POEMA

 

 

Por C. Alfredo Soares

 

 

Na encantaria ele ria

Zombava de tudo e de todos

Pegava a faca e passava na testa

Bebia na taça que não era sua

 

Não pedia licença

Lambia os dedos e sorria

Todos entreolhavam

Ele debochava e continuava

 

Cuspia no prato com galinha

Só descrença a luz do dia

Apagava a vela

Escurecia

 

Exu avisa

Ele sempre alerta

O dia do acerto se aproximava

Ali diante de sua imagem

Arregaria

 

Quebraria seus pertences

Bufaria feito touro

Seu olho viraria

Teria medo das sombras do dia

 

Amedrontaria os incautos

Mas não os encantados

Os caras pintadas

A tropa do cajado

 

A água de cheiro do malandro

A vela branca acessa no canto

As folhas assentadas no chão

O moleque sábia o que aguardava

 

A testa ralada na soleira da rua

Denunciava o fim do caminho

O homem rastejava feito lagarto

O bafo da esquina pesava

 

Todos os carmas misturados no asfalto

O cruzo da encruzilhada a vida

O ralo do rato entupido de lama

A vida espremida entre o sim e o não

 

O dia é o hoje

O juízo afinal chegou

Seria isso ou aquilo

Homem ou moleque

A vida sem medo urgia

 

Ser bicho solto ou gente

A decisão no olho no olho

Ninguém mais pra acudir

Nem mãe, tia ou padrinho

 

No ar o deboche dos incrédulos

Mãos atadas ao peito

Um ser perdido do rebanho

Só carecendo de afagos

 

Dos descaminhos é possível desviar

Mas a vezes é preciso um bobe pra desatolar

Quem entende é de entender

 

Laroiê Exu!