RELATO

Por C. Alfredo Soares

 

Essa semana fui surpreendido por uma mensagem de amor e reflexão de uma das minhas filhas intercambistas. Receber uma mensagem dessas sempre aquece o coração da gente.

Fazem 10 anos que a Caro Van Meel, a primeira delas, esteve por um ano morando no Brasil. Ela tinha  15 anos, na época, e veio direto da Alemanha pra nossa casa.

Assustada com os novos costumes e sabores pensávamos que ela iria voltar pra casa no primeiro avião que partisse do Brasil pra sua terra natal. Mas aquela loirinha, linda, magrinha e tímida era valente. Ela veio pra ficar.

Quando apareceu no saguão do aeroporto Santos Dumont, vinda de São Paulo, onde seu voo internacional aterrissou, a recebemos esfuziantes com um caloroso abraço brasileiro, algo que ela não conhecia. Seus braços junto ao corpo permaneceram estáticos sem saber o que fazer.

Cercado pela nossa euforia, a nossa germânica balbucia algumas palavras em inglês com sotaque alemão, que as minhas filhas entendiam – eu até hoje não falo inglês – em meio a nossa fala alta costumeira.

Imediatamente a colocamos no carro para um curta viagem de 04 horas até Campos dos Goytacazes, norte do Estado do Rio.  Pra quem já havia viajado 12 horas ou mais de avião, não era uma viagem qualquer.

No meio do caminho pra casa resolvemos almoçar num restaurante bacana e ela ficou perdida em meio a tanta comida do self service, que resolveu comer arroz com tomate. Entramos em desespero ali mesmo. Pensamos: ela vai morrer de fome comendo só isso, o que será que ela gosta de comer?

Ninguém da família sabia nada da culinária alemã.

Seguimos em frente e chegamos a casa no meio da tarde. Tínhamos sinalizado a casa com etiquetas, dando nome a cada coisa que ela pudesse pegar. Os nomes estavam em português, como a AFS havia nos orientado. Caro foi se ambientando e convivendo. Em pouco mais de três meses já conversava em português conosco, abandonando o inglês. Nunca ousamos aprender alemão com ela, esse não era o objetivo.

O intercâmbio visa propiciar aos jovens, na sua grande maioria, uma experiência nova mostrando o quanto somos diversos e, ao mesmo tempo, parecidos independente do país em que nascemos. Durante todo esse tempo Caro foi nossa filha. Dormia, comia, ia e vinha como os demais filhos. O intercâmbio foi tão intenso, que até hoje sentimos sua falta.

Depois dela ainda recebemos a Senna, outra filha maravilhosa que veio da Turquia. Senna é um  outro lindo capítulo memorável à parte. Amamos a duas intensamente. Elas nos ensinaram que o amor não foi feito pra guardar numa caixinha. Ele é muito mais abrangente.

Caro, depois do fim do seu período de um ano,  até voltou ao Brasil trazendo sua bela família. Chegaram em pleno carnaval, foi um loucura. Mas foi prazeroso tê-los por aqui. Seu gesto mostrou o quanto foi importante pra ela participar do intercambio. Ela agora tinha uma família brasileira pra chamar de sua.

Tenho que confessar que eu não sabia que tinha duas outras filhas lindas pelo mundo. As encontrei e aumentei a prole. Eu adoro ver a casa cheia de filhos. No momento ela está se esvaziando. Cada filho procura o seu espaço.

A mensagem que eu recebi é a prova de que o amor não morre, nem mesmo com as maiores distâncias.

Hoje minha filha Kaká mora na Irlanda, minha filha/afilhada Rapha mora em Singapura e não será surpresa que os demais procurem um espaço no mundo para seu desenvolvimento e, se não fossem as minhas filhas intercambistas,  talvez não soubesse lidar  com essas ausências físicas.

Que elas saibam que estejam onde estiver o nosso amor estará sempre preso a esse elástico que é capaz de esticar sem se romper.

Quando a saudade aperta, a gente se teletransporta feito matriz e se junta no afeto sincero de “um amor tão puro que sabe a força que tem”, parafraseando o gênio Djavan.

Texto para Caro Van Meel e Senna Basgul