Caros amigos e habibis,
Eu gostaria de compartilhar uma experiência com todos vocês. Uma experiência que muito me impressionou. Uma experiência que permanecerá comigo para sempre.
Por Amer Filali
Na sexta-feira de 21 de maio, eu estava em Belém participando de uma marcha pela liberdade organizada por três organizações civis: Combatants for Peace pela paz, Stand Together e Breaking the Silence. O propósito desse protesto pacífico era o fim da guerra na Faixa de Gaza, dos despejos no bairro de Sheik Jarra e do Nakba e ocupação em curso.
Para mim, é importante enfatizar que esse protesto pacífico foi realizado por palestinos e israelenses marchando juntos. Nem mesmo uma pedra foi atirada. Contudo, os soldados israelenses decidiram, de forma cruel, atacar a mim e a meus companheiros de protesto com gás lacrimogêneo, granadas de atordoamento e a violência habitual, sem consideração pela saúde e segurança dos manifestantes.
Eu estava entre os oito membros dos Combatants for Peace que foram presos e mantidos em um centro de detenção próximo. Não fui informado por que eu estava sendo detido e acorrentado; e apenas depois de oito horas de espera que fui levado para a sala de interrogatório e informado das quatro falsas acusações contra mim. Não conseguia me reconhecer nas coisas que falavam sobre mim e sobre o comportamento que me levou à prisão. Fizeram-me parecer um criminoso perigoso e violento, apesar de eu não ter feito nada além de obedecer quando fui ilegalmente preso por manifestação pacífica.
O veredito? Fui proibido de pisar em Belém e Khalil pelos próximos 15 dias — e fui requisitado a pagar uma multa equivalente a metade de um salário mensal da Cisjordânia. Ridículo. Apesar disso, sou muito grato pelo apoio da família dos Combatentes pela Paz.
Eles não apenas demonstraram profundo apoio emocional e solidariedade — mas também esperaram fora do centro de detenção o tempo todo e não partiram até que o último membro tivesse sido liberado. Sem esse suporte, o advogado e o apoio legal dos Combatants for Peace, eu não teria sido dispensado — até mesmo cobriram minha fiança. Sou eternamente grato e não tenho palavras para expressar o meu apreço.
O ataque à marcha pela liberdade aconteceu pouco depois do cessar-fogo entre o Hamas e Israel, deixando mais claro do que nunca que a potência dominante não está, de modo algum, interessada em paz a longo prazo. Isso é apenas outro exemplo da violência e injustiça sistemática que ocorre todos os dias em toda a Palestina.
Acredito – agora mais do que nunca – que a solidariedade entre as pessoas em busca do fim da ocupação por meio de ativismo não-violento irá prevalecer. Na verdade, meu (curto) encarceramento deixou uma impressão permanente POSITIVA não apenas em mim e em meus colegas detidos, mas também nos guardas prisionais da ocupação. Vendo o que nossas palavras causaram neles — fazendo-os refletirem — fez-me acreditar que a mudança é possível.
Amer Filali, 29 anos, nasceu em Jerusalém e atualmente vive em Ramallah. Amer morou cinco anos na Rússia e Ucrânia, onde estudou engenharia mecânica, mas se comprometeu totalmente com o ativismo pacífico em seu retorno à Palestina.
Após testemunhar a morte de um colega de escola, Amer sentiu um verdadeiro chamado à resolução não-violenta de conflitos, quando tinha apenas 14 anos. Desde então, ele tem se envolvido com organizações como Sulha, Combatentes pela Paz e Friendships Across Borders.
Com mais de uma década de compromisso com o ativismo pela paz, Amer continua a luta por justiça, direitos iguais e um mundo onde palestinos e israelenses possam viver juntos em paz.
Traduzido do inglês por Jenifer Araújo / Revisado por Felipe Balduíno