CRÔNICA

 

 

Por C. Alfredo Soares

 

 

E os dias avançam impiedosos. Feito um trator sobre a terra fértil, ele remói a todos implacavelmente. A vida é um flash, não tem como pará-la pra secar as feridas, as perdas, os erros, os infortúnios, nem comemorar a vitória da noite que se foi condignamente, é possível. 

O dia seguinte tem suas próprias conquistas. 

Agora mesmo não estamos podendo velar nossos mortos com o tempo da despedida. Qual não será o dano que isto tem causado naqueles que ficam e que de repente se veem sozinhos? Soube que em alguns países Asiáticos os velórios duram dias – Não mais na pandemia – o corpo ali embalsamado recebe as condolências dos parentes e amigos, que se revezam em contar histórias do falecido, cantar músicas que ele gostava, beber o que ele bebia, chorar e sorrir na sua partida. 

O poeta Nelson Cavaquinho, cantava que “o sol há de brilhar mais uma vez, a luz há  de chegar aos corações” , no seu lindo samba Juízo Final.  Que assim seja mestre.

Somente pessoas sensíveis podem nos presentear com tamanho alento. 

Talvez estejamos na antessala do Juízo Final esperando o sol voltar a brilhar. Que sejamos perdoados pelo Divino. Que sua graça seja maior do que a nossa ignorância e medo. 

Que esse dia chegue logo , mas que a lição fique plantada dentro de nós como um aviso que não caiamos mais em promessas vãs e delírios totalitaristas. Que os dias nasçam trazendo a alegria do canto do bem-te-vi que festeja o sol aquecendo suas asas ou nos abramos pra ele feito um girassol que persegue o astro solar até ele se por.  

A graça da vida é ser feliz. Aprender isto leva tempo, a vida como ela é nos consome um aos outros. Mas ainda estamos aqui. É preciso ter coragem e enfrentar os percalços. 

Tomara que possamos  alcançar o nosso juízo final naturalmente, sem forçar a porta do céu, já que a morte é a única coisa certa na vida. O caminho, até o derradeiro dia,  é você quem faz. 

Viva!