CONTO
Por Luiza Machado
Meu celular tem uma função chamada “memórias”. Eventualmente ele coloca fotos antigas na minha tela inicial. A intenção é boa mas, frequentemente, o resultado é desagradável. Assim como algumas fotos de quem eu agora não sinto a falta. Não quero me lembrar do que não sobrou do que eu sentia, ou então da covardia que veio de onde eu acreditava haver algum amor, o qual, por mais que visivelmente findável, ainda deveria ser motivo de respeito mútuo. Não foi. Não é amargura seguir com um pensamento mais maldoso. Seguir sabendo que a mesma boca que beija também difama. Judas era um amigo, não um estranho, certo? Às vezes, prezamos quem ainda vai nos desprezar.
Apesar de tudo eu sigo com meu coração tranquilo, porque hoje o reflexo no espelho não me é estranho. Eu conheço as falhas na superfície e no interior, conheço o valor desse conjunto e ele vale muito para mim. Por isso eu jamais vou aceitar quem não me enxerga e não me dá a mesma importância que eu mesma me dou.