SEGUNDA-ENCRUZA
Por Dândi-à-Deriva
O pulso ainda pulsa.
O Luto ainda luta.
A luta gera mais fases que a lua…
A Luta ainda Luto.
Ainda Luto a Luta.
Em mim, o Luto…
Luta, Ainda.
O Luto é como um soluço resoluto.
Não há solução para esse soluçar.
O Luto é líquido imiscível.
Corre junto com o Sangue.
O Luto dói enquanto pulsa.
A Luta pulsa enquanto Luto.
O Luto faz o sangue borbulhar.
Tem o suor da Champanha da Vitória…
E o gosto da surra de quem apanha.
Para o luto, só a luta não basta.
Só há algo que supera o luto.
O Amor, posto que chama.
Embora chama, o Amor incinera o luto.
O Amor nos chama a seguir na Luta.
Apesar do Luto.
O Luto posto diante do Amor
Perece no Pireu.
O Amor é catábase do Luto.
Dessa vida só se leva,
ó Pá,
a Vida que se leva.
As lutas que se lutam
Os lutos que se enlutam…
Não cabem no caixão.
O Caixão desce à Terra.
A Terra come praticamente tudo.
Só não come a Saudade…
Saudade é o Sal da Terra.
Salga o Sol e aterra.
A Terra é Azul e Redonda.
O Céu é todo feito de Saudade.
As nuvens são as ovelhas perdidas
Que vêm nos buscar de volta ao redil.
Eis me aqui,
ó Pai,
o Filho Pródigo.
Gastei tudo o que, em vida, me deste.
Sou ainda o homem mais rico deste mundo.
Mundo, triste mundo, Tio Raimundo.
Ele, o Caçula;
Eu, o Primogênito.
Não há Gênio, nem mágica
Não há riqueza, nem lápide
Que tire, de mim, toda a saudade…
Que, de mim, transborda.
Sou borda.
Caio da minha borda.
Sou bordão-laterito:
“— Aqui é Aroeira!”
Sou Árvore que brota do chão.
[Poema dedicado a todos os que partiram durante a Pandemia do COVID-19. Em especial, uma homenagem a Meu Pai, Antônio]