Hoje, ainda temos um novo tratado feito por nações cansadas de constantes atrasos dos estados com acervos nucleares, cansadas de desinformação e de violações de acordos. Na época, o Conselho de Nova York repetidamente nos colocou de volta no caminho rumo às necessidades urgentes da cidade e da nação, ao invés de seguir as falsas alegações da indústria de armas nucleares. Essa é a escolha que lideranças podem e devem fazer novamente. Como JFK invocou: “Nós podemos. Nós devemos.”
Que nós verdadeiramente reacendamos e apoiemos a dedicação e o trabalho incansável de milhões de cidadãos, milhares de diplomatas e organizações ao longo de várias décadas. Que ponhamos um fim ao silêncio. É errado e irresponsável, assim como nossos governos avançando para renovar os meios de nossa destruição final.
Naturalmente, a vida acabará para cada um de nós, mas sempre temos a opção de ouvir o nosso melhor lado. Pensando no legado e nas possibilidades magníficas para as gerações futuras, esta é uma das raras ocasiões em que nos enganamos ao dizer: “Relaxa, não é o fim do mundo”.
O Congresso dos EUA ainda se volta para Nova Iorque em busca de liderança e legitimidade. Há uma boa razão pela qual a representante norte-americana Eleanor Holmes Norton apresentou à prefeitura de NY um testemunho apaixonado apoiando a resolução 0976-2019 e enfrentando a atual corrida às armas nucleares. Talvez Corey Johnson não esteja ciente de que Holmes apresentou um projeto de lei no Congresso que pede que todos nós defendamos esse mesmo Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares, e que concentremos nossos recursos em lidar com o clima e outros desafios vitais. Talvez Johnson e os poucos anônimos que o influenciam não saibam que nossa representante em Nova York Carolyn Maloney está apoiando o projeto de lei de Eleanor Holmes.
O presidente do Conselho talvez tenha uma conversa com Carolyn Maloney sobre o porquê de ela achar que Nova Iorque tinha a obrigação de se posicionar com relação a assuntos internacionais que afetavam a todos nós, quando era membro da Câmara Municipal na década de 80. Por favor, pergunte a ela por que ela assinou uma série de resoluções do conselho de Nova York — e votou nelas — exigindo o fim da corrida armamentista nuclear entre a União Soviética e os EUA, pedindo que as partes negociassem e, mais uma vez, que o dinheiro economizado fosse usado para prioridades reais da cidade.
Não é necessário reinventarmos a roda. Presidente Corey Johnson, você pode ler a história/história contada por uma feminista dos nossos grandes nova iorquinos nesta matéria; Dorothy Day, Norman Cousins, Bayard Rustin, Eleanor Roosevelt e Adlai Stevenson são alguns dos bravos nomes das décadas de 40 e 50. Sim, os nova-iorquinos já se posicionaram com clareza, todas as profissões e níveis da sociedade presentes e representados nas ruas; todas as raças, gêneros, status socioeconômicos, de sindicatos a veteranos, de professores a médicos e cientistas, aos nossos diversos líderes religiosos, velhos e jovens, todos lutando pela vida, exigindo que nossos representantes trabalhem para acabar com a destruição sem sentido da corrida armamentista. Permita que esse chamado pela vida ecoe em você hoje. Honre os muitos milhares de nós que marcharam nas ruas de Nova Iorque durante a segunda metade da década de 1970 e que nos levaram à marcha antinuclear de junho de 1982, com mais de um milhão enchendo todos os cantos da cidade e cercando o “clube nuclear” das Missões da ONU.
De acordo com o ex-presidente da União Soviética, Mikhail Gorbachev,, essas manifestações em nossas ruas foram o que o inspirou a estender a mão para o presidente Ronald Reagan, apesar de Reagan ter chamado a URSS de Império do Mal em repetidas ocasiões. Gorbachev, que aos 90 anos de idade ainda defende com vigor que devemos nos unir e nos livrardas armas nucleares, tem um jovem parente, Michael Gorbatchev, morador nova iorquino de longa data, que testemunhou na prefeitura em favor da resolução.
