O extermínio da população negra não pode ser a marca do Brasil
Os números mais recentes mostram que, no Brasil, o desemprego atingiu taxa recorde, ou seja, chegou a quase 15% no trimestre que se encerrou no mês de setembro. Segundo os números do IBGE, esse percentual corresponde a mais de 14 milhões de pessoas.
Mas essa tragédia, como todas as demais mazelas sociais, atingiu com maior força a população negra. Das 8 milhões de pessoas que perderam os empregos entre o 1º e o 2º trimestres de 2020, 6,3 milhões eram negros e negras, o equivalente a 71% do total.
a pandemia conseguiu criar ainda mais adversidades para essa população
FORÇA DE TRABALHO POR RAÇA/COR
Fonte: IBGE, PnadC. Elaboração: DIEESE
De acordo com o Boletim Especial do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), intitulado “Desigualdade entre negros e brancos se aprofunda durante a pandemia”, escrito com base em dados do IBGE, não é nenhuma novidade o fato de negras e negros “enfrentarem dificuldades maiores para encontrarem uma colocação […], mas a pandemia conseguiu criar ainda mais adversidades para essa população”.
Ainda conforme o DIEESE, devido a essas perdas de postos de trabalho a taxa de subutilização chegou a 29,1%, no 2º trimestre de 2020. E essa mesma taxa, quando aplicada à mulher negra, alcançou os 40,5%. No que se refere aos homens negros, essa taxa chegou a 29,4%. Enquanto homens e mulheres não negros formaram percentuais de 19,1% e 26,4%, respectivamente.
O Boletim do DIEESE afirma, ainda, que a Medida Provisória 936 (Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda) “conseguiu garantir a manutenção de vínculos trabalhistas formais, mas, no caso dos homens negros, cerca de 1,4 milhão possuíam carteira assinada no 4º trimestre de 2019 e, no 2º trimestre de 2020, no meio da pandemia, já não mais”. Ressalta que a mesma quantidade de negros sem carteira assinada também ficou desocupada, assim como 1,2 milhão que trabalhavam por conta própria. Também perderam os empregos 887 mil trabalhadoras com carteira; 620 mil sem carteira; 886 mil trabalhadoras domésticas; e 875 mil trabalhadoras por conta própria.
Os dados contidos no Boletim do DIEESE só demonstram a confirmação do racismo estrutural existente na sociedade brasileira, que cotidianamente é revelado através dos números de encarcerados e encarceradas nos presídios; dos índices de mortes violentas e assassinatos, como o que recentemente vitimou João Alberto Silveira Freitas por seguranças do Carrefour; da violência policial dirigida aos corpos negros; da falta de condições dignas de educação, saúde e moradia; ou mesmo nos índices alarmantes de desemprego.
RENDIMENTOS MÉDIOS POR RAÇA/COR E SEXO
Fonte: IBGE, PnadC. Elaboração: DIEESE
Esses números cruéis demonstram, sobretudo, a inoperância do nosso Estado no sentido de adotar políticas públicas para eliminar o racismo, mazela que tantos danos causa, não somente à população negra, mas à sociedade brasileira em geral, a quem cabe exigir um Estado que adote medidas efetivas para eliminar tal mazela de nossa realidade.
Porque o extermínio da população negra não deveria continuar sendo a marca do Brasil.