz de nos conectar com o mundo – esquecemos algo tão básico quanto a importância da ação direta e, nessa ação, a responsabilidade que recai sobre nós para com nossos ambiente imediato.
Desta forma, o que deveria representar uma participação ativa no sistema do qual fazemos parte, torna-se uma imitação do exercício cidadão em mensagens, comunicados e protestos desencarnados de monitor em monitor, que morre ao ritmo de novas mensagens, novos anúncios e novos protestos. Tudo se encaixa nesse fluxo incessante: desde os apelos para uma ação que não se realiza, até a ilusão de ter gerado algum tipo de reação entre aqueles que nos ouvem à distância.
Nesse trânsito da poltrona em frente ao computador, esquecemos o mais importante: e é que aquelas redes que tanto nos fascinam, não nos pertencem. São sistemas gerenciados de locais remotos por seres anônimos e altamente treinados, completamente divorciados de nossas ansiedades e preocupações, e bem cientes de seu poder. Essas redes, esses sistemas de alta tecnologia que atravessam o mundo virtual estão completamente fora de nosso alcance e, por razões óbvias, fora de nossa capacidade de exercer qualquer tipo de influência sobre eles.
Isso não significa afastar-se desse recurso, que tem se mostrado extremamente útil. No entanto, é importante ter em mente que não substitui, em nenhum caso, o exercício direto do cidadão; aquele em cujas ações repousa todo o mecanismo do sistema político e, portanto, nossas democracias fracas. A presença cidadã nunca pode ser apenas virtual; não é apenas física, mas também imponente, barulhenta e exigente de seus direitos.
A capacidade humana de se acostumar a diferentes ambientes – como é o caso hoje da tecnologia – tende a criar ilusões e perder de vista a realidade. É imperativo entender a urgência de colocar os pés no chão e lutar por justiça e direitos a partir da mesma plataforma de onde são violados diariamente. Esse é o ensinamento forte e vital dos povos que, por sua condição de pobreza, não têm acesso a esse recurso sofisticado e discriminatório.
A dependência criada por estratégias de mercado agressivas e sedutoras do mundo da alta tecnologia deve ser mantida sob controle, por sua capacidade de nos alienar de nossa realidade. A presença nas redes sociais, às quais damos mais importância do que deveríamos, é uma boa forma de comunicação, mas não o recurso mágico para gerar mudanças estruturais em sistemas políticos que degeneraram em abusos e corrupção. Deixar-nos enganar pela sua duvidosa eficácia é uma forma de evitar um número significativo de responsabilidades.
A força de uma cidadania consciente está na sua presença, na sua voz e na sua capacidade de impor a sua autoridade, como tem sido demonstrado ao longo da história. Nada pode substituir o poder das massas quando elas assumem a autoridade que lhes pertence por direito.
Nada pode substituir o poder da presença física de uma cidadania consciente.
Tradução do espanhol de Verbena Córdula