Em suas memórias, Gorbachev escreveu sobre o momento em que ele e o Presidente Reagan, em 1986, em Reykjavik, sentaram-se um de frente para o outro, com vista para o oceano, as equipes de cada um trabalhando duro… “Tanto as equipes de negociação quanto a imprensa perceberam que aquilo era uma oportunidade única para quebrar o círculo vicioso da corrida armamentista nuclear. PORÉM, no momento em que aparentemente tínhamos chegado a um acordo, alguma força invisível repentina paralisou a mão do Presidente dos EUA.”
Ele e nós vimos com mais clareza que aquela força oculta era e continua sendo o insidioso complexo militar industrial congressional universitário bancado por todos nós. Corey Johnson, Scott Stringer, perguntem a si mesmos: foi essa a mesma força que paralisou vocês hoje? Vocês vão se libertar dela?
Nova Iorque nomeou a nova balsa de Staten Island de “the Dorothy Day”, para chegar ao nosso belo porto. Eles sabem quantas vezes Day foi presa protestando em frente à prefeitura contra a insanidade das armas nucleares? Outra nova iorquina, Martha Henessy, seguindo o caminho da avó Dorothy Day, passou pela Prisão Federal por desobediência civil não violenta. Juntamente com 6 colegas do movimento Catholic Worker, ela escolheu o dia 4 de abril de 2018 para entrar na base de submarinos nucleares na Geórgia, exatamente no 50º aniversário do trágico assassinato do Reverendo Dr. Martin Luther King Jr. Os sete manifestantes carregavam uma grande bandeira do ativista político e estavam dispostos a cumprir pena na cadeia e arriscar as próprias vidas para enfrentar um sistema jurídico totalmente distorcido. Eles também ressoam o chamado profético para o despertar da população. Além da bandeira, levaram para a base uma linha do tempo das leis e princípios que nossos representantes violam diariamente e o livro The Doomsday Machine (“A Máquina do Juízo Final: confissões de um estrategista nuclear”, numa tradução livre), de Daniel Ellsberg. A base invadida tem material nuclear suficiente para, sozinha, extinguir toda a vida humana, repetidas vezes.
Há uma razão pela qual o Dr. King tenha viajado aqui para Nova Iorque em 1967 e entregado sua corajosa acusação, novamente ligando militarismo, racismo e pobreza. Há uma razão clara para uma das maiores vozes da América ter especificamente criticado as armas nucleares. Todos nós saímos ganhando com a lembrança daquele vibrante apelo de 4 de abril de 1967. Nos últimos anos de vida, ele incentivou: “A hora é sempre certa, para fazer o que é certo.” Corey Johnson, nós temos menos de três semanas para fazer o que é certo. Basta permitir uma votação e nos conceder um pouco do previamente mencionado apoio total para a causa.
Vamos buscar inspiração e ouvir outra grande voz americana que nos mostra como acabar com a loucura nuclear e melhorar o mundo, juntos; discurso do presidente John F. Kennedy na American University, junho de 1963. Para conhecer o trabalho de muita coragem que ele exercia nos bastidores, em nome de todos nós, para servir aquilo a que somos chamados a dar continuidade, hoje, a recomendação, com muito apreço, é a leitura da façanha final de James Douglass, JFK and the Unspeakable (“JFK e o Indizível”, numa tradução livre).
Enchendo a caixa de entrada de todos com e-mails de anúncios, Scott Stringer está destacando que conseguiu, em nosso favor, o desinvestimento de combustíveis fósseis (vamos reconhecer os esforços poderosos dos ativistas que o conduziram em cada passo do caminho). Como já mencionado, a Resolução 0976 requer menos demanda.
Quando abordado respeitosamente com um pedido para desinvestir de empresas de armas nucleares desses mesmos fundos de aposentadoria e quando lembrado da carta de Danny Dromm, Scott Stringer descontrolou-se: “Não vou pensar nisso até terminar de lidar com os combustíveis fósseis!”. Explicaram a ele que uma questão complementa a outra e que a solicitação era significativamente menos trabalhosa. Em termos da verdadeira crise climática, os dois desafios permanecem inseparáveis. Todos os nossos objetivos e esforços terão sido em vão se houver um único conflito entre países menores, um ataque cibernético ou um defeito acidental em algum computador (em muitas ocasiões — não divulgadas para o público — já chegamos bem perto disso). Uma das ogivas da atualidade é múltipla vezes mais destrutiva que Hiroshima.
