Por Francesca Fermanelli
Não só a América das grandes oportunidades. Não só a América das belas mansões de Beverly Hills, da diversão desenfreada de Las Vegas e das estrelas de Hollywood. Inesperadamente, enquanto passeava pela Market Street, a principal rua de San Francisco, me deparo com dezenas de sem tetos. Até aqui, nada de estranho. Mas prestando atenção, descubro com grande curiosidade que a maior parte destas pessoas são jovens – muito jovens. Ao olhar seus rostos, não lhes daria mais de 25 anos. Isso causou interesse em mim, mas não nos outros passantes, que se divertem em fazer compras, talvez indiferentes, talvez já habituados às fortes diferenças sociais dos Estados Unidos. Uma moça, entre as várias pessoas, está agachada no chão segurando um cartaz escrito “tenho 19 anos e já sou uma sem teto: ajudem-me”.
Prosseguindo o meu passeio em direção ao maravilhoso Pier 39, decido parar para conversar com uma destas pessoas, para entender o que está acontecendo, para compreender o que os leva a tomar uma decisão tão drástica – caso tenham sido eles a tomarem tal decisão. Fazendo-lhes não poucas perguntas, finalmente consegui uma resposta para as minhas dúvidas: são manifestantes. Fazem um forte protesto contra uma sociedade, segundo eles, classista que não dá espaço a todos os cidadãos e não oferece oportunidades iguais para todos. Estão desiludidos, esperançosos de algo possa mudar a partir do seu protesto. Aparentemente, esta iniciativa está ganhando espaço também em outras cidades dos Estados Unidos – verificarei isso nas minhas próximas paradas.
Depois de anos de silêncio, depois de todas as acusações de uma nova geração “queimada”, sem estímulos, sem capacidade de lutar por um sistema melhor, parece que voltamos ao já distante 1968, ainda que de forma diversa. O seu objetivo é o de chegar a extremos. E eles realmente acreditam nisso, porque o fazem sofrendo as consequências na própria pele, colocando em risco os seus próprios futuros, indo contra a vontade das suas famílias, que, segundo eles, não compreendem esta escolha tão categórica. Um rapaz de 23 anos me revela que há três meses não vai a sua cama. O conforto do qual dispunha já foi esquecido – a cama quente e o banho fresco são agora uma recordação distante. Vivem em condições difíceis, estão frequentemente sob o controle da polícia local, que “limita a sua possibilidade de expressão”. A partir desta tomada extrema de posição é possível prever uma retomada de consciência das novas gerações. A contestação social se depara ainda com o panorama atual, pronta para expandir-se, ao menos até que obtenha o que reivindica.
Por ora, esperamos, não com pouco interesse, o desenvolvimento desta questão, curiosos sobre qual será a resposta do governo.
Artigo original em: http://www.avantionline.it/2014/08/amara-america-san-francisco-e-i-giovani-homeless-per-protesta/#.U_RCtZR_uSo
Tradução: Debora Gastal, do original em italiano