CONTO
Por C. Alfredo Soares
Por dentro das nuvens pesadas mora temporal. Como um artista na coxia ele se apronta para seu espetáculo.
Os raios lépidos e luminosos, que partem ao meio tudo que tocam, prenunciam o grande ato.
Os trovões assustadores dão o tom perfeito do suspense criado.
Cubro os espelhos da casa, guardo as tesouras e fecho as janelas que dão para o jardim. Deixo a porta aberta para melhor ver e ouvir o barulho bom da água caindo. Os raios serpenteiam o horizonte, assustando, mesmo caindo longe de mim.
Lá fora as plantas nos vasos, praças e jardins, se afogam no aguaceiro torrencial que agora jorra das nuvens aliviando o calor do dia que ainda não se foi. Os riachos enchem, as árvores vergam.
A única certeza que consola é que o sol paira altivo mostrando sua grande alma, dividindo seu palco, a terra, com a intempérie passageira. O mau tempo nunca será para sempre. Mesmo que leve muito de nós pela correnteza abaixo. As aguias voltarão a plainar destemidas. Nem por isso os pardais deixarão de piar nos ninhos. Os homens também sairão, certos de que o novo dia se traduzirá em novas oportunidades.
Resistir também nos cabe. Temos o verbo como aliado. A palavra que concilia. O amor de mãe, da mulher e das crias.
A chuva é parte do ciclo. Ela marca o fim do estio,
onde tudo se encontra maduro.
É o sol, do outro dia, quem ilumina o caminho a seguir. Parindo do solo seus grãos. Terra fecunda que nos alimenta e nos traga recolocando tudo no seu devido lugar. Em breve o jardim estará florido novamente. Nem lembraremos do temporal ontem.
Até virarmos, enfim, semente, indo embora para que tudo possa rebrotar, sendo uma continuação de nós mesmos num novo tempo presente… a rotação perfeita. Aprender é tão importante quanto compreender.
Sejamos então felizes.
A vida é um presente que não carece tudo explicar.
Ser surpreendido é nosso desejo inconscientemente.
Depois do temporal a gente sabe que vem a bonança. Então deixa chover.