Os leitores da Pressenza já estão bem cientes de que, por quatro anos, 155 nações uniram esforços para refletir sobre as verdadeiras consequências humanitárias das armas nucleares. A maioria dos países ficou extremamente frustrada com os estados que têm posse de armas nucleares violando, por muitas décadas, obrigações, ignorando inúmeros tratados, os Princípios de Nuremberg, bem como o próprio artigo primeiro da Carta da ONU. Esses estados continuam a divergir uns dos outros. Especificamente nos últimos quatro anos, eles apontaram dedos publicamente, culpando terceiros, não assumindo responsabilidade do atraso proposital e vociferando insultos em reuniões. O “bê a bá” da diplomacia jogado no lixo. Espalham propagandas enganosas e estão construindo terríveis exércitos, apesar da maioria dos cidadãos saber que um mundo melhor, onde nações confiam mais umas nas outras, e mais pacífico, livre de tantas ameaças constantes e mortais, é possível. Um acidente ou lançamento intencional vai nos despertar do “pensamento utópico”, mas será simplesmente tarde demais. Os cidadãos do mundo e 122 nações hoje dizem Não para essa loucura e Sim para encararmos nossos verdadeiros desafios e alegrias.
A indústria depende da teoria da dissuasão nuclear para garantir um faturamento. Está claro que a teoria continua falha, ingênua e cada vez mais perigosa. O acobertamento dos fatos e o altíssimo custo são mantidos por “dissuasão”, o que nos leva a um precipício cada vez mais nefasto.
Na conferência final, 122 nações trabalharam dia e noite, por meses. Em sete de julho de 2017, elas adotaram o que muitos disseram ser impossível, o acerto de contas histórico, o Tratado sobre Proibição das Armas Nucleares. O “Tratado de Banimento” continua com o cuidadoso processo de ratificação nessas nações e, em 21 de janeiro de 2021, entrou em vigor, tornando-se uma lei internacional.
Ao contrário da propaganda, nossa nação e todos os estados com armas nucleares foram sempre — e ainda são — bem-vindos nesse processo e convidados a participar dele, desde que se sintam prontos para isso. Ao invés de aceitar o convite, não apenas ignoramos e tentamos bloquear o Tratado, como espalhamos informações enganosas sobre ele, que ganharam proporção com a grande mídia. Os estados com acervo nuclear falsamente afirmam que o Tratado interfere no trabalho de desarmamento e em outras conquistas legais. Nada poderia estar mais distante da verdade.
A investigação individual dos fatos é muito bem-vinda. Democracia participativa. Há muitas organizações que podem nos levar à verdade, à realidade. Juntamente com outros registros, a audiência da Câmara Municipal e o vasto testemunho estão disponíveis para o público e, principalmente, para o eleitorado de Nova Iorque (link acima).
Quando tamanho bom senso é abraçado pela maioria e depois descartado e os esforços dos cidadãos, colocados diante dos nossos representantes e depois ignorados, tais representantes não deveriam ser eleitos. Proteger interesses econômicos/políticos ocultos ao invés dos interesses da cidade não é uma qualidade que podemos nos dar ao luxo de permitir em um Controlador nem em qualquer político.
Cada um dos candidatos a prefeito poderia se diferenciar dos demais anunciando que irá não apenas apoiar a Câmara Municipal na Resolução 0976, como fazer parte do Mayors for Peace (Prefeitos pela Paz, em tradução livre). Atualmente, mais de 8000 prefeitos no mundo todo uniram-se especificamente contra a guerra e as armas nucleares.
É chegada a hora, mais uma vez, para líderes corajosos e sábios ressurgirem e dizerem a verdade. Deixemos essa cidade na qual Wall Street cuida dos negócios acenar aos que nos representam nos corredores do Congresso para que deixem de contribuir com o círculo vicioso da corrida armamentista nuclear dos dias de hoje.
Deixemos que eles saibam do nosso entendimento a respeito da nossa segurança: ela reside na liderança e no processo positivo do Tratado sobre Proibição de Armas Nucleares.
Corey Johnson, Danny Dromm, Conselho de Nova Iorque: vocês votarão na Res. 0976-2019?
O livro de Douglass’s, JFK and the Unspeakable, começa com uma pergunta reveladora do presidente John F. Kennedy:
“Você acredita em redenção, não é mesmo?”
Vídeo da audiência pública em 28/01/2020
Traduzido do inglês para o português por Felipe Balduíno / Revisado por Larissa Dufner